O trolador
Redação DM
Publicado em 23 de abril de 2015 às 02:44 | Atualizado há 10 anosBaiano estava dormindo no sofá, com a boca escancarada, escorrendo um fio de baba. Ronaldo, seu amigo de longa data e da república, vê aquela cena, arregala os olhos e sobrancelhas. Decide praticar suas pegadinhas. Vai até a cozinha e busca uma caixa de fósforos. Enfia um palito entre os dedos dos pés de Baiano e o risca. Sai dali rindo baixo e fica ao longe vendo a cena. Baiano desperta assustado gritando:
Ááááá….. Árre égua! Ronaldo, descomungado… Foi tu, né? Arretado das canelas seca e das costa ôca, tu vai levar troco, miserável! Traz seu bucho aqui seu lascado! Ôôô abufelado!
Ronaldo sai rindo e correndo, enquanto Baiano limpa o pé e acaba adormecendo novamente no sofá. Ronaldo chega sorrateiramente e vai até o banheiro. Ele pega um frasco de espuma para barbear e vai até Baiano. Verifica que ele realmente já dormiu. Traz um ramo de capim do quintal e primeiro passa espuma nas mãos de Baiano. Ronaldo passa o capim levemente na bochecha de Baiano, causando cócegas. O dorminhoco inconscientemente passa a mão com a espuma no rosto. Baiano acorda e Ronaldo cai na risada.
Baiano corre atrás de Ronaldo, mas logo se cansa e volta para casa. O sufoco daquelas trolagens não se cessa. Mais tarde Baiano dorme novamente no sofá, como se o sono soberano fosse algo inevitável. Ronaldo suspende um pouco a camiseta de Baiano, amassa o pano na região peitoral e faz dois cortes na região dos mamilos. Baiano não acorda e Ronaldo fica rindo em silêncio.
Ronaldo ainda não esgotou sua cota jocosa. Vai ao banheiro e coloca um balde cheio de água inclinado sobre a porta encostada, equilibrando para não cair. O pessoal chama para o jantar. Acordam Baiano, tudo combinado, e convocam todos para lavar as mãos, com a preferência primária de Baiano.
O rapaz mais uma vez cai na armadilha. A gargalhada é geral diante daquela figura molhada com a camiseta furada. Baiano tenta correr e escorrega. Nova risada.
Depois de algum tempo, quem cochila no sofá é Augusto, outro amigo. Ronaldo abusa da pasta dental nas mãos e passa no rosto de Augusto, que não acorda. A turma fica rindo em silêncio. Baiano entra no cômodo e grita para acordar Augusto. E ele acorda furioso.
Ronaldo sai correndo e se tranca no quarto. Augusto chama Baiano e cochicha em seu ouvido uma ideia para acabar com as brincadeiras daquele indivíduo. Baiano gosta do que escuta e colocam em prática seus planos. Augusto veste uma máscara de terror, um lençol, segura uma vela e vai até a janela do quarto de Ronaldo e começa a falar grosso e alto. Ronaldo abre a porta do quarto sai dali assustado. Mas ao sair é recepcionado com um balde cheio de água que Baiano joga em Ronaldo. A risada é geral. Ronaldo fica ensopado.
Mais tarde Augusto pega uma super-bonder e cola o polegar ao dedo indicador de Ronaldo. O serviço termina. Juliana, irmã de Augusto, chega gritando no quarto e dá um susto em todos. Ronaldo acorda e fica bravo com seu dedo colado. E diz:
– Aí passou dos limites né véi!
Ronaldo vai ao banheiro e é recepcionado por Baiano com uma torta na cara, uma torta de espuma de barbear. Augusto complementa a sujeira jogando farinha em cima do cabelo de Ronaldo. Augusto pergunta se Ronaldo vai parar ou vai continuar zoando a turma. Ronaldo diz que vai parar por ali, que eles venceram o jogo (mas por dentro não desiste e tem um plano).
Ronaldo limpa o rosto, esvazia uma garrafa de álcool no banheiro. Lava e enche com água. Pega uma caixa de fósforos e volta-se para a sala. Joga a água nos pés de Baiano e Augusto. De repente, Ronaldo risca um fósforo. Eles pensam que aquilo é álcool e ficam desesperados, completamente apavorados. Pulam, gritam e saem correndo. Ronaldo joga os palitos de fósforos neles. Até que ele finalmente se cansa e diz que aquilo é água e não álcool. E ainda tem a audácia de dizer pra turma: “Não mexa com quem está quieto!” Até a próxima página!
(Leonardo Teixeira, escritor)