Opinião

Os médicos, a mamãe e o cordão umbilical

Diário da Manhã

Publicado em 6 de abril de 2017 às 02:07 | Atualizado há 8 anos

“Num” 3 de abril a mamãe, em dores de parto, desde o amanhecer, rezava para Deus e suplicava para os médicos para terminarem, logo de vez, com o seu suplício, pois nunca havia sentido dores de parto, afinal, eu era o seu primeiro rebento primogênito e ela, tadinha, uma  mocinha de 16 anos. Eu insistia, teimava em ficar ali, naquele mundo uterino, aconchegante e, naquela época, não faziam cesarianas a torto e à direita, como agora, eram raras e só viria a nascer na madrugada do dia seguinte, a 1h40 do dia 4, porque um médico, talvez, com o “saco cheio” de tantas delongas e lamúrias daquela mocinha – com sotaque baiano – resolveu “ajuda-la” e sentou-se, literalmente, em cima dela, em cima da sua enorme barriga,  como se monta numa vaca, ou numa égua e, pior, como se estivesse cavalgando, começou a fazer pressão para que eu saísse e, enquanto isso, um outro médico, ou médica, me “fisgou”, puxou ou, melhor, arrancou-me de dentro da mamãe, com uma enorme pinça, cujas pontas fizeram dois calombos, duas protuberância, quase imperceptíveis, verdade, mas, carrego-as até hoje, como uma marca daquele dia, o meu natal, com aquela ferramenta de metal, em cada canto do meu crânio, bem pertinho das “fontes”. Naquela época, esse monstruoso, ultrajante, criminoso “procedimento médico”, era considerado normal e, quando me perguntam a data do meu nascimento, respondo que nasci “de quatro”, duas vezes, quatro do quatro e, de lá pra cá, quer dizer, desde menino, sempre sofrendo, feito jumento com sede carregando água no lombo, nas cabaças. Eu acho, ou melhor, tenho quase certeza, que os médicos, depois de arrancarem-me, não esperaram os sessenta segundos para cortar o cordão que me ligava à mamãe, lógico, o umbilical, procedimento imprescindível para que o sangue transfira-se, em sua totalidade, da placenta para a criança –  “falei”, sobre isso, no artigo publicado no Dia da Mulher, 8 de março, sob o título: “Dia da Mulher, quanta hipocrisia, não é mesmo ministra Carmem Lúcia e “cachorronas”?”. É bom eu deixar, e bem registrado, enfatizado, que a minha admiração, claro, pela ministra Carmen Lúcia, tornou-se pública porque expu-la em outros artigos, assinados neste matutino vanguardista e, depois da péssima atuação da Foster, na Petrobrás, e da Rousseff, na presidência, brinco, também, até com as amigas, que a excelentíssima Carmen Lúcia é uma exceção ou, uma delas, à regra, então, voltando, para evitar problemas e processos, acho que é, por tudo isso que morro de medo de médicos e, lógico, de médicas, dentista, então, sinto pavor, pois, lá nos cafundecos da caatinga nordestina, aonde morei, dos 15 aos 17 anos, tive que extrair um molar sem anestesia. Extrai uma unha, do dedão do pé, sem anestesia, também.

Eu deduzi, e até mencionei no princípio, que aqueles médicos, certamente, não esperaram os tais sessenta segundos, ou melhor, um minutinho, porque isto não é feito nem hoje em dia no Brasil e, por incrível que pareça, é de desconhecimento geral o procedimento e, deduzi também, porque a mamãe, uma das pessoas mais perspicazes que conheci, a “Dona Jô”, Joventina Maria Gonçalves Dias, 39-2014, sempre falava, para quem quisesse ouvir, que eu quase morri de anemia quando criança, que eu sou uma “fera ferida” e que foi o leite da cabra da vovó paterna, lógico, mãe do papai, Antonio Gonçalves Dias Filho, 33-83, a vovó Irinéia, então, que foi o leite de cabra e os ovos de pata que me salvaram. Já foi comprovado, cientificamente, lógico, que os sessenta segundos de espera, antes de cortar o cordão umbilical, é um procedimento imprescindível para evitar as anemias. Eu sempre digo que esse é mais um erro, entre os inúmeros, que transformaram a indústria farmacêutica naquilo que é e, concomitantemente, termos uma farmácia, ou melhor, muito melhor, uma “drogaria” a cada três esquinas, em sendo assim, somos um povo cínico, o fumante falando mal daquele que cheira cocaína, o cheirador falando mal do “cara da pedra”, o pastor, ou o político, os melhores compradores de anfetaminas lá das suas drogarias, metendo o pau, na tribuna ou no púlpito, no cara que toma cachaça, e assim vamos indo, o roto falando do rasgado e o povo, cada vez mais drogado. Eu já contei e vou recontar, para finalizar, que eu estava desabafando, com a mamãe, sobre como anda a humanidade e ela, com aquela sua lindíssima voz, sem sotaque, uma dicção perfeita, proferiu uma das frases mais incríveis que eu ouvi na vida, ou seja: “Henrique, meu filho, se um dia eu tiver o privilégio de estar diante de Deus, farei mais perguntas do que agradecimentos”. Observe, por favor, misericordioso leitor, que ela não afirmou que não agradeceria, só disse que faria mais perguntas. Mamãe, obrigado por tudo, te amo. Até.

 

(Henrique Dias é jornalista)


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