O golpe civil de 2016 e a corrupção
Diário da Manhã
Publicado em 22 de junho de 2017 às 22:34 | Atualizado há 8 anos
A 23 de dezembro de 2015 escrevi:
“O atual presidente nacional do Partido (referia-me ao PMDB), Michel Temer, é o retrato nítido da falta de conteúdo ideológico, de espírito de luta, de coerência, de princípios programáticos da agremiação política maior combatente contra os governos ditatórias presididos por generais de 4 estrelas. É o antípoda de Ulisses Guimarães. E se se tornou vice-presidente da República o fato se explica por várias razões. Com a sua crescente descaracterização, o PMDB, desde a derrota de Ulisses Guimarães, em 1990, com apenas 3% da votação geral na disputa pela Presidência da República; e de Anthony Garotinho, terceiro colocado em 2002, não mais teve condições de candidatura própria, passando a mero coadjuvante. Apoiou Lula em 2006. Fez aliança com PT em 2010 e 2014, ganhando a Vice-Presidência da República, com Dilma Rousseff na Presidência. Foi assim, portanto, que Michel Temer se tornou vice-presidente. Nome eleitoralmente fraco, inteiramente destituído de carisma, elegeu-se na garupa, já que não se vota individualmente em vice. Se ele, Michel Temer, disputasse qualquer cargo majoritário diretamente jamais se elegeria. Suas credenciais para disputa eleitoral não passam de eleição proporcional, mesmo assim com números inexpressivos.
“Aconteceu que a atual crise política que domina o noticiário nacional veio a gerar ensejo, perante Michel Temer, à ilusória perspectiva de se tornar Presidente da República, já que o substituto constitucional da Presidente é ele.
“Ao impulso dessa suposta perspectiva e dessa consequente ambição, Temer passou para as fileiras anti-Dilma Rousseff. Suas manifestações por efeito desse impulso têm sido deploráveis.”
Isso foi em dezembro de 2015, conforme já visto. Aconteceu que não era ilusória a perspectiva de Temer se tornar presidente. O golpe civil de 2016 foi extremamente bem planejado e executado. E a anatomia dele demonstra que Michel Temer foi um dos principais elementos, como seria e veio a ser pessoalmente o maior beneficiário do golpe, a este se integrou de modo traiçoeiro e vil.
Na presidência golpista, de imediato se tornou evidente a absoluta falta de escrúpulos de Temer. O ministério que ele nomeou tinha no mínimo sete investigados da Lava Jato. Alguns dos seus principais aliados, como Eduardo Cunha foram parar na prisão. Ele próprio, Michel Temer, é gravissimamente delatado. Há sete dias foi qualificado por Joesley Batista como “líder da maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil”. Dias antes esse mesmo delator revelou uma gravação em que Temer aparece como protetor de Eduardo Cunha. Também nos últimos dias ocorreu a revelação de recebimento de propina por parte de Rocha Loures um parlamentar pertencente ao esquema do presidente. Assim, Michel Temer se vê a cada dia desmascarado como um dos mais inescrupulosos fautores do golpe civil de 2016.
Em meio à atuarda causada pela delação de Joesley Batista, o ilegítimo presidente inventou uma viagem à Rússia. É uma forma de desviar a atenção da opinião pública. Mas não consegue esse desvio de atenção. As revelações do delator assumiram as proporções de fato mais importante no quadro político nacional, não há como Temer fugir da realidade.
(Eurico Barbosa, escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às quartas e sextas-feiras – E-mail: eurico_barbosa@hotmail.com)