O passageiro da história- II
Redação DM
Publicado em 28 de janeiro de 2017 às 01:11 | Atualizado há 8 anosRegistra, o biógrafo, que “Carvalho Ramos nasceu em um ambiente familiar influenciado pela literatura, pois seu pai escrevia, e chegou a publicar, em 1863, um livro de poesias intitulado “Horas Vagas”, ao qual não tivemos acesso, apesar do grande empenho dedicado à pesquisa, que chegou a divulgar anúncio no jornal de Cachoeira, solicitando colaboração nesse sentido. Motivado muito cedo para a literatura, fundou e participou de várias entidades culturais em Cachoeira e no Recife, ainda na sua juventude, anterior e posteriormente à vida universitária na capital pernambucana, também marcada por realizações culturais”(pág.81).
Acentua, o mesmo biógrafo, que, “visando a traçar um perfil completo de sua formação cultural, (…) Carvalho Ramos, além de graduar-se em Direito no Recife, fez, ainda, o Curso de Humanidades, em Salvador, seu Estado natal. Partidário, desde a juventude, dos ideais abolicionistas e liberais, participou da fundação de um clube abolicionista em Cachoeira e de outro no Recife. Nas duas cidades, concorreu, também, para a implantação de sociedades voltadas para fins culturais, colaborando com a criação de um Clube Dramático e a fundação do jornal ‘América do Sul’, em 15 de agosto de 1884, no Recife, e com o Gabinete da Instrução, em Cachoeira, este dedicado, também ao ensino da língua francesa(pág.81).
“Ao tempo em que contribuía para a instituição dessas entidades, o ilustre baiano publicava poesias e artigos nos jornais de Cachoeira e do Recife, nos quais já se definia o seu estilo romântico ornado pela abundância de imagens gongóricas e metáforas grandiosas que viriam a alcançar a sua plenitude no poema épico ‘Goyania’, e, mais ainda, no livro ‘Os Gênios’, onde a sua lira se esmerou em vibrações líricas, retumbantes, e de peculiar magnitude. Algumas dessas poesias e outras que, mais tarde, foram publicadas nos jornais goianos, serão reproduzidas no anexo do livro, dispostas, cronologicamente. Vale ressaltar que a temática sobre o papel extraordinário reservado aos gênios, na humanidade, empolgou desde cedo a inteligência de Carvalho Ramos, como bem expressa o artigo “O Drama”, publicado no jornal ‘América do Sul’, do Recife, em 18 de agosto de 1884, quando ainda cursava Direito. Na matéria, o estudante entusiasmado começa discorrendo sobre a importância desse tipo de peça teatral para transformar o costume dos povos. Prospectivamente, infundindo idéias progressistas e reformadoras, exaltando a missão do gênio, que se alteando, como uma águia altiva, nos vôos arrojados de suas leis invencíveis, o gênio ainda não vacilou: o gênio tem fogo de todos os povos, a essência de toda a natureza animada, o sopro de Deus e a imensidade dos espaços para lutar e vencer, para regenerar e submeter o mito da escravidão do pensamento humano às doutrinas de sua ciência eterna. E por falar em drama, a peça escrita pelo jovem Carvalho Ramos sobre Álvares de Azevedo, já elencada entre suas obras completas, foi encenada no Recife, na Faculdade de Direito, durante sua vida universitária. O jornal de Cachoeira “O Guarany”, edição de 8 de março de 1885, noticia a doação de um exemplar do periódico por parte do cachoeirano ilustre, informando que o drama foi dividido em 4 atos, apresentando o grande poeta romântico como abolicionista, logo no primeiro ato, intitulado ‘Redenção’, para descrever, nos dois últimos atos, a vida desregrada que o consumiu ainda na juventude e o seu fim melancólico”(pág.85).
E prossegue, o ilustrado biógrafo:
“A fé inabalável na ciência, que seria o traço marcante do pensamento brasileiro predominante no final do Século XIX e início do Século XX, por influência do Iluminismo francês , esteve sempre presente na obra de Carvalho Ramos, que publicou, na página 3 do jornal’América do Sul’, do qual foi um dos fundadores, o poema ‘Ao Século XX’, no mesmo tom revolucionário e reformaador.
“Essa intensa militância cultural de Carvalho Ramos seria mantida em Goiás, paralelamente às funções de magistrado e às atividades jornalísticas. Logo após seu retorno a Goiás, em 1888, e antes mesmo de fixar-se em Rio Bonito, hoje Caiapônia, para iniciar sua judicatura, cuidou da filiação ao Gabinete Literário Goiano, que foi a primeira entidade literária associativa do Estado. Nos anos seguintes, tornou-se diretor por dois mandatos, e depois presidente da entidade, como o provam as atas constantes do Arquivo do Gabinete, na CCarvalho Ramos publicou idade de Goiás. As informações constantes das fichas de registro de leituras de Carvalho Ramos e de sua esposa Marianna Ramos,pesquisadas na mesma fonte, atestam que os dois eram leitores assíduos, informação realçada pelo bilhete manuscrito dela solicitando que lhe fosse enviado o romance ‘Magdalena’, tão logo fosse devolvido , e solicitando o livro ‘Mistérios de Nápoles’, de Alexandre Dumas, para leitura(pág.9º).
Sobre o livro “Os Gênios”, eis os comentários pertinentes.
“Com os objetivos já assinalados, eis o prólogo original dessa obra dedicada aos grandes vultos da humanidade, abertura que descortina a beleza do texto e os elevados propósitos morais e espirituais de autor. (…) Em 10 de fevereiro de 1895, Carvalho Ramos publicou o livro de poemas “Os Gênios”, dedicado aos ‘Jovens Brasileiros’, impresso na ‘Typhographia de Arthur José de Souza & Irmão’, Cidade do Porto, Portugal. As dificuldades que o autor encontrou para essa publicação àquele tempo, em Goiás, podem ser, em parte, compreendidas pelo número de pessoas às quais são dirigidos os agradecimentos pela colaboração na edição da obra. E, mais ainda, pela considerável lista com 44 nomes de ‘Cidadãos Assinantes desta Obra’, na qual constam desembargadores, doutores, coronéis, militares graduados e outras pessoas ilustres, enumeradas nas primeiras páginas do livro. “Em seguida, revelando ainda o notável esforço que deve ter feito, o autor, para custear a publicação da obra, – prova inconteste de seu idealismo e do amor à cultura que marcaria sua existência ímpar, – vem a lista dos assinantes que pagaram, antecipadamente, essas assinaturas, destacando personalidades das cidades de Palma, Bonfim, Bela Vista, Santa Cruz, Catalão, Arraias, Morrinhos, Curralinho e Cidade de Goiás, – todas cidades antigas e algumas históricas, totalizando 49 colaboradores ilustres que concorreram, financeiramente, para a edição da obra”.(pág.96).
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])