O “Turbilhão”, de Paulo Nunes Batista
Redação DM
Publicado em 13 de agosto de 2016 às 02:19 | Atualizado há 9 anosConvidado, mediante telefonema, para o lançamento de obra de sua produção poética, no “Teatro Municipal” de Anápolis, no final de junho deste ano, e não podendo me deslocar para referido evento cultural, designei meu amigo e confrade de lides advocatícias e maçônicas, o brilhante advogado Balthazar José dos Santos, também vitorioso empresário, para me representar no ato de lançamento da ‘plaquette’ “Turbilhão”, feliz iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura daquela próspera cidade Planaltina, cognominada de a ‘Manchester Goiana’, epíteto sugerido pelo conglomerado de sua economia, situando-a como a ‘Ribeirão Preto’ do Planalto Central.
Na Apresentação da obra, Augusto César de Almeida, diligente Secretário Municipal de Cultura de Anápolis, dizia, com acentuada sabedoria: “Esta coletânea vem-se caracterizando por apresentar uma variedade de estilos literários, indo desde a literatura acadêmica até a literatura infantil, passando pelo conto, prosa, poesia, romance, ensaio histórico, dentre outros estilos. Diante da quantidade de escritores que vem procurando a ULA (União Literária Anapolina) para inscrever seus trabalhos para publicação, buscamos o apoio da UEG (Universidade Estadual de Goiás) que, prontamente, nos atendeu, e aqui agradecemos a Unidade de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas da UEG de Anápolis, que cedeu professores para a composição da Comissão de Seleção das obras que, agora, são apresentadas nesta edição” de que participa este “Turbilhão”.
Desta obra singular, ilustrada pela foto do poeta Paulo Nunes Batista sendo cumprimentado pelo imortal Bernardo Élis, da Academia Brasileira de Letras, destaco alguns versos que me parecem mais expressivos do estro desse poeta nordestino que os fados quiseram que vivesse a maior parte de sua rica existência literária neste pedaço abençoado do torrão brasileiro, para gáudio de quantos aqui mourejamos.
Eis alguns tópicos de “Turbilhão”:
- Sobre o tema responsabilidade: “Responsáveis somos todos/ somos todos responsáveis/ todos responsáveis somos / responsáveis todos somos / somos responsáveis todos / todos somos responsáveis”.
- À minha mão – Construtora de tormento, / fabricante de alegria, / minha mão, remo de vento / e vela de Ventania, / navega no Firmamento, / singra o Mar do Pensamento, / colhe a Estrela da Poesia.
- Transeuntes da Noite – Transeuntes da Noite, a tiritar de medo, / eis o que somos, todos nos, / sempre a esperar que o Sol nos leve / o segredo da Dúvida feroz.
- A Força – A força dança; / A Força balança feito o balanço / do corpo pendido em forca. /Forca da língua pendida / quase um palmo para fora. /A Força não está na língua, /mas na Palavra, que enforca, /estrangula o Pensamento /dando corpo à Substância. /A Força está na Distância /não nos pés que plantam passos; / não no Caminho, mas na Ânsia; / De ser pássaro no espaço.
- Paisagem – Olho a paisagem. Descubro, / lá, onde a vista se perde, / um certo de gosto de longos / amanhecidos de verde.
- Floresta, Alguma – À sombra, ofídio, ofende / o ar. De língua bífida.
Nem sonda-lhe a perfídia / O olho arisco da vítima.
- O Dia, o ouro das formas / o ouro das cores / O ouro das músicas, / O Dia, sua fome de seres / de coisas, absurdos / brotando nas horas / povoando passos / fonte de conflitos. / O Dia, seus olhos arregalados / de malícia dos homens. / Chão de paradoxos / dúvida acesa / Corpo de complexos. / O Dia, cidadão de limpa face / sua prata, seu brasão / seu jeito amigo / apesar dos pêsames.
- Moça do Sol. – Toda cheia de Sol, na faceirice / do Sorrisso em botão à flor da face, / a Moça passa, como se passasse / uma rosa voando e nos sorrisse.
- Mulher assim – Mulher que sabe tudo e não diz nada…
E tudo quanto, finalmente, diz, torna a gente esse cântico feliz / da Eterna Sinfonia Inacabada.
- Retalhos de improviso – O gesto amargo, o riso vago. / A noite é nossa pátria, Irmão! / E quando nossa mãos se tocam, fica / o frio, como fio / ligando à tua a minha solidão!
- É preciso ser hábil – É preciso usar máscara. Ser outro / nos gestos, nos olhares, nas palavras. / Andar sobre ovos, dizer sempre – sim / quando eles querem que se diga – sim. / Colecionar sorrisos, gentilezas / e saudações diversas e oportunas.
- Ai, vontade! Ai vontade de ser nada: / Aniquilar-me, dês-ser-me: / ser a gota evaporada / que não chegou a verme.
- Noite – Sangue de jovem / Escrito no tempo. / Chão inlavável, / morto imperecível.
- Sangue – Sangue, noturno das horas / acontecidas nas Vias / do grande Pai, silencioso / Navega Dor do Pro Fundo.
- De Ver… – O diabo de ver / é que o visto / já não pode ser desvisto. / Porque fica vestindo / com tinta inapagável / ou dívida impagável / a Menina dos Olhos.
- “A Casa de Deus” está fechada. E o Cristo / do lado de fora, nos batentes, chora / De fome, bate os dentes de frio / e descrê de Deus – do deus que os homens inventaram, entronizaram e / fecharam no “reino do céu…”
- Shangri-la! Shangri-la! Horizonte perdido / que fica muito além de qualquer horizonte… / Quem nunca te encontrou – não pode ter vivido! É imortal quem bebeu a água de tua fonte!…
- Ciclos – Manhã – O amor nasce dos olhos (boca de luz) / Desce para os lábios (ondas de fogo) / navega nas mãos (jangadas de gozo).
Tarde – Adentra as entranhas da noite e dorme.
Noite – É semente de silêncio e sonho.
Aurora – O amor germina cresce, renasce.
Ontem hoje amanhã sem tempo nem forma / Entanto, em tudo todas toda parte/ infinita reticência da VIDA!…
- Aos Médicos do Amor – Ó Médicos do BEM, que Sem Fronteiras, / levais a paz aonde ainda impere a guerra, sois os meios do amor em cada terra, / sois exemplo da gente brasileira.
- Ó Médicos do AMOR, às estrangeiras / pátrias levais Verdade ao que ainda erra, / o vosso exemplo toda paz encerra / sob o penhor de todas as bandeiras.
- Que vossa ação de humanitário altruísmo / seja lição para evitar o abismo / que só conduz os homens à maldade.
- Que este exemplo cresça pelo mundo, / de Deus provando o lúcido e profundo, / Bem, que da DOR expunge a humanidade.
(Licínio Barbosa, advogado criminalista, professor emérito da UFG, professor titular da PUC-Goiás, membro titular do IAB-Instituto dos Advogados Brasileiros-Rio/RJ, e do IHGG-Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, membro efetivo da Academia Goiana de Letras, Cadeira 35 – E-mail [email protected])