Opinião

Os que nutrem ódio ao PT

Diário da Manhã

Publicado em 5 de janeiro de 2016 às 22:39 | Atualizado há 9 anos

O artigo epigrafado foi publicado no ano de 2015. Como o ódio e a luta pela supremacia branca só se acentuam, vendo-se a onda conservadora não é falsa, o conteúdo do artigo citado merece republicação.

Assim como em outras terras, nas devidas proporções, os partidos de esquerda no Brasil prosseguem sofrendo verdadeira aversão dos segmentos mais ricos, alcançando também outras porções desventuradas. Aliás, num país de origem secular escravista, como o nosso, onde o racismo é o mais hipócrita e disfarçado das Américas, destacando-se a Sul-Americana, o sentimento de ódio de considerável parte dos mais ricos contra os mais pobres, incluindo partidos políticos, como o PT, por exemplo, por estranho que pareça, não chega a ser novidade. Trata-se, antes de tudo, de hipótese já comprovada. Notícia amplamente propagada nos meios de comunicação, especialmente a partir da apuração de votos nas últimas eleições (2014), quando se tornou vitoriosa a candidata do PT Dilma Rousseff, acirrando assim a ira dos seguidores do partido contrário, o neoliberal e dúbio PSDB que, certamente, foi surpreendido ao contar como certa a vitória naquela eleição. Notem que até ministro havia sido escolhido!

Foi justamente naquele “momento” de forte animosidade política contra Luiz Inácio Lula da Silva, que esse “nojo” virou também uma espécie de ódio indigesto, em desfavor do Partido dos Trabalhadores (PT) e seus aliados. De tão inusitado o ódio, a excelente atriz Fernando Torres, admirável articulista da “Folha de São Paulo”, num belo artigo “Os vermes” (F8 Ilustrada, 22/08/2014), considerou a animosidade que se criou entre PT e PSDB “algo próximo do horror que levou Caim a matar Abel. O Brasil saiu perdendo, e muito”, pontua, acrescentando (…) “o PSDB se revelou um partido dividido em caciques, incapaz de resolver suas vaidades internas, e o PT traiu seus próprios princípios para permanecer no poder”.

De sua parte, o ex-ministro e experiente economista Luiz Carlos Bresser Pereira, após vasto estudo e lançamento do livro “A construção política do Brasil”, fez expressiva entrevista na “Folha de São Paulo” (10 Poder, domingo, 1º de março/2015), onde, além de confirmar que os ricos nutrem ódio ao PT, avalia que “esse ódio da burguesia ao PT decorre do fato de o governo defender os pobres. Para ele, a defesa que governo faz dos pobres explica sentimento da burguesia em relação a presidente Dilma. Quer dizer: com as evidentes falhas dos vários pactos políticos de governos, gerando mais crescimento do que real desenvolvimento econômico-social em favor da sociedade, não raro as inegáveis reduções das desigualdades sociais e até raciais, sem omitir o descontrole econômico, a burguesia, classe alta ou “direita”, se assim puder defini-la, voltou a se articular e se unificar, ainda mais depois que perdeu as eleições, assim tudo fazendo para desarticular e inviabilizar o governo do segundo mandato da presidente Dilma, agora motivada pelo estranho ódio contra o PT, onde, decerto, reside o racismo como pai de todas as maldades, gerando os mais esquisitos preconceitos que se possa imaginar na cabeça da burguesia deslumbrada, devendo ser por isso que o economista Bresser Pereira, ao responder indagação na entrevista citada, “se a classe alta achou que podia ganhar a eleição do ano passado?”, respondeu:

“Sim. Aí surgiu um fenômeno que eu nunca tinha visto no Brasil. De repente, vi um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, contra um partido e uma presidente. Não era preocupação ou medo. Era ódio”, acrescentando:

“Esse ódio decorreu do fato de se ter um governo, pela primeira vez, que é de centro-esquerda e que se conservou de esquerda. Fez compromissos, mas não se entregou. Continua defendendo os pobres contra os ricos. O ódio decorre do fato de que o governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, elitista.”

Há mesmo um ódio político esquisito, realmente dotado de maldades, como “o espírito golpista dos ricos”, de que fala o economista citado, achando que os pobres não precisam de defesa e que o governo tem que ser inviabilizado de todo modo. A oposição não daria trégua, sabendo-se que a democracia no Brasil encontra-se novamente ameaçada, inclusive pela boatoria solta, irresponsável, alardeando-se até impeachment em desfavor da presidente, eleita segundo princípios democráticos, republicanos, fundados, pois, na legalidade. Se não bastasse, notem o que a já chamada “aliança diabólica e imoral da direita” vem fazendo com a mídia buscando culpa por hipótese, na base do “ouvir dizer”, assim tumultuando a governabilidade, criando e animando campanhas, soltando e divulgando boletins anônimos, folhetos infamantes, informações apócrifas, por incrível que pareça, já havendo até os que clamam pelo retorno ao golpe militar, o deplorável 1964, o que seria um absurdo na República brasileira de Poderes no mais pleno desempenho de suas funções típicas e atípicas, destacado pelo Judiciário, onde processar e julgar poderosos, especialmente da atividade política, não é mais novidade ou exceção alguma, sendo exemplares os casos do Mensalão e a ocorrente Operação Lava Jato, de “delação premiada”, sempre desafiante e questionável.

Enfim, temos salutares reações a tudo isso. Como outros setores da sociedade, o PT e o seu projeto político não morreram. A democracia não existe sem partido político, com suas importantes funções a desempenhar. Não é só para registro de candidaturas. O PSDB neoliberal, precisa retornar à social-democracia de onde veio, livrando-se, assim, da direita perversa. A situação crítica por que passa a Justiça brasileira, quase a ponto da prisão virar regra e a liberdade a exceção, como diria o ministro do STF Marco Aurélio, com relação às falhas e desafios da delação premiada, é passageira e talvez somente reflexo do instante tumultuado e conflitante em que passa a história política do País, exigindo bom senso, equidade e serenidade, a mais imparcial das virtudes, na compreensão do filósofo Noberto Bobbio.

As ofensivas, sejam tentativas de golpe partidário ou não, pouco importando a sigla, são armadilhas infundadas, de quem quer ganhar no tapetão, vencidas pelas justas reações dos que defendem o verdadeiro Estado Democrático de Direito, como acredito serem personalidades, entre outras, alem do notável jurista, advogado e professor da PUC-SP, Celso Antônio Bandeira de Mello, Marilena Chauí, Leonardo Boff, Cândido Mendes, Emir Sader, Fábio Conde Comparado, João Pedro Stédile, Celso Amorim, Franklin Martins, José Paulo Sepúlveda Pertence, Ennio Candotti, Waldir Pires, Luiz Pinguelli Rosa, Maria da Conceição Tavares e mais uma penca de lúcidos intelectuais que em 20 de fevereiro findo, assinaram um veemente Manifesto, amplamente divulgado, defendendo a democracia, Petrobrás, que querem destruir, assim denunciando o golpe e, só à guisa de referenciar, o corajoso texto do jornalista Luis Nassif, do jornal “GGN”, que só por si dignificaria o Manifesto.

Como diria Dom Orvandil, bispo anglicano, professor universitário, os “intelectuais verdadeiros se comprometem com o Brasil, para além da academia”.

 

(Martiniano J. Silva, advogado, escritor, membro do Movimento Negro Unificado (MNU), da Academia Goiana de Letras e Mineirense de Letras e Artes, IHGGO, Ubego, AGI, mestre em história social pela UFG, professor universitário, articulista do DM – [email protected])

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