Opinião

Obrigado, professora Elita!

Diário da Manhã

Publicado em 15 de junho de 2017 às 02:18 | Atualizado há 8 anos

São 8h5min da manhã dominical, 11 de junho de 2017. Estou na casa modesta da Vila Carolina, em Rio Verde, onde moro, com minha amada( e onde criamos nossos filhos), desde setembro de 1973.  Acordei antes das seis e não sei por qual razão, na professora Elita Maria de Carvalho Lima me pus a pensar. Aliás, sei a razão. Saudade. Saudade tem dessas coisas, mexe com a gente quando menos a gente espera.

Desordenada minha vida estudantil. Reprovações, expulsão de escolas, abandono,  a trancos e barrancos ao curso de Letras cheguei, mas não o concluí. Almejava, desde menino, ser advogado na área criminal, mas me acomodei no Fisco estadual(acesso por concurso público) e nele me aposentei. Desde a campanha presidencial de 1955 – a primeira da qual me recordo – me vi pela politica e pela oratória vocacionado. Então eu dizia assim: quando crescer, serei advogado, jornalista, político. Tinha 11 anos e queria que o Ademar ganhasse, mas ele ficou em terceiro lugar; Plínio Salgado ocupou a quarta e última  posição, Juarez Távora foi o segundo e Juscelino venceu (menos votado do que o candidato a vice-presidente, João Goulalrt, o grande Jango). Preferi o Ademar por simpatia pessoal, não tinha eu formação política nenhuma. Udenistas, meus pais sufragaram Juarez. Era-me simpática a UDN porque achava que ela encarnava a virtude e o PSD, o vício.

Em 1955, tive a infelicidade de ser matriculado na escola paroquial instalada no sobrado onde mora o bispo diocesano, em Jataí(meu berço), e dela me expulsaram, covardemente, em 1957, e por isso meus pais cometeram outro erro: mandaram-me para o internato salesiano de Alto Araguaia e aí estudei até o fim do primeiro semestre de 1960. Volvi-me, então, para a casa paterna e continuei a primeira série ginasial no “Nestório Ribeiro”, da rede pública, que funcionava no prédio velho que agasalhara o colégio das agostinianas, na Miranda de Carvalho(à época,Paraná), entre a Dorival de Carvalho(naqueles dias, Floriano Peixoto) e Benjamim Constant.  O Estado edificara modernas instalações para o “Nestório”,  na Goiás, e as transferira para a diocese em troca das construções antigas, ultrapassadas, quase que em ruínas, em ponto pouco valorizado e nas quais assistia o referido estabelecimento das freiras. Depois o Estado plantou o “Nestório” onde está até hoje.

Terminei a primeira série ginasial no citado ano de 1960. Foi quando, graças à professora Elita, comecei a cumprir o que desejava desde a campanha presidencial de 1955: falar em público. Adquiri fama de bom orador, militei na política do município e na política estudantil. Atualmente,  não falo  com a mesma desenvoltura – na realidade, nunca fui bom orador, foi fama indevida – por causa do Parkinson.

A professora Elita ministrava português, minha matéria predileta, e organizou o grêmio de classe que recebeu a denominação de Rui Barbosa. Uma vez por semana havia programas artísticos. Discursávamos, cantávamos, declamávamos, fazíamos atas e foi nessa época que aprendi a redigi-las. Atingindo todo o colégio havia o “Grêmio Lítero Teatral Bortolotti Mosconi”, do  qual fui vice-presidente. O nome prestava justa homenagem ao casal Dr.Mosconi e dona Albina, de grandes feitos em Jataí e em Santa Catarina.

A professora Elita não impunha respeito, atraía-o. Não me lembro dela punir ou ameaçar punir aluno. Obedecíamo-la porque não a víamos só como professora, mas orientadora, conselheira, mestra.  Sua beleza física e sua simpatia pessoal refletiam o jardim florido do seu interior.  Casou-se com um aluno, por sinal meu parente, o Guilon,filho do senhor Aprígio, que era primo do Philadelfo, meu avô materno, Desse casamento nasceram um moço e uma moça e desta me lembrei em Buenos Aires ao visitar o museu da Evita Perón. Foi como ouvir essa minha parenta e conterrânea a cantar “Não chores por mim, Argentina!”. Formou-se para advogada a minha prezada professora Elita, excelente declamadora; batalhou na política e foi, caso não me engane,  a primeira mulher presidente da Câmara Municipal da Cidade Abelha. Nasceu em Mineiros(Ilsa, minha senhora, também é da charmosa cidade do mestre Martiniano) e se mudou, penso que ainda adolescente, para a Colmeia. É autora do Hino a Jataí( assim, uma mineirense compôs o Hino a Jataí; o jataiense da região de Itajá e radicado em Três Lagoas, Edwards Reis Costa, é autor do Hino a Rio Verde e eu, filho de Jataí, liderei a criação da “Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios”).

Há muito tempo não vejo a professora Elita. Escrevi estas linhas para homenageá-la, gesto extensivo ao lar que ela e Guilon, com amor, edificaram.  Que se abram os céus em torrenciais chuvas de bênçãos sobre a senhora e sobre seus entes queridos. É o que, de coração, almejo.

Em tempo: também Rímer, irmão da professora Elita, matrimoniou-se com Franco. Diva, sua esposa, sobrinha neta da minha avó Ana Isabel, mãe de minha mãe.

 

(Filadelfo Borges de Lima, 72 anos, autor de vários livros, liderou a criação da Academia Rio-Verdense de Letras, Artes e Ofícios, auditor fiscal aposentado no Estado de Goiás, maçom 33, integra o Sidifisco/Goiás e a Affego)


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