O Jóquei Clube e o Clube dos Pretos
Diário da Manhã
Publicado em 6 de julho de 2017 às 00:42 | Atualizado há 8 anos
Havia, na minha querida Jataí, dois clubes. O dos brancos, outro dos negros. Aquele se denominava “Jóquei Clube” ou “Jóquei Club” e situava-se no principal cruzamento da cidade, Avenida Goiás com Avenida Brasil. Os ricos – ou tidos como tais – as madames, os chiques e os remediados, geralmente brancos, dançavam sob seu teto. Nele se cumpriam festas de formatura do técnico de contabilidade ou de conclusão do ginasial, convenções de partidos políticos, como a de 1965, do PSD que ali mandava e desmandava sob o comando do Dr. Serafim, para a escolha dos candidatos a prefeito e vice-prefeito. O PSD se fracionara entre Serafim e o prefeito Cyllenêo França. Este ganhou, mas os serafinistas criaram o PTN e lançaram César de Almeida para prefeito e Aristeu Bernardes Filho para vice-prefeito. A eleição se feriu dia 3 de outubro daquele ano e Serafim de Carvalho triunfou. Pela sexta vez consecutiva ele escolheu o prefeito apiário. O grupo Cyllenêo França disputou, pelo PSD, com a chapa Epaminondas Cunha e Jerônimo Maia( o vereador mais votado da época). Essa foi a primeira eleição para o Executivo jataiense com mais de dois concorrentes. A UDN ficou em segundo lugar com a dupla Sebastião Herculano e Sinval Barros Melo.
O então presidenciável Juscelino Kubitschek de Oliveira, do PSD, no dia 4 de abril de 1955, esteve no Jóquei para participar do banquete a ele oferecido depois do encontro que tivera com o povo na garagem da Studebaker, a poucos metros dali, quando inaugurou sua campanha vitoriosa rumo ao Catete. Nesse banquete se achava o hoje meu colega aposentado no Fisco estadual e amigo Antônio Soares Neto, o Toniquinho, que naquela época vendia seguros e era fiel correligionário do Dr. Serafim. Ele e Juscelino se abraçaram. Natural que o fizessem, pois Toniquinho, no comício na referida garagem, lhe indagara se mudaria a capital da República para o Planalto Central, como determinava a Carta de 1946.
O segundo se intitulava “Treze de Maio”, mas era conhecido por “Clube dos Pretos” porque assim impunha o vil preconceito. Ele se erguia na área onde se acha a Câmara Municipal ou na praça Clodoaldo Rezende(alcunhada praça do Lambari). Que me perdoem meus conterrâneos, pois moro em Rio Verde desde 1973 e depois do óbito da minha mãe, no ano de 2008( papai já falecera em 1989), quase não vou ao meu amado berço. Por isso tenho dúvidas quanto ao lugar do “Treze de Maio”. Sei que Prefeitura demoliu sua sede e pelo que me consta outra não existe. A sede do velho “Jóquei”, no fim anos sessentas ou abertura anos setentas, atirado foi ao chão e levantaram outro, bem maior, muito maior, muito diferente do antigo. Em frente a este havia grande área calçada e sem cobertura e na divisas com os passeios, muro de pequena altura com colunas usadas por bancos nas horas dos vaivéns pela Goiás. Nesses vaivéns, namoros se iniciavam. No cruzamento dessa avenida com a Rui Barbosa, o edifício “Imperador”, que acolhia o cinema de nome igual, o principal da “Cidade Abelha”. No outro alinhamento e em lugar de menor movimento, o “Cine Avenida”.
Tudo, no edifício “Imperador”(dois pavimentos) tinha esse nome: uma banca de revistas(na Rui Barbosa), um movimentado bar, uma barbearia e o dito cinema.
(Filaldelfo Borges de Lima, sócio-fundador da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios; aposentado no Fisco Estadual, natural de Jataí, desde 1973 reside em Rio Verde)