Opinião

O PT, seus caminhos e descaminhos (V)

Redação

Publicado em 6 de outubro de 2015 às 22:43 | Atualizado há 10 anos

A fundação do Partido dos Trabalhadores teve a idealizá-la e a realizá-la grande número de expressivos idealistas. O grupo ligado a Frei Beto era de singular valor intelectual e moral. Um dos seus componentes, Ivo Poletto, escreveu o livro intitulado Brasil: oportunidades perdidas, com o subtítulo meus dois anos no governo Lula, pelo qual se toma conhecimento de como os idealizadores do programa Fome Zero eram pessoas dotadas de humanística visão e extraordinário senso de responsabilidade. Ivo Poletto relata, com riqueza de por menores, a mobilização que foi feita e imaginada para que o Fome Zero viesse a beneficiar onze milhões de famílias, não apenas tirando-as da situação de famintas mas também e principalmente conscientizando-as para que se transformassem em cidadãos com consciência política e visão a mais abrangente possível dos problemas sociais.

O capítulo três – Um desafio diferente – do livro de Ivo Poletto começa com esta pergunta:

– Você topa fazer parte de uma equipe ligada à assessoria especial do Presidente da República para a mobilização social do programa Fome Zero?

Palavras do autor, na sequência:

Boa surpresa: o novo governo assumirá a mobilização da sociedade como parte de sua política! Se confirmada, essa proposta poderia ser uma das marcas de um governo federal diferente. De imediato, a imaginação e um agente social que se dedicou mais de 35 anos à educação popular entrou em ebulição: será possível, com o apoio governamental, retomar e tonar real o sonho de Paulo Freire e tantas e tantos educadores, contando para isso com a adesão de muita gente espalhada pelo país!

O entusiasmo inicial recebeu logo uma ducha de realismo: será mesmo possível realizar um programa de educação popular em todo o país, atingindo todas as pessoas agora excluídas? Haverá recursos para isso, ainda mais com o tipo de política econômica que será implementada pela equipe conservadora escolhida? E o programa Fome Zero será mesmo assumido como prioridade de todo o governo?

A primeira conversa com Frei Beto, assessor especial da Presidência da República, serviu para confirmar o convite, esclarecer as dúvidas, definir pontos de referência para avaliar a e aceitar o desafio de participar da organização da tal mobilização social. Mesmo parecendo impossível, foi exatamente a possibilidade de organizar um trabalho educativo que alcançasse 11 milhões de famílias que seriam atingidas por políticas emergenciais do Programa Fome Zero o que me levou a aceitar o convite.

Como o próprio título do livro dá a entender e o subtítulo não deixa dúvidas, a expectativa de Ivo Poletto se viu frustrada. Ele e muitos outros grandes idealistas se decepcionaram, primeiro com as alianças políticas feitas pelo governo Lula já a partir do seu primeiro ano (2003), com as diretrizes econômicas contrárias as suas esperanças e as suas convicções – pois iguaiszinhas as do governo anterior que tanto combateram; e depois com as denúncias de corrupção que surgiram contra importantes figuras petistas, detonadas inicialmente pelo famoso pronunciamento de Roberto Jefferson. O presidente do PTB, como se sabe e se recorda, depois que foi revelada participação sua em recebimento de propinas no chamado “escândalo dos Correios”, resolvera fazer e o fez com grande atoarda revelações estarrecedoras envolvendo participantes do governo petista, com destaque especial e surpreendente contra o ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, até então aureolado pela mística de líder prestigioso e impoluto.

(Continua)

 

(Eurico Barbosa é escritor, membro da AGL e da Associação Nacional de Escritores, advogado, jornalista e escreve neste jornal às terças & sextas-feiras)

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