Os nossos rios estão secando
Diário da Manhã
Publicado em 30 de setembro de 2016 às 02:15 | Atualizado há 9 anosFoi realizada aqui em casa, na quinta-feira passada, à noite, uma peixada, como se faz todo ano, com a nossa turma de pescaria, de Luiz Alves à Ilha do Bananal, no confortável barco-hotel Matucho, onde os pirangueiros (canoeiros) profissionais levam a coisa a sério, exigindo o respeito pelas medidas dos peixes e soltura dos em extinção. O lema deles é que vivem do peixe vivo e não do peixe morto.
O cozinheiro Geraldo Bayer, auxiliado pela nossa funcionária Célia, fez a excelente peixada com 10 quilos de Pintado, pirão e arroz. Dr. Renato trouxe uma salada decorada com morangos. Os tira-gostos e a cachaça Vale do Cedro ficaram por nossa conta.
Pescadores com esposas e filhos, que muito elogiaram o cozinheiro, foram: Ademir Martins, professor Renato, Tercílio, Durval, Alexandre, delegado Luziano e o filho Thiago, cel. Salso, Admar, Cleuber…
Dr. Nardeli-barítono, ao violão e seu irmão Osni, ao acordeom, cantaram em nossa homenagem, “Pagode em Brasília” e as canções italianas que eu mais gosto: Torna a Sorriento e O Sole Mio, estas pelo dr. Nardeli.
O papo maior foi com o dr. Luziano, delegado de Polícia Ambiental, sobre porque os rios estão secando, principalmente o Araguaia.
Discutimos que o dicionário registra que lago ou lagoa é uma porção de água cercada por terra. Mas lagoa e lago, para os entendidos, são diferentes: lagos são os que se comunicam com o rio e os acompanham por longa distância, como os 82 da enorme Fazenda Aricá que se inicia em Aruanã e segue até as Cangas, por 45 quilômetros, somando 3.000 alqueires (48.400 metros quadrados). Dizem que o primeiro proprietário foi o dr. Totó Caiado e quando a freqüentei, por diversas vezes, o proprietário era ou ainda é o autêntico ambientalista seu Guilherme, preservador da natureza e ótimo no copo de uísque. Nenhum pescador entra lá, a não serem alguns amigos ou estudiosos, inclusive eu. Os lagos são livres de predadores.
Esses lagos são chamados de “lago de boca franca”. Já lagoa é também uma grande quantidade de água cercada por terra, mas isolada de rio, como é a Lagoa Feia em Formosa, que de feia não tem nada. Os lagos são os berçários dos peixes dos rios.
Vamos relembrar os nomes dos principais lagos da Fazenda Aricá: Lajinha; Pedra da porta; dos Macacos; Cevinha; do Meio; dos Bois; Azul; do Bracinho; Feio; do Cedro; do Peixe boi; Matacorá: da Sucuri; do Mistério; Redondo e das Cangas… A Fazenda Aricá é um paraíso ecológico, verdadeiro berçário dos animais selvagens e dos peixes do fabuloso Berokan, o rio dos carajá. Se o rio for preservado será sempre a praia dos goianos e dos turistas de fora. A fiscalização deve ser acirrada e o Governo despejar milhões de alevinos, principalmente nos lagos.
Aricá é a árvore do cerrado mais conhecida por “cega-machado” e “nó-de-porco”, que florescem em julho e tingem as matas com as suas flores roxo-avermelhadas.
São vários os fatores que secam os rios: os desmatamentos, principalmente os ciliares, que não impedem as enxurradas trazendo areia para o assoreamento; os desvios para represas particulares e irrigações, que são centenas no Araguaia. Acontece o mesmo com o Meia Ponte, além dos lixos das cidades por onde passa e o despejo dos esgotos.
O problema mesmo é causado pelo homem, que a Natureza foi feita certinha pelas leis de Deus, que são exatas. Os asfaltos das estradas e das cidades quentes pelo sol e ainda o monóxido-carbono dos milhões de carros que vão lá pra cima, destemperam e mandam as chuvas para outros lugares, criando arrasos.
Aqui no Centro-Oeste, havia a chuva-das-flores em maio; a chuva-do-caju em julho e no dia 7 de setembro, os roceiros já estavam com o milho preparado para o plantio, porque, nesse dia, impreterivelmente chovia, indo até 19 de março, provocando a famosa enchente de São José, que esse é o Dia de São José. E agora, cadê chuva?
Também o calçamento de toda a cidade e dos quintais, impedindo a infiltração das águas, que se avolumam e vão fazer o inferno das pessoas pobres que moram nos casebres beira-córregos e beira-rios.
Carmo Bernardes, que eu o chamei de Cientista do Sertão no seu panegírico na Academia Goiana de Letras, deve estar se revirando no túmulo vendo o que está acontecendo com o seu Araguaia, que ele tanto amou, tanto o defendeu na fala e nas páginas escritas.
Disse que o João Leite é o menos sofrido, talvez pelo curso curto, que é formado pelos dois córregos chamados Dois Irmãos, que nascem logo ali na fazenda do Dr. Altamiro de Moura Pacheco, hoje Parque Ecológico, o pulmão verde de Goiânia.
Bem, essa foi a conversa que mantivemos com o dr. Luziano, do Meio Ambiente.
E por falar em Meio Ambiente, assim que saiu a minha Crônica Cartão de Visita? no Diário da Manhã, sobre o Bosque dos Buritis, o senhor prefeito, dr. Paulo Garcia, enviou caminhões e uma avalanche de funcionários, além de carros da Polícia e fizeram uma quase-geral, mas ainda falta muito por fazer. Os lindos bambuais verde-amarelo, permeados de bambus secos tombados, as árvores arrancadas pelo vento, sem raízes, devido aos cupins, estão no lugar; as pistas entupidas de folhas secas que se algum malvado riscar um pau-de-fósforo, está feito o inferno. Há necessidade urgente de um berçário para os patinhos recém-nascidos, que indo para o lago de baixo, junto à Assembleia, as tartarugas os devoram em poucos dias. Hoje, dia 27, são 29 amarelinhos, que encantam as crianças. Amanhã serão 25 ou 26… O berçário está aparentemente pronto, no lago de cima: falta apenas uma tela. Fomos nós, Leonardo Rizzo e eu, quando presidente e vice da Associação dos Amigos do Bosque dos Buritis, que o criamos.
Um recado para quem gosta do Belo – Façam uma visita ao Centro Livre de Arte, no Bosque dos Buritis e vejam as maravilhas das criações dos grandes artistas plásticos Amaury Menezes, Fogaça e a Poética do Cerrado, produção de Laila Santoro, com as artistas Eleusa Bonifácio, Mari Sousa e Samira Beérigo. Pássaros, flores, frutas, cores, pessoas, enfim, a natureza com todo o seu encanto.
Macktub!
(Bariani Ortencio. [email protected])