O resgate da goianidade
Diário da Manhã
Publicado em 29 de janeiro de 2018 às 22:32 | Atualizado há 7 anosO destino marcou este encontro: por uma Feliz coincidência, fomos convidados pela Academia de Letras e Artes do Planalto para proferir esta palestra; tencionávamos procurá-la exatamente para uma conversa íntima sobre o movimento em defesa do sentimento de goianidade. Permitam que registre aqui o nome do lendário jornalista Walter Menezes, ex-presidente da Associação Goiana de Imprensa, o qual, como editor da revista Oasis, convidou-me para representa-la nos primórdios de Brasília. Naqueles dias eu era secretário da Associação Comercial do Núcleo Bandeirante. Logo o meu amigo patrocinou minha introdução na gloriosa AGI – Associação Goiana de Imprensa. juntos fomos agraciados no Rio de Janeiro, com o título de Mérito da Imprensa Brasileira, a maior láurea do jornalismo no Brasil, a única reconhecida oficialmente pela Presidência da República.
Esta Academia, a nosso ver, constitui-se num marco da história, da cultura e, porque não dizer, da alma goiana, além de se constituir, pela sua composição e pela sua posição, num mural de nossas tradições, hábitos e costumes. Por várias vezes temos falado sobre Luziânia com um de seus filhos mais ilustres, o Professor Edésio Machado de Araújo, um homem que soube construir o seu próprio universo; ele se fez centro convergente e catalisador da amizade, admiração e respeito de todos nós que o conhecemos intimamente, usufruindo de sua inteligência, cultura e sabedoria. O Mestre Edésio Machado de Araújo, pela sua integridade humana, sintetizou a alma Luziana, porque o seu amor por esta terra transcende as formas convencionais de amor à terra-mãe. Ao insigne imortal Dr, Antônio Pimentel, Presidente desta Academia de Letras e Artes do Planalto, que nos honrou com sua presença durante a solenidade de posse da nova Diretoria da Associação Goiana de imprensa – AGI , o nosso agradecimento mais profundo. Esta oportunidade se reveste de importância extraordinária para a proposta de trabalho da AGl, porque aqui começamos uma nova caminhada, que há de se estender por todo o Estado, com a mensagem mais sincera de resgate da goianidade Quer Deus que sejamos vitoriosos em nossa empreitada, a partir deste encontro com Luziânia; começar por aqui o nosso trabalho significa antecipar o resultado que há de acontecer. Aqui está o berço de uma nova civilização, e aqui está a semente de uma nova vida, como a forma de um novo tempo, em que Goiás reviva num só sentimento toda a vontade de luta em defesa de seu patrimônio maior: a cultura de seu povo. Assim, estamos consciente de que é por aqui que Goiás retorna o seu próprio destino. Desta forma a AGI não poderia prescindir da participação das entidades culturais, como a Academia de Letras e Artes do Planalto, para alcançar os objetivos do seu plano de goianidade. E temos absoluta convicção de que os Membros desta Academia haverão de assumir como sempre o fizeram ao longo da historia, mais essa responsabilidade: a de difundir por todo o Planalto o sentimento de goianidade, para que não seja mutilada, preservando-se o nosso passado construído com inteligência e com sacrifícios. Valemo-nos desta oportunidade para dizer que a goianidade que apregoamos, e que defendemos como, proposta de trabalho, está enraizada em nossa história; o setor cultural de Goiás deu maior dimensão a esse sentimento, a partir de Vila Boa, Pirenópolis e Luziânia. De Vila Boa sobressai-se a figura extraordinária de Cora Coralina, que conhecemos em sua intimidade de doceira das margens do rio Vermelho. Pirenópolis nos legou Jarbas Jaime, um monumento da genealogia germinada as margens do rio das Almas. E Luziânia prendou-nos com a imagem multidimensional de Gelmires Reis, que fez da imprensa a tribuna da inteligência de seu povo. E, por outro lado, a imprensa goiana teve efetivamente participação decisiva em nossa história: foi em 1830 que o Comendador Joaquim Alves de Oliveira, rompendo o silêncio do isolacionismo das pessoas e das comunidades, fundou em Pirenópolis o primeiro jornal goiano – a “Matutina Meiapontense” Esse periódico substituía os sindicatos, as associações e até mesmo os partidos alternativos que não existiam naquela época. Foi através de suas páginas que os livres pensadores, poetas, escritores e jornalistas, que exerciam as mais