O jardim dos desavisados
Redação DM
Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 23:53 | Atualizado há 7 anosQuando não contemplamos as situações de vista com distanciamento ficamos presos na teia dos emaranhamentos. Se não controlamos os pensamentos que nos levam a agir como agimos, somos como cegos dirigindo um veículo em intenso tráfego urbano: sem saber de onde viemos, para onde estamos indo, e onde queremos chegar. O resultado deste movimento cego não pode deixar de ser um desastre anunciado.
Todos querem fazer cruzeiros pelo mundo novo e o antigo, mas poucos fazem o mínimo esforço para dar pequenos mergulhos para dentro de si mesmos. Talvez as miragens que nos levam à ânsia de usufruir de paisagens maravilhosas venha do trivial variado do ego a querer fazer baldeações em torno de si mesmo. Isto porque ele (o ego) não sabe nem pode saber que a mais alta realização vem da vontade ardente de construir em nós alguém melhor do que nós mesmos.
Tudo o que fazemos no erro traz como resultado uma errância inevitável. É o caso das pessoas destemperadas (ou sem tempero) que adoçam a pílula definindo-se como temperamentais. A ausência de têmpera (ou de equilíbrio) de seu comportamento vem do fato de reagirem em desarmonia com a dança da vida. Pessoas assim são evitadas pelos que se querem na posse de uma paz conquistada. Ao nos enredarmos na atmosfera perigosa das emoções tóxicas pensamentos ser verdade o que é fantasia da mente escrava de desejos inferiores. E vamos colhendo o desespero que plantamos diariamente, na ciranda do auto engano.
Se ao menos soubéssemos que o desespero é o último e o pior dentre os erros! A solidão dos desesperados é péssima companheira. Por isto é prudente não falar nem agir em meio a tempestades emocionais – deixar que passem o ruído e o furor, para só depois contemplar com serenidade a situação de vida em que estamos envolvidos. Convém deixar passar a turbulência, para termos uma visão clara do caminho a seguir. Talvez este simples cuidado essencial tenha o poder de nos salvar de grandes desastres existenciais. Pois viver só é perigoso quando somos eternos incautos no jardim dos desavisados.
(Brasigóis Felício, escritor e jornalista. Ocupa a cadeira 25 da Academia Goiana de Letras)