Opinião

O mal domínio de classe

Redação DM

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 04:45 | Atualizado há 7 anos

“O céu não me quer, mas o in­fer­no te­me o meu do­mí­nio”.

Cris­ti­na Wright

 

Eu já des­con­fi­a­va do por­quê da in­fun­cio­na­li­da­de das ino­va­ções na edu­ca­ção; pois, a men­ti­ra tem per­nas cur­tas. E a edu­ca­ção pre­ci­sa das so­lu­ções du­ra­do­ras, bem ali­cer­ça­das. Há um in­te­res­se ego­ís­ta e po­li­ti­quei­ro em tu­do de no­vo que che­ga por aqui. Por is­so di­go ver­da­des atem­po­ra­is, e nun­ca me im­por­to em ter o res­pei­to de co­le­ga al­gum, que­ro vê-los sen­tir um mis­to de des­gos­to e ódio pro­vo­ca­do pe­lo seu fra­cas­so e ven­do mi­nha vi­da de exem­plo e co­ra­gem.

Qual ex-alu­no vol­tou à es­co­la pa­ra vi­si­tar, por sa­u­da­des, o pro­fes­sor re­pres­sor e ad­mi­nis­tra­dor do mai­or do­mí­nio de clas­se, qua­se sem­pre são eles os rí­gi­dos e des­res­pei­to­sos, dos im­pul­sos na­tu­ra­is e do rit­mo de apren­di­za­gem do alu­no só pe­lo o ca­pri­cho de pa­re­cer bem a co­or­de­na­do­res de dis­ci­pli­na!  Po­rém, que­rem me for­çar a is­so. Ado­e­ci, e co­or­de­na­dor al­gum foi me vi­si­tar! Ali­ás eles li­gam pa­ra sa­ber se mi­nhas fal­tas es­tão abo­na­das pe­la jun­ta mé­di­ca.  No en­tan­to, te­nho mui­tos ex-alu­nos que ain­da vêm à es­co­la a fim de me ver. A in­ve­ja, o des­pei­to e o ci­ú­me pro­vo­cam a cu­ri­o­si­da­de dos de­mais, por is­so al­guns co­le­gas tam­bém vol­tam. Creio ter al­guns que ain­da me cha­mam de doi­do  e sem per­fil, no en­tan­to lhes di­go que é mais fá­cil co­nhe­cer­mos um “mau ca­rá­ter” quan­do ele não se pa­re­ce co­nos­co. Des­sa for­ma que­ro ser com­pa­ra­do, co­nhe­ci­do e ja­mais te­mi­do. Res­pei­to nun­ca foi me­do, ou re­mor­so, ou re­ve­rên­cia, mas in­ti­mi­da­de.

Se as abe­lhas fo­rem dó­ceis ou bra­vas, tan­to faz, ti­ram-lhes o mel por qual­quer mé­to­do es­pú­rio, o mel fei­to pa­ra os fi­lho­tes de­las, di­ga-se de pas­sa­gem! O po­der do api­cul­tor es­tá na es­tra­té­gia e a pi­or de­las é as­sus­tar a col­meia. Con­tu­do, em nos­so ca­so, o em­bus­te usa­do é a men­ti­ra, as mei­as ver­da­des, o fal­se­a­men­to dos fa­tos, in­for­ma­ções ven­ci­das, du­vi­do­sa sin­ce­ri­da­de (is­so ou aqui­lo, o alu­no não po­dem sa­ber) e a omis­são do re­al etc. por que o su­ces­so de um “bom” pro­fes­sor tem de ser ba­se­a­do nas im­po­si­ções e não no do­mí­nio de sua dis­ci­pli­na de for­ma­ção so­men­te? Mas, a in­ter­net já tem tu­do! Tal­vez se­ja por­que fa­vo­re­ce a ma­ni­pu­la­ção de quem o ava­lia! De jei­to ne­nhum, que­ro ser es­sa men­ti­ra am­bu­lan­te, mas que­ro dei­xar cla­ro so­bre eu mes­mo ser um ator so­ci­al ape­nas em lu­ga­res pro­pí­cios, to­da­via, aqui den­tro, no meu co­ra­ção, nun­ca dei­xa­rei de ser eu mes­mo. Lo­go ago­ra, sou eu mes­mo quem lhes fa­la. E ain­da nem des­co­bri qual es­tra­té­gia ade­qua­da a ti­rar mel de abe­lhas fer­ro­a­do­ras, ape­nas crio col­mei­as de­vo­ra­do­ras de seu pró­prio mel, en­tre­tan­to de uma coi­sa te­nho for­te cer­te­za, nun­ca fa­ço ter­ro­ris­mo. “Na­da é mais de­pre­ci­á­vel que o res­pei­to ba­se­a­do no me­do.” (Al­bert Ca­mus).

Coi­sa es­qui­si­ta já ob­ser­vei, os alu­nos es­tão ba­gun­çan­do na sa­la, quan­do per­ce­bem a apro­xi­ma­ção da co­or­de­na­do­ra eles cor­rem e fi­cam qui­e­ti­nhos em seus lu­ga­res. Co­mi­go acon­te­ce o con­trá­rio; es­tão qui­e­tos, quan­do che­go, eles co­me­çam a ba­gun­çar, fo­ram trei­na­dos a agir sem pen­sar, é co­mo uma be­xi­ga cheia, ex­plo­dem,  quan­do a pres­são de den­tro é mai­or que a de fo­ra, não sa­bem li­dar com a li­ber­da­de! Ou tal­vez, por­que eles se sen­tem con­fi­an­tes de si mes­mos com mi­nha pre­sen­ça, mos­tran­do seu es­ta­do na­tu­ral e me que­rem co­mo es­pec­ta­dor au­tên­ti­co de seu dra­ma exis­ten­ci­al! As con­se­quên­cias da in­ti­mi­da­de é a li­ber­da­de nas ex­pres­sões. Só os re­vol­ta­dos se ex­pres­sam mal.

 

(Clau­de­ci Fer­rei­ra de An­dra­de, pós-gra­du­a­do em Lín­gua Por­tu­gue­sa, li­cen­cia­do em Le­tras, ba­cha­rel em Te­o­lo­gia, pro­fes­sor de fi­lo­so­fia, gra­má­ti­ca e re­da­ção em Se­na­dor Ca­ne­do, fun­cio­ná­rio pú­bli­co)


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