variadas atividades profissionais, passaram a defender suas ideias e posições. Cem anos depois Vila Boa assumia a liderança na editoração de periódicos, todos eles de cunho filosofico, ideológico e partidário; mais partidário porque a predominância familiar na política – praticamente reduzida a duas alas – obrigava a esses idealistas criarem seus próprios meios de expressões. Em todo o Estado, entre ‘1900 a 1950, circularam mais de uma centena de jornais, além de revistas e panfletos, combativos em suas posições políticas, quase sempre divergentes em seus pontos de vista, mas uníssonos na defesa dos mais altos interesses de Goiás. Foi em 10 de setembro de 1934 que um grupo de idealistas fundou na cidade de Vila Boa – hoje Cidade de Goiás – a Associação Goiana de lmprensa – AGl, que/ precedeu até mesmo a criação do lnstituto Historico é Geográfico de Goiás e da Academia Goiana de Letras, que nos enobrece como seu Presidente. Naquela data, juntavam-se, na Escola de Direito de Goiás, homens da expressão de um Albatênio de Godoi, Zoroastro Artiaga, João Monteiro, Abdala Samahá, Agnelo Fleury, Vasco dos Reis Gonçalves, Claro Godoi, Ignácio Xavier, Mário Mendes, Benjamin Vieira, Octávio Artiaga, Alfredo Nasser, Goiás do Couto, Jaime Câmara e o nosso venerável Venerando de Freitas Borges. – Ainda nesta quarta-feira, dia 29 de maio às 10 horas, no Museu Estadual Zoroastro Artiaga, e às 17 horas, na Academia Goiana de Letras, homenageava-se o imortal Zoroastro Artiaga. E o professor José Luiz I Bitencourt, à luz de sua inteligência intensificada pela sua cultura, dava-nos uma retrospectiva das potencialidade socioculturais e econômicas de Goiás, fazendo uma ilação entre a atividade cultural e a promoção de nossas riquezas naturais. Provou-nos que, como Zoroastro Artiaga, aqueles que faziam e fazem cultura em nosso Estado sempre estiveram na vanguarda do tempo. Por ideal e vocação, sempre sonhamos ser o que somos: Jornalista. Se renascêssemos para outra vida, tentaríamos sê-lo, de novo. Nestes últimos trinta e três anos sempre estivemos intimamente ligados à imprensa, seja como militante, colaborador ou participante de todo esse processo evolutivo. E, como que por força do destino, foi aqui mesmo no Planalto, lá pelos idos de 1958, que demos os nossos primeiros passos. Erguia-se a nova Capital do Brasil – Brasília – quando aportamos o Núcleo Bandeirante, depois de uma difícil viagem, a bordo de uma jardineira da Viação Araguarina, de propriedade do nosso amigo Odilon Santos. Os sonhos que povoavam a nossa vida eram, enfim sua essência e vigor, sonhos juvenis de um moço que buscava o seu próprio horizonte; esses sonhos se multiplicavam pelo Planalto, levando-nos às cidades que circundavam o novo Distrito Federal, tinha expectativa de editar uma revista denominada ” Alvorada”, E aqui chegamos numa manhã ensolarada, quando Luziânia era toda encanto e poesia, com seu casario antigo, suas ruas estreitas e enviesadas, a Igreja Matriz imponente, soberba e suprema. A nossa admiração por esta terra tem a marca Gelmires Reis e Oscar Braz, no passado. O primeiro pela sua extraordinária capacidade de mentalizar a história de Luziânia, ê o segundo pelo seu notável espírito público, ambos pela forma mais íntima com que nos ensinaram a amar Santa Luzia. Está implícito que aquele primeiro contato com Luziânia influiu, de forma direta e abrangente, em nossa formação psicossocial e profissional, aprendendo, desde então, que as raízes de Brasília ali estavam, flâ impaciência dos mais novos e na vidência dos mais antigos. Ali na lgreja Matriz, em passado remoto, eram enterrados os padres que serviam à Paróquia de Santa Luzia, os túmulos eram cavados juntos ao Altar, e neles eram enterrados os corpos dos “sacerdotes”, revelou-nos Oscar Braz. A informação era confirmada por Gelmires Reis, enquanto aqui dentro de nós, ante o inusitado, a surpresa, o suspense e o medo. Desde então, com o mais profundo respeito, passamos a admirar e a reverenciar Luziânia, passando a conhecer a maioria de seus filhos mais ilustres, que se localizaram na Capital do Estado. De 1958 a 1967, passamos por diversos órgãos de comunicação, como Rádio Difusora, Rádio Anhanguera, Rádio Brasil Central e Rádio e TV Nacional de Brasília, dentre outras. Trabalhamos na revista Anhanguera e editamos Voz dos Municípios, além dos jornais “Tribuna de