O legado literário de Benedito Odilon Rocha
Redação DM
Publicado em 30 de abril de 2016 às 01:14 | Atualizado há 9 anosNa primeira quinzena de abril, deste ano, o poeta, prosador e compositor Benedito Odilon Rocha foi alvo de excelsas homenagens por ocasião de seu quase centenário de nascimento. Dia 8, o lançamento, na ‘Maison Florence’, de sua obra ‘Memórias de Rocha’; dia 14, na AGL – Academia Goiana de Letras, palestra do acadêmico Hélio Rocha, em homenagem ao glorioso Centenário de vida de seu ilustre genitor, palestra ilustrada pela veiculação de um filme sobre a vida e a obra do grande escritor, também membro de nossa Academia, como o ilustre filho. Também apresentação da peça ‘Coisas do Benedito’, sob a direção de Almir de Amorim, e sinopse de obras do escritor, extraída do poema ‘Monjolo’ e dos contos ‘A Enchente’ e ‘A Filha’ intitulada ‘Maria Clara’; exibição do curta ‘Floração da Caraíba’, roteiro de Cássia Fernandes. Por fim, apresentação da ‘Corporação Musical 13 de Maio’, Banda em atividade há 125 anos, na cidade de Corumbá de Goiás.
Hélio Rocha, filho e confrade de Benedito Odilon Rocha, registra, em ‘Com a música e a poesia na alma’, à guisa de introdução:
“Amigo e vizinho de Bernardo Élis na infância, Benedito Odilon Rocha ingressou, também, na área da ficção, mas o peso da poesia predominou na sua literatura. Também músico, compositor e instrumentista de clarinete e saxofone, envolveu-se, profundamente, com essas artes.” Ainda nos verdes anos, foi estudar, interno, no Colégio Anchieta, de Silvânia, “num período em que dividiu fortíssima dor com a mãe Eudóxia das Dores Rocha, pois perdeu o pai, o comerciante Francisco da Silva Rocha, e a irmã que estava com apenas 13 anos, Aparecida”. Ali, “pertenceu à primeira turma de alunos desse famoso educandário salesiano criado por iniciativa do Arcebispo Dom Emmanuel Gomes de Oliveira”. Foi naquele educandário que teria sua iniciação no Jornalismo, “pois foi um dos três fundadores do jornal ‘Voz Juvenil”, que se tornou um modelo de publicação promovida por estudante, e onde “aprendeu a lidar com a música e com o teatro”.
Mais tarde, iria “retomar os estudos em Goiânia, fazendo Direito na antiga Faculdade da Rua 20. Mas, retornando a Corumbá, casou-se com Ana Vale Rocha, com quem teve nove filho, e passou pela experiência político-administrativa de ser prefeito”, mas não deixaria a música. “Muitas vezes, acabava de fazer um discurso, em alguma solenidade, pegava a clarineta, e iria se juntar aos músicos da Banda de Música 13 de Maio.”
Venceu vários concursos de poesia e contos, “o mais importante dos quais fez parte de um significativo congresso internacional de escritores realizado em Goiânia, fevereiro de 1954, com a participação de escritores brasileiros e de outros países”, como Jorge Amado, e José Lins do Rego, e o poeta chileno Pa-blo Neruda. O poema vitorioso foi “A Caraíba”, designação indígena para o ipê amarelo:
“Ao vê-lo, galhos secos, angulosa / perdida num recanto do Cerrado / Tronco encoberto em casca suberosa,/ e a folhagem de um verde descorado/, certo o botânico, o naturalista / por ela não dariam quase nada/ (Talvez nem mesmo conste em sua lista / um nome para essa árvore enfezada).”
“No entanto, mal o mês de agosto vindo / Ei-la vestida em gala suntuosa / Toda de ouro, solene, majestosa / – u-a mancha amarela colorindo / a paisagem monótona dos campos.”
“Fala o poeta: /- Que arbusto lindo! / aquele ao longe, transbordado em flor! / E o roceiro, entendido na matéria: / – Aquela é a caraíba, seu dotô”…
Benedito Odilon Rocha foi Secretário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, mais tarde célula da Universidade Católica de Goiás, hoje Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Eleito para a Academia Goiana de Letras, foi empossado no mês de maio de 1990, e faleceu a 2 de maio daquele ano, de infarto fulminante.
Sua herança literária compreende: 1. ‘Diários’, Lembranças de uma Vida; 2. ‘Poesia’, dezenas de poemas; 3. ‘Em Prosa’, uma dezena de textos bem construídos; 4. ‘Artigos’, outra dezena de textos bem talhados; 5. ‘Música’: 14 composições, destacando-se o hino de Corumbá, o hino do município de Corumbá de Goiás, o hino da Fundação Educandário Municipal de Anápolis, o hino do Centenário da ‘Banda 13 de Maio’, o hino ao Coração de Maria, ‘Recordação de Silvânia’, o ‘Passo do Gergelim’, ‘Brotinho’, ‘Galopes’ de 1 a 9, e dentre as poesias, ‘Pórtico’, ‘Garotas’, ‘A Retreta’, ‘A Mulher da Arara’, ‘A Grota’, ‘Cachoeira Dourada’, ‘Responso’, ‘Fartura’,’Amor e Amizade’, ‘O Retrato’, ‘Gotas de Orvalho’, ‘Primeira Chuva’, ‘Serenata’, ‘Carro de Bois’, ‘A Cruz da Estrada’, ‘Festa Junina’, ‘Primavera’, ‘Vagalume’, ‘O Marinheiro’, ‘Metrópole do Oeste’, ‘O Reinado’, ‘Reencontro’, ‘Eucaristia’, ‘Levita’, ‘Pinguela’, ‘A Uma Orgulhosa’. No tópico ‘Prosa’, ‘A Rosa de Jericó’, ‘O Álibi’, ‘Boitatá’. Dentre os ‘Artigos’, destaquem-se: ‘De Tarcício a Garrincha’, ‘De Anápolis ao Tocantins I e II’, ‘Operários da Pátria’, ‘Um Instantâneo da Pátria’; além das composições musicais, já enunciadas.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])