Os senadores por Goiás
Redação DM
Publicado em 9 de setembro de 2016 às 01:38 | Atualizado há 7 mesesNo idos de 1978, nas proximidade do município de Itajá, extremo sul de Goiás, quase divisa com Mato Grosso do Sul, um acampamento de sem-terras foi cruelmente incendiado.
O incêndio foi criminoso, e morreram homens, mulheres e crianças.
Era governador do Estado Irapuan Costa Junior.
Irapuan tem uma ficha vistosa. Foi prefeito de Anápolis, deputado federal, senador por Goiás e Governador do Estado de 1975 a 1979. Sua primeira dama era a atual senadora por Goiás, Lúcia Vânia.
Quando Irapuan foi senador por Goiás, em 1987, ela era Deputada Federal. E assim os dois assentaram lugares de poder político atuando sempre em nome do Estado de Goiás.
Os dois tem origem na ditadura.
Irapuan Costa Júnior exercia a presidência da Celg quando foi nomeado prefeito de Anápolis (GO).
Permanecendo à frente da administração de Anápolis, em junho de 1974, por ocasião da visita de Petrônio Portela, então presidente nacional da Aliança Renovadora Nacional (Arena), a Goiânia, foi eleito pela Assembleia Legislativa governador de Goiás. Tendo conseguido, naquele momento, com o apoio de Portela, unificar em torno de seu nome as duas alas divergentes da Arena, lideradas pelo então governador Leonino Caiado (primo de Ronaldo Caiado) e pelo ex-governador Otávio Laje, distribuiu nota à imprensa afirmando: “Lutarei pela unidade partidária, que pretendo manter e ampliar dentro dos princípios revolucionários de 31 de março de 1964.”
Diante disso, provado está sua relação com o povo sanguinário do regime militar. Conseguiu tudo politicamente às espessas da ditadura.
A imprensa nacional disse sobre ele:
“Em 1986, Irapuan Costa Junior foi indicado para concorrer a uma vaga de senador constituinte na chapa de Henrique Santillo, seu adversário tradicional, que pertencia à ala progressista do PMDB. Sua indicação deveu-se a conveniências eleitorais e políticas, pois, além de ter boa votação, possuía recursos financeiros e era um interlocutor confiável por parte dos setores conservadores. Eleito com mais de 800 mil votos e com o apoio da União Democrática Ruralista (UDR) – entidade que representou na Constituinte os interesses dos grandes proprietários contra a reforma agrária –, garantiu também a eleição de sua esposa, Lúcia Vânia (PMDB-GO), para a Câmara dos Deputados”. (FGV).
Sua mulher, Lúcia Vânia se firmou liderança política, tendo ocupado o cargo de Secretaria Nacional de Assistência Social no governo de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 1998. Em seguida, elegeu-se deputada federal por dois mandatos. Em 2002, foi eleita senadora. Foi reeleita em 2010.
Passou pelo PMDB, PP, PSDB e hoje está filiada ao PSB. Isso é que é uma verdadeira ‘salada de frutas’ política. É bom trazer à memória que o Banco Brasileiro e Comercial, BBC, à época em que foi liquidado, tinha na como presidente esse mesmo Irapuan Costa Jr, então, marido de Lúcia Vânia. “Brasília – O Banco Central decretou ontem, 15 de maio de 1998, a liquidação extrajudicial de mais dois grupos financeiros: o Banco Mercantil de Descontos (BMD), com sede em São Paulo, e o Banco Brasileiro Comercial SA (BBC), sediado em Goiânia. De acordo com nota distribuída pelo BC, as duas instituições apresentavam grave desequilíbrio financeiro, ou seja, um rombo em suas contas que representava grande risco para os credores dos dois bancos.
O BBC tinha nível elevado de inadimplência e não vinha fazendo provisões suficientes para cobrir o calote de clientes. Mesmo fazendo aportes de capital exigidos pelo BC, não conseguiu solucionar o problema. O banco, que tinha um passivo de R$ 238 milhões em dezembro passado, também padecia de custos administrativos crescentes.
No Recife, o BBC mantinha uma agência desde 1988, na Avenida Marquês de Olinda. No entanto, o seu fechamento causou um pouco de tumulto por conta dos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que tinham o pagamento marcado para ontem. Durante a manhã, eles se concentraram na porta da agência. Sem poder receber seus benefícios, eles aguardavam que a gerência geral fornecesse alguma informação para onde deveriam se dirigir, o que não acontecia. (JC Recife).”