Goiás” e Cinco de Março, em Goiânia. Em 1968 passamos a integrar a equipe da Sucursal de Goiânia do Correio Braziliense, como seu editor municipalista e, em 1972, fomos chamados a ajudar na fundação do jornal Diário de Brasília, tendo instalado a sua Sucursal de Goiânia, da qual fomos diretor. Estas citações são para atestar a nossa afinidade com o Planalto, a partir daquele primeiro encontro com a nossa querida Luziânia, em 1958. Não podemos negar nunca que aquele primeiro contato com Luziânia influiu decididamente em nossa determinação: a de conhecer de perto os nossos municípios, levando suas histórias e suas potencialidades socioculturais, econômicas e políticas, para termos uma visão abrangente e realista, sincera e honesta, das nossas condições de desenvolvimento, pois que tínhamos um projeto de vida. Tivemos a honra de ajudar na formação de inúmeros profissionais da imprensa, assim como participamos de todos os congressos, seminários e encontros municipalistas, conhecendo o Estado de Goiás, quando ainda tínhamos o território do Tocantins, como a palma da nossa mão; essa condição nos levou a reestruturar em 1969 a Associação Goiana de Municípios – AGM, da qual fomos Diretor Executivo até 1982, com uma participação efetiva na discussão de todos os problemas que afligiam as Prefeituras e as Câmaras Municipais. Temos nítida e cristalina consciência das extraordinárias potencialidades de Goiás; basta uma análise sucinta de suas condições, para se concluir que este é o Estado do futuro. Nenhuma outra unidade da federação se oferece com tantas e tão promissoras perspectivas, com as mais variadas alternativas de crescimento, não só pela suas condições climáticas, como pela riqueza de seu subsolo e a fertilidade de seu solo, regado aos mananciais aquáticos, cujas duas maiores vertentes são os rios Araguaia e Paranaíba, sem se falar nos rios Claro, das Almas e Meia Ponte. Lembraria aos Senhores que Goiás detém em Amorinópolís, município que divisa com lporá, a maior jazida de Urânio do Mundo, que conhecemos em 1976 em companhia do então governador lrapuan Costa Júnior e do Sr. Paulo Nogueira Batista, então Presidente da Nuclerbrás. Santa Terezinha constitui na atualidade o maior produtor de esmeralda do mundo, assim como Ipameri e Catalão são fortes produtores de estanho e fosfato, respectivamente, Citaria, ainda, o fenômeno da gruta da Terra ronca, no município de São Domingos, no nordeste goiano, onde se localiza o maior curso d’água subterrâneo, de mais de um quilômetro de largura, por mais de cinco de comprimento. isto é Goiás. A edificação de Goiânia e a construção de Brasília, por si só, demonstram a primazia do Centro-Oeste, como região predestinada a assumir papel preponderante no sistema político, administrativo, econômico, cultural e social do País. Então temos que ter consciência de que Goiás não pode mais ficar à beira do caminho, ha expectativa de um milagre, para que atinja o seu objetivo maior, que é o pleno crescimento. E esse crescimento se impõe como única alternativa, sob pressão de Minas Gerais, São Paulo, Brasília e Mato Grosso do Sul. No campo das grandes conquistas, temos três importantes perspectivas: a navegação do rio Paranaíba e as ferrovias Leste-Oeste e Norte-Sul. São três empreendimentos fabulosos, que transformarão radicalmente a geografia econômica desta vasta região do Brasil, imprimindo à agricultura, à pecuária e à extração mineral, além da indústria e do comércio, extraordinário impulso. Nenhum goiano, por mais céptico que seja, conseguirá manter-se na indiferença por muito tempo, sob pena de ser consumido pelo processo de desenvolvimento que está por vir. Preocupa-nos, sobremaneira, a falta de consciência individual e coletiva, a indiferença e a incredulidade, o comodismo e mesmo a preguiça mental que se assoma de considerável parcela da população. os efeitos negativos do processo político nacional, os desajustes econômicos, aliados às carências financeiras dos segmentos mais inconscientes, além daqueles reconhecidamente carentes, são os Fatores de desequilíbrio psicossocial, desestimulando as Forças criativas do Estado,: como de todo o País. Nossa eleição à Presidência da Associação Goiana de imprensa – AGI – se deve a uma intensa atividade jornalística, aliada a uma formação moral rígida, com um acendrado sentimento cívico, defendendo os direitos fundamentais da pessoa humana, sem permitir que esses direitos se confundam com os abusos dos extremistas que ferem a própria liberdade, que é a essência dos direitos humanos. Procuramos sempre ser fiéis intérpretes dos sentimentos mais nobres do povo goiano, valorizando
