Opinião

O vale-tudo contra Luiz Inácio

Diário da Manhã

Publicado em 1 de fevereiro de 2016 às 22:26 | Atualizado há 9 anos

Tempos atrás o sociólogo e professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Francisco de Oliveira sai com a melhor definição sobe o espécime político representado por Lula da Silva. Oliveira, sendo entrevistado (disponível no YouTube) no outrora importante programa “Roda Viva” da TV Cultura (São Paulo) emenda: “Vocês não entendem o Lula!”

Claro e cristalino! A direita se ferra e vai continuar se estrumbicando em erros sobre erros porque Lula é nosso enigma, nosso enigma político bem ao estilo daquele lançado pela Esfinge contra o príncipe Édipo nos umbrais de Tebas: “Decifra-me ou te devoro!”

Bicho político que come, respira, cheira e transpira política por todos os poros do corpo; Lula converte o ar que respira em política; espécime rara que produz um tipo próprio e distinto de, digamos, fotossíntese política com discurso próprio e coerentemente elaborado; com termos e categorias específicas e muito bem situado na cartografia de dramas que marcam o Brasil.

Abarcou em seu amplo cipoal temático e cotidiano, itens como: fome (é claro!), África, relações internacionais, infância, Nordeste, educação e minorias, terrorismo, integração latino-americana e o curioso, converteu todos esses temas em política efetiva.

O presidente-operário é, aceite-se isso ou não, o indivíduo que vem por dezesseis anos governando o país, e mais, vem governando a política nacional; de uma forma ou de outra, governa, influencia, orienta, marca e demarca novos territórios da política.

Orienta o governo central, governos estaduais e municipais e mesmo a oposição. Aliás, essa oposição, com esse nível de ferocidade, com essa obsessão político-golpista seria de fato, impensável sem o protagonismo e o itinerário administrativo assumido por Lula. O discurso do golpe é o discurso do reconhecimento; é o “jogar a toalha” para o confronto com Lula e a tentativa por um “outro” jogo. Por “outro” jogo bem mais complicado. Em síntese, a política nacional e atual tem o rosto atarracado do nordestino Lula; sua voz rouca e; suas tiradas.

Não é pra menos… Desse continente político e que se tornou Lula da Silva surge admiração, deslumbramento e encanto, em certos casos, para além do razoável; em outros casos, a cólera mais odienta que se possa imaginar e, da mesma forma, nunca justificada.

Dia desses vi o “brucutu” Wanderley Silva, o lutador de Vale-Tudo, fazendo e acontecendo com Lula; em outro caso assisti a um “almofadinha”, certo João Dória Júnior assacando feio Lula como se entendesse Lula. Pensei… “Mas só o Lula mesmo para tornar político militante tipos que sabem da política como sabem de geometria euclidiana… Nada!”

Mas essa é a graça e potência de Lula: a elevação da política à condição suprema da própria realização humana ou seja, o ser do humano só pode sê-lo pra valer e efetivamente na ação política, na atividade política capilarizada, entronizada ao nível do corriqueiro e cotidiano. Em Lula, não é exagero dizer que a humanidade, de fato, é afirmada somente e se somente, pelo viés da política.

Me faz lembrar da filosofa Hannah Arendht em seu clássico “Condição Humana” onde já em seu prólogo afirma que “o homem político se revela em seu discurso”. Lula é discurso, mais do que mais um personagem político é um conceito; uma perspectiva política e o principal líder político que esse país já conheceu. O principal líder político dos pobres do Brasil.

Parafraseando a máxima cartesiana do “cogito”, em Lula seria mais ou menos assim: “Faço política, logo… Existo!” Vício? Virtude? De fato…

Difícil arrematar tal dilema, mas o certo é que a política sob todos os aspectos está sendo feita e, creiam… Esta é exatamente a praia de Lula.

Joguem os dados!

 

(Ângelo Cavalcante – economista, cientista político, doutorando em Geografia Humana (USP) e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara)


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