O piolho na história do Brasil
Redação DM
Publicado em 15 de outubro de 2016 às 02:48 | Atualizado há 9 anosTem um caso antigo da história do Brasil, bem interessante. Era o ano de 1807. A corte real portuguesa fugia das tropas napoleônicas, de Portugal para o Brasil. Mais ou menos 40 navios, entre pequenos e grandes, cheinhos de gente. Talvez, aproximadamente, 20% da população de Lisboa. Homens, mulheres, jovens e velhos, ricos e pobres. Todos correndo das baionetas francesas do invencível exército de Napoleão Bonaparte.
Com todo o medo e fraqueza, correndo na frente, esnobando falta de coragem, Dom João VI, o rei de Portugal. Um país de tradição, nação valente e lutadora, agora entregava-se sem a menor resistência, mostrando apatia, medo e covardia. Portugal se humilhou diante do mundo.
A horrível viagem. Na fuga dos portugueses, atravessando o Oceano Atlântico, para vir para o Brasil, o sofrimento dos viajantes fujões foi enorme. As naus pareciam grandes banheiras de sauna. O calor era terrível, tendo morrido inúmeras pessoas. Água e refeições eram racionadas. As condições sanitárias eram precaríssimas. Mosquitos e pernilongos até atrapalhavam o reflexo dos raios solares. Fora os escorpiões, lacrais, baratas, ratos etc… Tudo péssimo.
Sacrifícios e mais sacrifícios. Penou a esquadra três longos meses para chegar ao Brasil. Primeiro em Salvador e depois no Rio de Janeiro. No caminho apareceu o escorbuto, por falta de Vitamina “C”. A doença infecciosa matou também muita gente. Uma infestação de piolhos obrigou a todos a rapar a cabeça. A criançada do navio, na peraltice, própria das crianças motejava cantando a musiquinha “cabeça rapada, urubu camarada”. A Princesa Carlota Joaquina, e suas filhas e damas de companhia, ao desembarcarem na Bahia, em Salvador, usaram um rústico turbante para esconder a careca, pois o cabelo já tinha sido rapado para combater o piolho.
O turbante virou moda. No dia seguinte, as damas da sociedade baiana, pensando ser o turbante a última moda européia, aderiram a ele com o maior entusiasmo e para isso raparam também a cabeça e passaram a usar turbante. De tudo isso, se vê e é possível; até o piolho ditou a moda feminina. No Rio aconteceu a mesma coisa e as cariocas, fanáticas por novidade, passaram a usar o deselegante turbante. As baianas e as cariocas, até hoje ainda usam a horrível peça. Felizmente esse uso ridículo não apareceu em Goiás. Se apareceu, acabou logo.
(Joaquim Graciano de Barros Abreu, escritor; esta crônica é de seu sétimo livro, Chuva no Telhado)