nossa história, hábitos e costumes, projetando os valores do passado, presente e futuro. Temos que admitir uma verdade: infelizmente, de uns tempos a esta parte, a sociedade consciente, organizada e responsável, vem sendo agredida por todos os meios; sucumbem-se os valores éticos, morais e cívicos, enquanto são supervalorizadas as promoções mais esdrúxulas, que violentam as estruturas sociais, a
partir da própria família. observa-se uma certa omissão da sociedade e do poder público, que deveriam ter um critério, com base num programa conjugado de defesa do que ainda resta de dignidade neste país. E essa proposta passa necessariamente pela história, pela cultura e pela indução do indivíduo e da sociedade a um comportamento compatível com os ensinamentos do passado; não que se queira impor uma norma de vida ultrapassada, mas sim estabelecer uma defesa dos valores essenciais da pessoa humana. Um dia a juventude de agora haverá de agradecer as gerações atuais pelo que Fizeram por elas, preservando esses valores para que a raça humana, em especial a civilização brasileira, não se sucumbisse inexoravelmente no abismo dos instintos refreáveis. propõe-se que esses princípios sejam revitalizados no processo de educação do indivíduo e da sociedade; e isto se Faz urgente para que as crianças e os jovens de agora possam absorver a filosofia dessa proposta. E através da educação que se desenvolvem não só as potencialidades intelectivas, mas também todas as potencialidades inatas que conduzem à formação integral da personalidade, que envolve também a educação moral religiosa, cívica e política da pessoa humana. ,i;
O sistema de educação do indivíduo e da sociedade, segundo mestre Edésio Machado de Araújo, obedece a três fatores: o desenvolvimento das potencialidades se dá basicamente através da escola, da família e dos ciclos sociais de convivência. Esses três segmentos moldam a personalidade do indivíduo, preparando-o para a vida, de modo que ele possa assimilar o melhor do meio em que vive. Se esse processo For positivo, naturalmente que será um elemento ativo, dinâmico e produtivo… se não, será um elemento nocivo à sociedade. O eminente educador Fernando Bastos de Ávila, em sua Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo, observa que a formação do indivíduo depende fundamentalmente da família, da igreja e do Estado, fazendo uma analogia da educação, a partir da inteligência, afetividade, até a vocação e a cidadania. Propõe a realização de cursos, campanhas, seminários, congressos, conferências, simpósios, debates e toda a multiforme apresentação de experiência humana de modo sistemático e efetivo ao alcance de todas as camadas sociais e com a utilização de todos os meios de comunicação humana. Naturalmente que não temos a pretensão de
assumir todo esse processo. Nosso trabalho visa conscientizar não só o indivíduo e a sociedade, mas as entidades e instituições representativas da população, ao mesmo tempo em que advertimos nossos governantes para os riscos decorrentes desse status quo. Temos consciência de que os meios de comunicação assumem preponderância vital nesse processo, induzindo o indivíduo e a sociedade ao cultivo dos valores éticos, morais e cívicos, estimulando a criatividade, a produção e o desenvolvimento integral de sua personalidade. Entendemos que o jornalismo pode e deve dar inestimável contribuição nesse sentido, e haveremos de lutar para que se efetive na prática. Vamos prestigiar exatamente aqueles que desenvolvem esses valores na construção de uma sociedade mais justa, solidária e humana, procurando despertar em cada indivíduo que aqui vive o melhor de seus sentimentos, a começar pelo amor à terra em que reside. Daí a nossa proposta de resgate da goianidade, através de um projeto que vem sendo debatido com as nossas autoridades e com os diversos segmentos representativos da sociedade goiana. O ” Projeto Goiás” , idealizado por uma plêiade de jornalistas goianos, sob os auspícios da Associação Goiana de imprensa – AGI – se propõe exatamente a redespertar esse sentimento, que identifica o indivíduo com a sociedade, a qual se vê obrigada a desenvolver seus valores humanos. Propomos uma profunda reflexão sobre o presente de Goiás, do indivíduo e da sociedade, que devem assumir os seus papéis diante dos problemas gerados pelo desenvolvimento desordenado dos últimos tempos. Eis, pois, o nosso pensamento: – O que dirão aqueles que ora nos escutam lastimar a vida e a prever catástrofes sem fim? imaginarão que já
