O elegante banco de Elisinha e Walther Moreira Salles
Diário da Manhã
Publicado em 25 de fevereiro de 2018 às 01:23 | Atualizado há 7 anos
Quando a sempre elegante e exigente Elisinha Gonçalves foi casar com o muito charmoso e importante banqueiro Wather Moreira Salles – o grande mogul da imprensa brasileira – Assis Chateaubriand – morria de ciúmes dele. Pois sabia que seu pessoal amigo era estrela cadente no universo financeiro nacional e internacional.
Não foi à toa que o ultra charmoso e brilhante jornalista Samuel Wainer aproximou-se também de Moreira Salles. Eles se conheciam do “Vogue” – que era a mais sensacional boate da então fervilhante Capital da República. Getúlio Vargas vendo todo o empenho de Samuel Wainer em sua trepidante campanha de retorno ao Catete. Chamando-o carinhosamente de “Profeta” – apelido dado a Samuel desde o Monroe – onde atuava como setorista no Senado Federal. Aliás foi ele – o bravo, lindo e brilhante jornalista Samuel Wainer que fez uma estarrecedora entrevista com o recluso Senador Vargas – licenciado e enterrado no seu seminal Pampas – quando Samuel furou o bloqueio conseguindo uma inédita e bombástica entrevista – “eu voltarei não para as elites – mas como líder das massas” – publicada em todos os jornais dos “Diários Associados” do grande portento Assis Chateaubriand…
Numa noite amena de verão – após a feérica reentronização de Vargas no Catete – o muito escrupuloso Presidente da Republica -depois de um espartano jantar– como era do seu feitio – no Rio Negro – palácio de verão em Petrópolis. Getúlio sugeriu: “Profeta – por que tu não fazes um jornal???…Fales com Alzira ela ti orientará como deves fazer”. Nascia exatamente ali a “Última Hora”. O maior e mais importante jornal que o Brasil já teve – em todos os tempos.
Não houve nada de errado aí pois Vargas sinalizou a Samuel a ardilosa e super severa e única filha – Alzira Vargas – Senhora Almirante Ernâni do Amaral Peixoto -Interventor do Rio de Janeiro à época – que orientasse Samuel na efetivação do seu jornal sem ferir os trâmites oficiais. Assim foi feito. Moreira Salles apoiou o jornal emprestando uma vultuosa quantia…
O jornal incomodou tanto pelo iminente sucesso que fazia – que entrou como considerada cota na pesarosa hora final de Getúlio Vargas. Moreira Salles fez questão de cobrar tudo que foi emprestado de Samuel durante o ruidoso IPI aberto para apurar distorções na imprensa … E ainda saiu no lucro com o importante e reluzente cargo de Embaixador do Brasil no Estados Unidos – que pediu a Samuel que intercedesse junto a Getúlio – que o atendeu de bom grado – pelo notável desempenho de Wainer que levou Getúlio de volta as imponentes escadarias do Catete… Aliás, não houve no Brasil um jornalista grandioso como Samuel Wainer que sofreu um calvário para fazer uma boa e sempre inovadora imprensa brasileira. Cruelmente penalizado pelo despeito e inveja do antigos barões da imprensa…
A coisa era tão feia, mas tão feia – que a linda Danuza Leão – sua segunda mulher mãe de seus três lindos e importantes filhos. Numa enquete de Natal feito para uma revista da época com várias mulheres elegantes do Rio de Janeiro. Quando perguntaram a bela Danuza o que ela ofertaria a Samuel pela cristã ocasião: quando – ela disse na lata – uma impressora nova! Voltando ao super icônico Walther Moreira Salles – mandou construir para sua amada a bela mansão da Gávea – em projeto ultra modernista – onde hoje funciona o Instituto Moreira Salles – no Rio de Janeiro.
