Opinião

O maior milagre

Redação DM

Publicado em 7 de janeiro de 2017 às 01:42 | Atualizado há 8 anos

Jesus curou cegos, surdos, mudos e paralíticos. Tratando-as como se apenas dormissem, ressuscitou três pessoas tidas como mortas. Duas vezes multiplicou pães e peixes. Nas bodas de Caná, transformou água em vinho. Caminhou sobre as ondas. O mar e o vento o obedeceram quando ele determinou que cessassem a tempestade. Seis vezes expulsou demônios, livrando suas vítimas dos sofrimentos da obsessão. Quem contar nos quatro Evangelhos, verificará que ele fez 31 milagres ou realizações impossíveis de serem explicadas pelas leis naturais conhecidas no seu tempo.

Pergunta: qual foi o maior dos seus milagres?

Allan Kardec, em  A Gênese – os milagres e as predições, a quinta obra básica do Espiritismo, considera o maior dos milagres de Jesus, aquele que verdadeiramente atesta sua missão divina, a revolução que seus ensinamentos operaram no mundo, apesar da exigüidade dos seus meios de ação. São suas palavras textuais:

“Com efeito, Jesus, obscuro, pobre, nascido na condição mais humilde, entre um pequeno povo quase ignorado e sem preponderância política, artística ou literária, não pregou senão três anos. Durante esse curto espaço de tempo, é desconhecido e perseguido pelos seus concidadãos, caluniado, tratado de impostor. É obrigado a fugir para não ser lapidado. É traído por um dos seus apóstolos, renegado por outro, abandonado por todos no momento em que caiu nas mãos de seus inimigos. Não fazia senão o bem e isso não o colocava ao abrigo da malevolência, que voltava contra ele os próprios serviços que prestava. Condenado ao suplício reservado aos piores criminosos, morre ignorado pelo mundo, porque a história contemporânea se cala a seu respeito. Ele não escreveu nada e, entretanto, ajudado por alguns homens obscuros como ele, a sua palavra bastou para regenerar o mundo. A sua doutrina matou o paganismo todo- poderoso e se tornou a chama da civilização.

Jesus tinha, pois, contra ele, tudo o que pode fazer os homens fracassarem, por isso é que dizemos que o triunfo da sua doutrina é o maior dos seus milagres, ao mesmo tempo que ela prova a sua missão divina”.

Eis uma grande verdade. Não fosse enviado de Deus, dentro dos valores humanos, tinha tudo para dar errado. Às vésperas de chegar à Terra, não havia lugar para ele nem numa pensão de beira da estrada, daí porque nasceu num estábulo, único abrigo que seus pais conseguiram, a caminho de Nazaré para Belém, onde seriam recenseados. Em tenra idade, o rei decretou-lhe a morte, matando todas as crianças de até dois anos para que, no meio delas, ele estivesse. Contra ele sempre estiveram os poderes político, econômico, religioso e militar. Três vezes tentaram apedrejá-lo até a morte.

Se traçarmos uma linha no mapa ligando as cidades e aldeias por onde passou proclamando a Boa Nova, veremos que seu caminho não excede a 200 quilômetros, quando só o equador terrestre mede 40 mil quilômetros, inundados pela sua doutrina sublime de amor e de perdão.

A crucifixão era a mais cruel das penas, pois o condenado, submetido a padecimentos terríveis, morria devagarinho. Os modernos historiadores estimam que, na Judéia, com população de um milhão de habitantes, dois mil criminosos eram crucificados por ano.

Nenhum historiador do seu tempo percebeu a presença do Cristo – Filão, o Judeu; Flávio Josefo, Tácito, Suetônio e Plínio, o Jovem. – e hoje qualquer adolescente, ainda no começo dos estudos, já sabe que ele dividiu a História no meio: a.C. ou antes de Cristo, e d.C. ou depois de Cristo.

Mesmo nada havendo escrito, suas palavras, que o vento levou, revelam-se imortais e, cada vez mais, são atuais e mais necessárias à humanidade. Tudo que sabemos dele foi escrito por mortais falíveis como nós, daí porque existiam, no quarto século, de 40 a 60 evangelhos que, no Concílio de Nicéia, Turquia, no ano 325, foram reduzidos a quatro, os que nos chegaram, de Mateus, Marcos, Lucas e João. As contradições e a moral estranha que apresentam em alguns momentos – atribuindo a Jesus, por exemplo, frases como “se alguém vier a mim e não odiar a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e, até mesmo, sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Lucas, 14;25) – evidentemente são resultado de falhas humanas, porque a Bíblia já passou por aproximadamente três mil traduções e versões.

Em O Consolador, Emmanuel e Francisco Cândido Xavier explicam que Jesus não foi um filósofo nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos da sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades planetárias. Enviado de Deus, representou o Pai junto ao rebanho dos filhos transviados do Seu amor e da Sua sabedoria, cuja tutela lhe foi confiada nas ordenações sagradas da vida no Infinito. Por isso, sobre ele consta no Evangelho de João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade” (João, 1;14).

 

(Jávier Godinho, jornalista)

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