tivemos vida melhor e agora nos maldizemos pelos reveses sofridos? Pensarão o que? Eu e nada tivemos por que nunca exercitamos nossa coragem de ousar? O que aflige tanto os goianos neste momento? Todos estamos perplexos. São tantas dúvidas, inúmeras incertezas e um sem-número de desconfortos e constrangimentos; em geral causados pela não solução de problemas comuns da sociedade, pela arma fácil do achincalhe do adversário, refúgio normal para os descompromissos e a inexistência de projetos de trabalho. O que está acontecendo conosco? Nós, jornalistas e pessoas afinadas com os propósitos do bem-estar do povo, pelo processo democrático e pelo progresso eticamente explicado, entendemos que a saída e pelo caminho da política. Em torno da AGI – Associação Goiana de imprensa queremos contribuir para o fim deste marasmo, apontando responsavelmente as incongruências de tantas lamentações paralisantes. O que está acontecendo conosco? Já não temos mais como reclamar do Tocantins, como repositor de nossas incompetências nas lides do Sul. De que estamos reclamando, afinal? Nunca, em tempo algum, estivemos sob o comando de homens tão experimentados como agora, quando ex-ministros nos governam, quando ex-governadores nos representam no Congresso Nacional, ao lado de experimentados políticos provados na luta. Há, de fato, razões para este Estado de cansaço que nos entorpece todas as possibilidades de reação? A quem estamos reclamando? A Brasília, como depositária dos protestos dos deserdados da representação política? Nunca, em tempo algum, estivemos em tão boas condições de resolver históricas pendências com o Governo Federal quanto agora. O que de fato nos aflige? Será que nossa identidade, enquanto povo, se perdeu nas águas profundas do Rio Tocantins? Ou será possível resgatá-la num caminho de retorno pelas águas mais claras do Rio Araguaia, que nunca deixou de ser goiano? De nossa visão, a Goiás está faltando clareza para um projeto de desenvolvimento assentado na cultura de um povo que não se curvou diante dos ditadores de ocasião. Este é o fio da linha que, a nosso ver, precisa ser resgatado, sob um comando político ousado, transparente, atrelado à sociedade civil goiana, que se sente órfã no limiar de um novo século, que se nos apresenta com demandas específicas e inadiáveis. O quadro hoje é desolador. No entanto, é fértil o campo para o fortalecimento da luta pela cidadania. Este é o desafio e pressuposto da reconstrução de Goiás para colocá-lo na contemporaneidade, Mas é preciso não ser otimista, sem lembrar o quadro social que nos assusta e imobiliza; os Funcionários reclamam direitos inalienáveis (o governo se justifica e finca vista para o passado recente); os empresários continuam reclamando e olham, uns para a mesmice de sempre, outros para o comodismo. Uns e outros financiam a apatia que a todos atinge indistintamente; os trabalhadores, maiores vítimas deste processo absurdo, veem os seus sindicatos esvaziarem-se, até mesmo quando discutem reposições salariais; os produtores do campo continuam a reclamar de financiamentos oficiais para bancar as safras que nunca chegam ao povo. Ao longe – mas já chegando – multidão crescente dos que, aqui e ali, vão perdendo até mesmo o gosto pela resistência. Mas já cobram acerto de contas com a história. Haveria um espírito goiano, capaz de sobrepor-se a tudo isso? Nós, neste manifesto, queremos sonhar com
