Opinião

Números alarmantes

Diário da Manhã

Publicado em 20 de março de 2018 às 22:23 | Atualizado há 7 anos

260 anos: es­se é o tem­po que o Bra­sil vai de­mo­rar pa­ra atin­gir o ní­vel edu­ca­cio­nal de paí­ses de­sen­vol­vi­dos em lei­tu­ra. A de­fa­sa­gem é apon­ta­da em es­tu­do iné­di­to do Ban­co Mun­di­al, que es­ti­mou em 75 anos o tem­po de atra­so do alu­no bra­si­lei­ro em ma­te­má­ti­ca.

Pa­ra tra­çar es­te ce­ná­rio, o Re­la­tó­rio so­bre o De­sen­vol­vi­men­to Mun­di­al se ba­se­ou nos da­dos do Pi­sa, a ava­li­a­ção in­ter­na­ci­o­nal apli­ca­da pe­la Or­ga­ni­za­ção pa­ra a Co­o­pe­ra­ção e De­sen­vol­vi­men­to (OC­DE), que com­pa­ra o de­sem­pe­nho de ado­les­cen­tes de 15 anos em se­ten­ta paí­ses. O do­cu­men­to, de 239 pá­gi­nas, exa­mi­nou a edu­ca­ção em na­ções de­sen­vol­vi­das e em de­sen­vol­vi­men­to. Che­gou a al­gu­mas con­clu­sões que en­fa­ti­zam gar­ga­los co­nhe­ci­dos com nú­me­ros im­pres­sio­nan­tes.

A con­clu­são mais im­por­tan­te do do­cu­men­to é que há uma cri­se de apren­di­za­gem no mun­do to­do. 125 mi­lhões de cri­an­ças no pla­ne­ta es­tão nes­ta si­tu­a­ção: não ad­qui­ri­ram os co­nhe­ci­men­tos bá­si­cos de lei­tu­ra e de ma­te­má­ti­ca, mes­mo es­tan­do na es­co­la. Na Amé­ri­ca La­ti­na e Ca­ri­be, ape­nas 40% das cri­an­ças nos anos fi­nais do en­si­no fun­da­men­tal che­gam ao ní­vel con­si­de­ra­do mí­ni­mo de pro­fi­ci­ên­cia em Ma­te­má­ti­ca, en­quan­to na Eu­ro­pa e Ásia são 80%. O tex­to sis­te­ma­ti­za evi­dên­cias de su­ces­so em vá­rios paí­ses pa­ra tra­çar um pa­no­ra­ma da edu­ca­ção mun­di­al. A Co­reia do Sul e, mais re­cen­te­men­te, o Pe­ru e o Vi­et­nã são paí­ses ci­ta­dos co­mo al­guns que con­se­gui­ram avan­çar com re­for­mas e no­vas po­lí­ti­cas.

O Bra­sil pre­ci­sa, ur­gen­te­men­te, de um pla­no es­tra­té­gi­co de edu­ca­ção, on­de pre­va­le­ça, pri­mor­di­al­men­te, a va­lo­ri­za­ção do pro­fes­sor, me­lhor ges­tão das es­co­las e o in­ves­ti­men­to na pri­mei­ra in­fân­cia. Os jo­vens que al­me­jam a car­rei­ra de pro­fes­sor ti­ram no­ta abai­xo da mé­dia do Pi­sa. É pri­mor­di­al atra­ir me­lho­res pro­fis­si­o­nais pa­ra o ma­gis­té­rio. Em Cin­ga­pu­ra, Fin­lân­dia e Ja­pão, on­de o pres­tí­gio da car­rei­ra é gran­de, o de­sem­pe­nho dos alu­nos é ele­va­do.

O re­la­tó­rio apon­ta ca­mi­nhos pa­ra a vi­ra­da. Um de­les, cer­ta­men­te en­tre os mais emer­gen­ci­ais, é in­ves­tir na cri­an­ça des­de o iní­cio da vi­da, fa­se em que o cé­re­bro es­tá em fre­né­ti­ca ati­vi­da­de, for­man­do as ba­ses pa­ra o fu­tu­ro. Vi­zi­nho do Bra­sil, o Chi­le tem um bom exem­plo: há uma dé­ca­da es­ta­be­le­ceu-se um pro­gra­ma que acom­pa­nha a cri­an­ça do úte­ro aos no­ve anos, do pré-na­tal da mãe à sa­ú­de e à vi­da es­co­lar da cri­an­ça. Não po­de­mos es­pe­rar 260 anos.

 

(Ar­nal­do Niski­er, da Aca­de­mia Bra­si­lei­ra de Le­tras, pre­si­den­te do CI­EE/RJ e dou­tor Ho­no­ris Cau­sa da Una­ma)


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