O joio e o trigo
Redação DM
Publicado em 5 de abril de 2017 às 02:33 | Atualizado há 8 anos
A Operação Lava Jato, que completou recentemente três anos, sem dúvida já ficou marcada na história do país e tem apoio que ultrapassa 80% da população, segundo pesquisas recentes. Esse apoio, que também é sentido nas ruas, demonstra que o brasileiro quer, de uma vez por todas, se ver livre das incorreções na política e na sociedade, e consegue enxergar que boa parte das mazelas do dia a dia poderiam ser solucionadas se não houvesse mau uso do dinheiro público e relações espúrias entre grupos econômicos e o poder.
Dito isso, é preciso esclarecer que, neste momento em que o cidadão, corretamente, espera se livrar das incorreções tão entranhadas em nossa sociedade, devemos saber separar o joio do trigo. O fato de existirem agentes políticos e econômicos que se corrompem, não significa que a prática política deve ser exterminada, mas sim aperfeiçoada, pois é a democracia, com participação do povo, mas também com representação, o único sistema capaz de atender os desejos e demandas da sociedade. É assim em qualquer lugar, e os melhores exemplos que temos no mundo, as sociedades mais sadias do ponto de vista de igualdade social, qualidade de vida, acesso a serviços públicos, são democráticas.
Nem um cidadão sério e correto neste país é contrário a ações da polícia e da Justiça que visem melhorar a sociedade em que vivemos, mas precisamos repetir o óbvio: os erros devem ser apontados e corrigidos, os responsáveis punidos, mas não se coloca em um mesmo saco os culpados e os inocentes e não devemos desestabilizar a economia e a política para que haja punição dos malfeitos de alguns. Tanto quanto é importante apontar erros, precisamos preservar as muitas pessoas sérias que trabalham por um país melhor, e garantir o direito à defesa a todos que se sentirem injustiçados pelas ações policiais. Esse também é um preceito básico nas democracias maduras.
Considero que a mais recente operação da Polícia Federal, a Carne Fraca, pode colaborar para evitar fraudes neste importante setor da nossa economia, que é a produção de proteína animal. No entanto, como bem lembrou, há alguns dias, o nosso ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o país possui quase 5 mil frigoríficos e matadouros, 21 deles são citados na investigação como suspeitos de irregularidades, três com indícios um pouco mais sólidos. Não é sensato, portanto, que coloquemos todos esses estabelecimentos sob suspeição, assim como uma cadeia produtiva que emprega mais de 7 milhões de pessoas no país e movimenta cerca de R$ 180 bilhões.
A própria Polícia Federal, depois da divulgação um tanto quanto exagerada da operação, fez questão de destacar em nota que as ilegalidades apuradas são pontuais e que o Sistema de Inspeção Federal (SIF) da carne brasileira é confiável, e já foi auditado por vários países que importam o nosso produto e atestaram sua qualidade. Mas, infelizmente, o país já está sentindo dessa superexposição de um caso que, ao que tudo indica, foi de fato isolado e pontual.
Destaquei recentemente na Câmara dos Deputados, o quanto o agronegócio é importante e estratégico para o país, sobretudo em tempos de crise como a que estamos vivendo. Agora esperamos que o nosso governo tenha capacidade de corrigir a tempo os mal-entendidos que fizeram com que o mundo encarasse a Operação Carne Fraca algo muito maior do que de fato parece ser, e que os prejuízos sejam minimizados. Do contrário, todo o esforço feito nos últimos meses pela recuperação econômica pode ir pelo ralo.
Mais uma vez, fica a lição de que não podemos retroceder no combate aos deslizes e à corrupção no nosso país. Ao mesmo tempo, isso deve ser feito com cuidado e com responsabilidade, para que no fim, ainda tenhamos uma sociedade capaz de colher os frutos desse momento de limpeza pelo qual as nossas instituições e empresas passam.
(Roberto Balestra é deputado federal pelo Partido Progressista)