esta possibilidade. A nosso ver é exatamente este patrimônio que precisa ser restaurado pelos políticos, pelos empresários, pelos trabalhadores, por todos, enfim. O ” Projeto Goiás” , com o qual sonhamos, passa pela ideia da imediata mobilização de todos. Seu objetivo: colocar Goiás na contemporaneidade, comprometido com o exercício da cidadania plena na construção do desenvolvimento e do bem-estar de todos. Mas é preciso superar susceptibilidades irrelevantes, apostar na política como instrumento de bem-estar público e, sobretudo, trabalhar eticamente a construção de uma nova mentalidade. Não podemos correr o risco de o novo século nos surpreender discutindo mazelas da nossa incompetência enquanto sociedade de homens livres. A história não vai nos perdoar. O momento é este: o tempo nos cobra pressa, o povo nos exige respeito. Para realizar esse projeto, é preciso não desprezar a história. E Cícero ja dizia: a história é a mestra da vida. Os expoentes de nossa história Foram exatamente os que primavam pelo caráter valorizativo, reunindo a potencialidade do talento à valorização dos interesses coletivos, que estão sempre acima das questões meramente pessoais, que desvirtuam o ideal mais altruístico do cidadão. No nosso entender, o livre pensador, encarnado no poeta, no escritor, no artista e no jornalista, se constitui no Formador de consciência. Em razão disso, a sua ação deve ser pautada em princípios que contribuam efetivamente para a evolução do indivíduo e da própria sociedade em que vive e atua, Os objetivos transcendem da limitada atuação em defesa dos associados, porque historicamente, como uma das entidades mais antigas do Estado, a AGI preencheu por muito tempo o espaço cultural das Academias e dos institutos históricos, até que eles fossem, aos poucos, sendo criados. Para que esses objetivos sejam alcançados, ela está buscando o envolvimento das entidades representativas do pensamento goiano, no sentido de aglutinar esforços dispersos. Os movimentos de transformação social devem ser conduzidos, como historicamente sempre fora, pelas elites culturais. Confirma-o o movimento dos enciclopedistas franceses na preparação da Revolução Francesa de 1789. No Brasil, recorda-se a atuação da Plêiade Mineira no movimento da inconfidência que antecedeu a nossa emancipação política com o grito ao Ipiranga. O papel da obra literária dos abolicionistas na preparação da liberdade dos escravos foi decisivo, criando uma consciência literária; cita-se como exemplo José do Patrocínio e Castro Alves como os proeminentes da cultura abolicionista. Mas há um fato relevante, da mais alta importância em nossa história contemporânea, da qual esta comunidade participou ativa e decisivamente: trata-se da interiorização de todo o processo de desenvolvimento nacional, com a construção de Brasília, sonhada por Dom Bosco. Desde os tempos do Brasil colônia, vivíamos sob o jugo de interesses estranhos à nacionalidade; foi-se o domínio português, e nos submetemos às pressões das superpotências, que impunham suas condições políticas e econômicas ao nosso País, a partir do Rio de janeiro, uma espécie de paraíso internacional. O resto do País se atrofiava a poucos quilômetros do litoral, com a vastidão vazia, improdutiva e abandonada pelo poder público. Os meios de produção primária ressentiam na presença oficial, no sentido de estimular a modernização, o avanço tecnológico e a racionalização da produção, para que se obtivesse maior produtividade. Os mais lúcidos dos brasileiros questionavam, inclusive, a posição da Capital da República, o Rio de Janeiro, conforme observa Peixoto da Silveira, em sua obra A nova capital, aliás um dos mais completos documentos versando sobre Brasília. Nele o autor expõe, com absoluta precisão e como farla documentação comprobatória, toda a movimentação pela mudança da Capital do País para o Planalto Central. A participação do Estado de Goiás na concretização da mudança da Capital foi decisiva, a partir de Luziânia. Lembre-se de que Minas Gerais, mais precisamente o Triângulo Mineiro, disputava a primazia de sediar a administração federal, que haveria de proporcionar-lhe o redimensionamento de sua economia e de sua política. Mas a inteligência, a sagacidade e a hospitalidade dos luzianos, aí incluídos seus dotes artísticos e culturais, aliados a uma gama de informações acumuladas pelos mudancistas locais, influíram decisivamente na formação da opinião de quantos aqui aportaram para levantarem as
condições do Planalto, como centro convergente das decisões nacionais. A cultura sedimentada e a formação. cívica Íez da gente luziana o centro das atenções. Os intelectuais tiveram participação fundamental nas discussões, e tanto escreveram, e tanto falaram que acabaram por conquistar aqueles que aqui vieram com a incumbência de definir o local em que se ergueria a nova capital.
(Antônio Ramos Lessa, ex-presidente da AGI)