Naquele pequeno paraíso Whalter abrigou sua muito culta e sofisticada Elisa Margarida Viana Gonçalves juntamente com seus três filhos: os cineastas Whaltinho e João. Pedro – na alta direção do muito polido e sólido “Itaú/Unibanco” e Fernando – editor – filho da sua primeira e também sofisticada mulher a francesa – Helene Tourtois – depois Senhora Ermilino Matarazzo – que recebiam majestosamente em sua mansão do Morumbi – que foi incorporada pelo poderoso e também sofisticado banqueiro Joseph Safra – pela bagatela de $ 8,5 milhões cash – a maior transação imobiliária da época. Elisinha e Walther viviam como Reis. Seu fiel mordomo Santiago – protagonista do premiadíssimo documentário do muito humilde e eleganterrimo – João Moreira Salles. Também editor da muito apreciada revista Piauí. Santiago a propósito – era culto – elegante e tão devotado à mitológica família – que seus generosos e reconhecidos patrões mandaram confeccionar em ouro maciço com as iniciais “EW” – os reluzentes botões de sua bem cortada casaca. Amiga muito próxima de Glorinha Sued viajavam sempre juntas para os grandes bailes “benefits”da época. Em Mônaco – da Cruz Vermelha – o “Baile Rosa” tendo como anfitriões – Suas Altezas Sereníssimas – Grace e Rainier III e o também celebrado – “Le Lis Blanc”. Em Paris e outros cantos da Europa. De Antenor Patino, no Algarve. A Marie Helene de Rotschild, do Barão Alixis de Rede – da Marquesa Jacqueline de Ribes, passando pelos poderosos Marajás de Baroda e de Capurtala e por aí vai. Como fiéis à tradição mineira – mulher de bem não viajava sozinha. Ou vai com o marido ou com uma amiga de criteriosa reputação. Uma vez estava no Rio – oito de Dezembro de 1995 – o Ibrahim havia morrido a pouco tempo – estava hospedado no hoje sempre luxuoso Sofitel Ipanema – me ligou se queria ir com ela a Petrópolis – dizendo que sua filha Isabel Sued Perrin – havia emprestado o carro com o motorista e que às 17 horas passaria no hotel para me apanhar – para inauguração do Centro Cultural Princesa Isabel – com Dom Pedro Gastão de Orleans e Bragança – seu bisneto recebendo e tudo mais…Quando me aparece a sempre austera e justa Glorinha Sued com uma piedosa e insuspeita beata a bordo…Foi muito salutar pois fomos cantando hinos religiosos católicos – naturalmente – na ida e na volta.
Os lindos e eleganterrimos casais Moreira Salles e Sued eram unha e cutícula. Se davam muitíssimo bem. Eram três tradicionais mineiros boa cepa. Menos o Ibrahim – carioca – com sua sofisticação e elegância libanesa de Zahle. Jantavam todo domingo em mesa cativa no Le Bec Fin – no Lido. Iam constantemente a bela fazenda dos Moreira Salles em Rio Claro quando os eleganterrimos e generosos anfitriões disponibizavam seu jatinho para os velhos e muito queridos amigos Sued. Quando Elisinha Moreira Salles chegava a Paris para as coleções de alta costura era um Deus nos acuda. Os costureiros como Saint Laurent, Givenchy, Chanel, Valentino e o “rei” de todos – Balenciaga – caiam literalmente aos pés da consagrada socialite brasileira – que além de extremamente bem educada tinha uma vasta cultura de encher olhos. Merecidamente eleita para o “Hall of Fame” – das mais elegantes do mundo da criteriosissima Eleanor Lambert. Amiga próxima da Duquesa de Windsor, Nancy Reagan, Jacqueline Kennedy Onassis e de sua irmã Lee. Sua jóias e quadros eram impactantes. Foi o muito o sensível Walther Moreira Salles incentivador e grande cliente da célebre bordadeira mineira de BH – Lygia Mattos -que a projetou internacionalmente. Logo no início de carreira recebo um delicado cartãozinho by Paul Nathan assinado do seu próprio punho quando ainda tinha escritório no Russel, ali ao lado da extinta “Manchete”, no Rio – que guardo como precioso troféu. Faço questão de cultivar amizade com a eleganterrima Therezinha Noronha – cujo saudoso marido Hildegardo Noronha – era braço direito e esquerdo do sempre correto Embaixador Walther Moreira Salles. O vi algumas vezes no Anexo do Copa, onde estava hospedado enquanto terminava a reforma da cobertura – ali próximo, no Golden Gate. Quando a poderosa “publisher “ do “Washington Post” Catherine Granham – tema de filme agora – esteve no Brasil, nos anos 90 – Moreira Salles fez questão de oferecer-lhe um magnífico jantar. O novo e modernesimo Instituto Moreira Salles, na Paulista, quase com Consolação – um portento. Mais de 10 andares. Tudo franqueado com gente cinco estrelas para receber. Aliás ali tudo é impecável assim como o seu convidativo banco com destaque para o “Personalite” – onde tudo e perfeito alinhado e sobretudo -eficiente – que você jura que a qualquer momento vão surgir ali de mãos dadas – reencarnados – entrando porta a dentro – as emblemáticas figuras dos seus gentis e muito inesquecíveis donos – Elisinha e Walther Moreira Salles.
(Jota Mape, jornalista. jma[email protected])