“Também na época, o então Senador por Goiás Mauro Miranda declarou que o açodamento da decisão do Banco Central inviabilizou as negociações para que o BBC se associasse a um banco estrangeiro. Com isso, 700 trabalhadores do banco estão ameaçados de perder seus empregos e os pequenos investidores correm o risco de percorrer “um longo calvário” para recuperarem seus depósitos.”(Agência Senado).
O interessante é que à época da liquidação do banco, o fato causou desespero entre os correntistas, que não puderam receber de pronto seu dinheiro, senão depois de muita angústia, natural a credores de bancos que fecharam as portas. O efeito é em cascata, e muitas pessoas quebraram também, por terem ali seu dinheiro preso, até que fosse devidamente devolvido.
Getúio José de Araújo Silva é presidente da Associação Nacional dos Credores do Banco Brasileiro e Comercial, ASSBBC, nos noticiou que hoje quase todos os credores tiveram seu dinheiro devidamente devolvido ao longo destes 13 anos em que esteve à frente da mesma, e ao longo dos 18 anos de liquidação.
É engraçado perceber como tem gente que vem a este mundo apenas para provocar a angústia alheia, viver da angústia alheia, se locupletar do pobre e estrebuchar sobre o pequeno e necessitado. O jornal Folha de São Paulo veiculou matéria com o seguinte título: Acompanhantes de luxo: Folha de S.Paulo diz que “as festas mais famosas de Brasília acontecem em um barco de um senador goiano”.
A propósito da aprovação do impeachment na Câmara Federal, em que uma infinidade de deputados dedicou o voto às suas famílias, esposas e filhos, a Folha de S.Paulo, em seu portal na internet, afirma que “amantes” e “acompanhantes” também foram lembradas pelos nobres parlamentares – embora em mensagens pelo WhatsApp a que o jornal teve acesso.
Segundo a reportagem da jornalista Eliane Trindade, inúmeras acompanhantes de luxo acostumadas a atender parlamentares federais confirmaram que receberam torpedos sobre as dedicatórias na votação do impeachment.
A reportagem registra que, em Brasília, há um intenso mercado de sexo pago diretamente ligado aos membros do Congresso Nacional – que, entretanto, sofreu uma retração com a sessão do impeachment. “Com a presença rara em Brasília de mulheres e filhos no fim de semana para acompanhar a sessão histórica, o circuito de festas privativas promovidas por parlamentares ficou, digamos, mais familiar”, acrescenta Eliane Trindade, informando: “Na atual legislatura, as festas mais famosas acontecem em um barco de um senador goiano, apelidado de ‘love boat’. O senador também costuma emprestar o ‘barco do amor’, que conta com uma única e luxuosa suíte, para amigos”.
A matéria não revela o nome do senador goiano. Goiás tem 3 representantes no Senado – uma mulher, Lúcia Vânia, do PSB e dois homens, Ronaldo Caiado, do DEM, e Wilder Morais, do PP. (Goiás 24 horas).
Wilder Morais assumiu o Senado Federal em 13 de julho de 2012, em substituição à Demóstenes Torres, cassado pelo Senado Federal.
Atualmente é presidente Estadual do Partido Progressista (PP) em Goiás.
Ronaldo Caiado é senador por Goiás, pelo DEM. Sua história é marcada pela defesa do latinfúndio.
Fundador da União Democrática Ruralista , UDR, foi seu presidente de 1986 a 1989.
A figura de Ronaldo Caiado, principal articulador e primeiro presidente da entidade, é a referência mais significativa para a compreensão da natureza da UDR. Médico, fazendeiro, pertencente a uma tradicional família de políticos do estado de Goiás, foi o principal defensor da autonomia da entidade como condição primeira para mobilização, mentor dos leilões de gado como fonte da arrecadação de recursos e partidário da violência como o instrumento mais eficaz no enfrentamento das ocupações de terra, que começavam a ganhar importância como forma de luta.
Esta uma entidade associativa brasileira reúne proprietários rurais e tem como objetivo declarado “a preservação do direito de propriedade e a manutenção da ordem e respeito às leis do País”.
De um modo geral, na memória coletiva dos grandes proprietários de terra e empresários rurais, a UDR é considerada um marco, um divisor de águas na luta contra a reforma agrária no Brasil e na valorização do “produtor rural”. Ao mesmo tempo, ela permanece, socialmente, como um estigma que denuncia a sua trajetória de posições tradicionais e intransigências. Visto de uma perspectiva mais ampla, o fenômeno UDR põe a nu os traços de uma sociedade enraizada no patrimonialismo, no corporativismo e na violência.(FGV).
