O desejo da vontade
Diário da Manhã
Publicado em 4 de fevereiro de 2016 às 23:35 | Atualizado há 9 anosO conhecimento liberta e salva o homem, mas os desejos da vontade o escravizam, pois eles são quase sempre cegos e ilimitados.
Não se pode negar, em hipótese alguma, que o homem possui a vontade, mas é possível afirmar que o indivíduo não precisa ser o seu escravo. Submeter-se fielmente aos desejos da vontade, significa aceitar ser dirigido por um senhor dominador e impiedoso, cujo destino é, no mínimo, a ilusão, pois os desejos da vontade não conhecem limites e suas exigências são inesgotáveis: cada desejo realizado gera um novo desejo. Os desejos ilimitados da vontade corrompe o intelecto e se transforma no seu inimigo secreto; para o escravo dos desejos da vontade, a estabilidade é algo inalcançável, pois tudo se transforma em uma mudança constante e confusa, cujo objetivo é alimentar a sua inesgotável ilusão. Contra a escravidão dos de sejos da vontade, o indivíduo deve buscar o conhecimento, pois este significa libertação e salvação: os desejos da vontade não escraviza o indivíduo que possuía uma ideia clara sobre eles.
Portanto, para que cada um controle os desejos da sua vontade e não seja controlado por eles, é necessário um esforço no sentido de preservar o seu próprio ser, isso só é possível através do conhecimento, mas é importante dizer que a busca do conhecimento deve ser persistente e habitual para que a libertação seja constante. Fica evidente, nesse sentido, que o conhecimento que salva e liberta o indivíduo da tirania dos desejos da vontade, exige esforço, se ele estivesse facilmente disponível e pudesse ser alcançado sem grande esforço, talvez ele não estaria ausente para muitas pessoas; assim como tudo o que é excelente, o conhecimento é raro e difícil de alcançar, por isso, muitos preferem submeter-se aos desejos da vontade do que viver livre através do conhecimento, preferem a ilusão proporcionada pela tirania dos desejos da vontade do que a clareza da realidade proporcionada pelo conhecimento.
(José João Neves Barbosa Vicente, filósofo, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e editor da Griot – Revista de Filosofia)