O sexo é um teatro lotado
Diário da Manhã
Publicado em 2 de abril de 2018 às 22:35 | Atualizado há 7 anosO amor romanesco só dá peça boa e válida quando muito sangue e desespero compõe a cena – inunda o palco da tragédia e fornece alimento aos boletins de ocorrência das delegacias; assim garantindo o emprego dos advogados e o sucesso das páginas policiais.
Pensando nisso, os mais medrosos ou precavidos preferem manter o teatro vazio.Dá menos mão de obra de manutenção de palco e auditório.Além de garantir ao dono direito a férias proporcionais ao período de abstenção de entreveros romanescos e desencontros de Cupido.Embora os abstêmios não se livrem dos encargos a ser pagos por eventuais escapadas ou incursões em combates de coxas, que para o cipoal das leis, consta como período trabalhado.
Quem sabe os japoneses estejam com a razão quando apresentam e defendem como sagrado o seguinte apanágio: “Por favor, sem sexo: somos japoneses”. Não que os lendários nipônicos sejam criaturas humanas infensas ou refratárias ao sexo.
Fosse esse o caso, não estariam lá a gastar bilhões de dólares, aplicados na produção e consumo da variada pletora de produtos pornográficos – a famosa indústria do erotismo, a que mais cresce no mundo. Sendo sabido que naquele país do Oriente os primeiros dias da arte erótica remontam o século 14.
Talvez o aparente desinteresse dos japoneses em relação ao sexo tenha outro significado, e queira dizer que se interessam apenas por sexo suficiente, ou autossuficiente (o que não quer dizer onanismo, sexo que a pessoa faz com ela própria) e sim, sexo bastante para satisfazer o ancestral instinto da libido, sem que isto implique em romance ou compromisso de fazer a relação durar até as partes envolvidas não aguentarem mais. Em fim, eles se contentam e se comprazem em ter sexo que dê prazer sem os conflitos, trombadas e dificuldades advindas do relacionamento amoroso que passa pelas fases do namoro, noivado, casamento, descasamento.
Depois de colecionar uma série de fracassos romanescos, em relacionamentos marcados por sexo selvagem e paixão a beirar o crime passional, ela enfim compreendeu que insistir em tal caminho seria marcar encontro com o fracasso. Então afastou-se das imagens e idealizações de amante ou marido perfeito; parou de investir emocionalmente neste capital furado, pelo qual entrara em tantas roubadas.
Sem contar que o fato de ser sexualmente fogosa, que potencializava seu poder de sedução, era justamente o motivo pelo qual os homens se afastavam dela, depois de se cansarem, e de não mais darem conta de sustentar os atletismos de cama.
Então resolveu ser “normal”, como parece ser, ou querem dar a entender que o são a maioria do mulherio em fase de cochambrar, casar e reproduzir.Aceitou o assédio de um colega de Faculdade – que ela sempre recusara, pelo fato de o pretendente lhe parecer muito careta, do tipo camisolão, que todo dia faz tudo igual, do café da manhã ao jantar, até a hora e depois de ir se deitar. Como ele também queria ter muitos filhos, foi como juntar a tampa e o balaio. Então casaram-se nos conformes da lei, de papel passado, e foram infelizes para sempre.
(Brasigóis Felício, escritor e jornalista. É membro da Academia Goiana de Letras e Instituto Histórico e Geográfico de Goiás)