Opinião

Opinião: Cai o charuto de Freud

Redação DM

Publicado em 4 de março de 2018 às 00:07 | Atualizado há 7 anos

A psi­ca­ná­li­se es­tá em bai­xa. Cai o cha­ru­to de Freud. So­be o ca­chim­bo do pai de san­to. Efei­tos da cri­se? Re­sul­ta­do da que­bra­dei­ra?

“Psi­ca­ná­li­se é pa­ra os sã­os”. As­sim fa­lou a es­cri­to­ra Eli­za­beth Rou­di­nes­co.

É pri­vi­lé­gio dos que sa­bem ver­ba­li­zar.Fa­lar so­bre su­as do­res ín­ti­mas.Seus trau­mas.Con­fli­tos e me­dos.

Sen­do as­sim, o que se­rá dos que não o são? Ou são não es­tão?

Sen­do a cu­ra pe­la pa­la­vra, só es­tá ao al­can­ce dos que têm tem­po e di­nhei­ro.”Ti­mes is Mo­ney”, a fra­se má­gi­ca que faz ti­lin­tar as cai­xas re­gis­tra­do­ras.

As que ti­lin­ta­vam.Ho­je não ti­lin­tam mais.Só que o de­lí­rio não en­trou em de­clí­nio.Es­tá em al­ta, em pro­pul­são de fo­gue­te.

Mas is­to to­ma tem­po e di­nhei­ro. Exi­ge pa­ci­ên­cia.Coi­sas que pou­ca gen­te an­da ten­do.

Mais fá­cil é ir di­re­to ao psi­qui­a­tra. Ou ao pai de san­to.

Ou, na emer­gên­cia e no su­fo­co, re­cor­rer às inu­me­rá­veis te­ra­pi­as al­ter­na­ti­vas, ve­ra­zes ou ilu­sio­nis­tas, dis­po­ní­veis no mer­ca­do.

Em fa­ce do tsu­na­mi de sín­dro­mes, sur­tos e tran­stor­nos, as ci­ên­cias de Freud, Jung, Reich – e dos mui­tos ou­tros seus dis­cí­pu­los e se­gui­do­res – são in­su­fi­ci­en­tes.

Não aten­dem – não com­pe­tem – com a pres­sa de ado­e­cer des­tes tem­pos fre­né­ti­cos.Em que o des­lo­ca­men­to da re­a­li­da­de pas­sa a ser a ha­bi­ta­ção fre­qüen­te de inu­me­rá­veis vi­ven­tes.

Abre-se en­tão es­pa­ço pa­ra a me­di­ca­li­za­ção da sa­ú­de (ou das dis­fun­ções e dis­túr­bi­os psí­qui­cos).

À cus­ta de psi­co­tró­pi­cos pe­sa­dos, Su­fo­ca-se o in­con­sci­en­te.Faz-se de con­ta que ele não exis­te. Dei­xa-se os pa­ci­en­tes na con­di­ção de zum­bis.

Sem con­di­ções de re­co­nhe­cer quem são – bem co­mo aos que lhes são pró­xi­mos.

Pas­sa­gei­ros dos di­as

Não im­por­ta a si­tu­a­ção men­tal em que vo­cê es­te­ja. Sua ale­gria ou tris­te­za.

Em to­da as par­tes des­te mun­do as pes­so­as e fa­tos es­tão em mo­vi­men­to.Em fre­né­ti­co trân­si­to in­ces­san­te.

Na­da de­pen­de de seu bom ou mau hu­mor. De seu âni­mo ou de­sâ­ni­mo.

Tu­do pas­sa e vai em­bo­ra. Ao to­mar con­sci­ên­cia dis­to, vo­cê re­la­ti­vi­za seu mal es­tar de vi­ver.

O mun­do, as pes­so­as, não se im­por­tam.Na­da tem a ver com is­to. Nem sa­bem que vo­cê exis­te.

Ca­da um já tem o seu pa­ra ge­ren­ci­ar. Pa­ra de­le se afas­tar, ou abis­sal­men­te mer­gu­lhar.

Ao se dei­xar to­mar por es­te pen­sa­men­to, vo­cê va­lo­ri­za me­nos o seu so­fri­men­to.

 

(Brasigóis Felício é escritor e jornalista.Integra os quadros de várias entidades culturais, dentre elas Academia Goiana de Letras e Ube-go (União Brasileira de Escritores, seção de Goiás))


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