Os culpados da contracultura
Diário da Manhã
Publicado em 22 de agosto de 2018 às 03:44 | Atualizado há 7 anos
Os filistinos derrotaram a cultura no nosso pais mas era isso mesmo o que eles almejavam. A principal característica deles é a indiferença. A desconfiança em relação à arte e à cultura indica os seus interesses estreitos. As facções se uniram na vigilância inquisitorial aos artefatos de cultura. Os filisteus ganharam sua legião de honra, apesar da dignidade sombria. Os modernos inimigos das musas preferem que o povo brasileiro, cordialíssimo e ufanista, continuem sem saber de nada. Como são desprovidos de imaginação e curiosidade, acham que o povo brasileiro nem sabe o que é cultura, um filme chato que ninguém entende, exposição de teatro, quadro e pintura, pior ainda, a não ser que seja uma peça escrota com um artista da televisão que faz novela. Não há campanha de leitura que dê um jeito nisso. A ignorância e a pirotécnica verbal sempre estiveram de braços dados. Como escreveu Paulo Prado em seu clássico “Retrato do Brasil” – ensaio sobre a tristeza brasileira. Não se publicam livros porque não há leitores, não leitores porque não há livros, ciências, literatura, arte – palavras cuja significação exata escapa a todos”.
A vitoria dessa tribo é muito antiga. A informação substantiva se esfumaçou. Os filisteus são incapazes de compreender a vida em termos que escapem ao utilitarismo vulgar, coisa tão comum nas academias quanto fora delas. O filitinismo, esse fenômeno universal, segundo Nabokov, capaz de surgir em todos os lugares e classes sociais, no alcançou desde as priscas eras. A sua sombria e misteriosa força da natureza que transcende fronteiras ideológicas, seduziu o povo brasileiro. Estamos condenados a viver num país sem tradição cultural .
(Edvaldo Nepomuceno, escritor)