Muitos do integrantes da UDR foram condenados por homicídio, como o ruralista Marcos Prochet, ex- presidente da UDR, que em julgamento histórico, o júri popular o condenou a 15 anos e nove meses de prisão por homicídio duplamente qualificado, por recurso que impossibilitou a defesa da vítima e ocultação da prática de outros crimes.
Este é parte do legado de Ronaldo Caiado Demóstenes Torres, ex-senador por Goiás, enfrentou processo de cassação no Senado Federal, processo esse que teve a ínfima duração de 47 dias. Foi de longe o melhor senador por Goiás, tendo como legado ter sido relator na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal que resultou na Lei de Ficha limpa.
Esta lei colocou freios nos gastos do executivo, o que causou mal estar entre os parlamentares, que deram o troco, com a cassação. Participou ativamente na elaboração do Estatuto da Igualdade Racial e se mobilizou na defesa dos sistemas de cotas em universidades públicas.
Em 2012, foi acusado de ter ‘ligações’ com acusados na Operação Monte Carlo, o que lhe rendeu sua cassação.
Tudo começou em março de 2012, o que leva a crer que foi um escândalo montado para não permitir sua eleição a prefeito de Goiânia, já que era de longe o favorito. Em outubro do mesmo ano, foi eleito Paulo Garcia, pertencente ao Partido dos Trabalhadores.
Escrevi um artigo em sua defesa, e lá afirmava que um dia era o dia da caça e outro do caçador, e que a queda de Lula e Dilma coincidiriam com a ascensão de Demóstenes Torres, vez que sua inocência seria devidamente provada no STF.
E por falar em STF, não há que se esperar justiça de um Supremo tão perdido e imerso em lamas de acusações de injustiças sem fim, mormente nos dias atuais.
Agora, para o leitor, tudo está mais claro, com o impeachment de Dilma, que sem provas consistentes, foi condenada por crime de responsabilidade a despeito de seus 54 milhões de eleitores.
Há semelhanças nas duas cassações, no que diz respeito à sua ilegitimidade e ilegalidade. Demóstenes disse à época, sobre sua cassação: “Para tripudiar sobre mim e o mandato que o povo me confiou, desrespeitam os mais elementares princípios constitucionais.” “Fui cassado sem provas, sem direito a ampla defesa e sem ter quebrado o decoro parlamentar.” “ O método de danificar a honra é tão eficaz que quem acreditava em mim passa a duvidar, e quem duvidava passa a ter certeza da culpa”. “Ainda com escutas sendo ilegais e áudios montados, não existe neles nada que prove que cometi irregularidades, porque não as cometi”.
Em um último artigo escrito e veiculado pelo Jornal Opção, “Quando o mal vem do mar”, Demóstenes Torres, desabafa: “Fui a Portugal antes do terremoto que o vazamento criminoso de provas ilegais e áudios montados provocou em minha vida, do tsunami que a publicação das transcrições em pílulas ocasionou na carreira construída com tanto esforço e das chamas ateadas por quem amputou um mandato popular sem sequer dar chance à ampla defesa.”
Um intelectual, um erudito.
Deixou um legado de trabalho na condução de leis inteligentes que mudaram o ruma do país, tendo sido figura de destaque no Congresso Nacional, e por isso, vítima da inveja implacável dos demais senadores, que não se constrangeram em eliminar seu mais notável concorrente. Saturnino Braga, um dos homens públicos mais honestos do Brasil, moral e intelectualmente disse em um artigo reproduzido pelo site ‘Conversa Afiada’ o seguinte: “Respeitosamente, Dilma Rousseff respondeu por mais de dez horas, a todas as indagações dos senadores. Honestamente. Dilma Rousseff foi honesta. Mas foi condenada, foi deposta; pelo Congresso mais corrupto da história do Brasil.”
Neste momento, as histórias do ex-Senador Demóstenes Torres e de Dilma Rousseff, se cruzam neste mar revolto da vida, no quesito cassação injusta.
Eis o paralelo.
O Brasil precisa avançar em democracia, porque da democracia tão apregoada e defendida, não nos restou nada, e neste mar revolto, salvam-se apenas os desonestos.
Silvana Marta, advogada e escritora. Twitter: @silvanamarta15