Os super queridos “brothers” Mylza e Walter Geraldo Samahá…
Diário da Manhã
Publicado em 15 de fevereiro de 2018 às 21:01 | Atualizado há 7 anos
Nunca houve na cidade de Goiás – década de 70 até a bem pouco tempo – quando faleceram – uma dupla de irmãos tão unidos – tão solidários – tão elegantes – quanto Mylza e Walter Samahá.
Filhos de Rosa Pelles e de seu primo Abdalla Samahá – intelectual. Fundador da AGI e da Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás – Acieg.
Quando estudante de Direito, na UFG – época do início da ditadura – era líder estudantil e tinha poder de mando junto ao Reitor – legalizando alunos estrangeiros – conseguindo transferências de estudantes de Federal para Federal em outros estados.
Pois Waltinho era muito inteligente e culto – sempre primeiro aluno – mas de uma modéstia e simplicidade à toda prova…
Era riquésimo – pois sua avó brava comerciante – que veio do Líbano com 11 anos – Sureia Pelles – construiu um verdadeiro império com sua loja no Largo do Mercado – em frente à belíssima igreja de São Francisco de Paula – onde está abrigada a grande e bela imagem do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos…
Sureia também comprava ouro de pequenos garimpeiros das entranças do Rio Vermelho e os revendia com margem de lucro ao Banco do Brasil – pois naquele tempo a impressão de dinheiro era vinculada com o lastro em ouro.
Seu guru nessa época era o fazendeiro, empresário e banqueiro Hermógenes Coelho.
Mas Sureia Pelles se negava sempre – para não chamar atenção – que era uma pobre lutadora…
E realmente era.
Tinha classe e elegância para com os graduados da cidade,
E generosa e boa para com os pobres…
Tinha adoração por todos da família Caiado – cujo patriarca Antônio José Caiado – presidente da Provincia do Estado de Goiás na época quando – os Pelles chegaram – em 1890 – sendo a mais antiga família de imigrantes libaneses a habitar o abençoado solo goiano.
Foram regiamente acolhidos por ele – pois meu avô paterno Felipe Pelles – líder do grupo dos três irmãos que vieram com ele Francisco – Chico – pai da única filha Sureia – que ficou com a mãe Nazle Gorra – em Zahle, no Libano.
Enquanto seu marido Francisco – se estabelecia com os irmãos Felipe(líder) e o caçula João Pelles – pai de Jorge, José e João Pelles.
Avô de Luziam Pelles Honorato – de Wesliam Pelles Roriz. Bisavô de Ernesto Pelles Caiado de Castro Roller – nosso jovem e bravo político de Formosa.
Veio um outro irmão – chamado Miguel – que não se adaptou regressando ao Líbano em seguida.
Quando meu avô Felipe Pelles e seus irmãos foram apresentar no Palácio Conde dos Arcos suas “credenciais” do Libano…
Eles eram ricos e prósperos em Zahle – considerada a namorada ou princesa do Líbano – de tão bela e importante…
Penso que seja cidade irmã da muito peculiar Vila Boa…
Tinham chácara de uva e eram vizinhos dos Jereissate – do político Tasso e donos do Iguatemi – que vieram bem depois para Fortaleza – onde se estabeleceram como importador e depois – como fabricantes de tecidos…
O velho Caiado sabedor que eram comerciantes os encaminharam imediatamente – para a loja bem em frente ao Conde dos Arcos – onde funcionava a antiga Choparia – cujo o poderoso dono era seu genro e sobrinho Felipe Baptista de Alencastro – grande comerciante como raio de ação em várias cidades do Mato Grosso – inclusive Cuiabá e Campo Grande – numa brava epopéia empreendida por seu guerreiro e emblemático pai João Bapitsta de Alencastro – que veio do Rio Grande do Sul – via Rio da Prata fincando sua bandeira de progresso e ousadia no último quadrante a famosa e muito peculiar – Cidade de Goiás – importante local que faltava para demarcar de vez seu vasto território comercial.
Na velha capital da Província de Goiás encantou-se por Joaquina Emilia Caiado de Souza – conhecida por Quinita – irmã dileta do Velho Caiado – de onde veio seu filho dileto e herdeiro Felipe Baptista de Alencastro que esposou sua prima – Thereza Flamina Caiado de Alencastro – filha dileta do Velho Caiado…
É bom que se diga que os descendentes de Thereza Flamina/Felipe Baptista são duas vezes Caiado. Há outros casos também de reentranças familiares.
Por isso que todo Alencastro é Caiado
Na família tem vários casamentos de dois irmãos – casados com duas irmãs…
Aliás as antigas famílias tradicionais há muitos casos assim…
Casamentos entre primos engrandece a raça – com seus bons e construtivos costumes
Somando ainda os bens materiais – para se solidificarem cada vez mais…
Voltando aos adoráveis Valtinho e Mylzinha Samahá .
Quando Valter Geraldo Samahá nasceu nos anos 40 – como o primeiro filho homem da família de Tio Chico – tio e padrinho do meu pai Nagib – também varão de Barrhia que é prima do meu avô Felipe Pelles.
Eu também sou neto varão deles.
Isso tem muito significado na milenar cultura árabe.
Quando o homem é o centro do Universo como filho de Deus.
Na nossa família Pelles – mais ainda – pois somos “melquitas” – os primeiros cristãos do mundo – por isso nos rotulam de parentes de Jesus.
Somos naturalmente bons e generosos. E aguentamentos calados todo tipo de sofrimento.
Meu avô Felipe Pelles – como líder – fez o calvário várias vezes.
Sua mulher idem – veio do Líbano com 16 anos e nunca mais viu seus pais e irmãos.
Meu pai também.
Mylzinha e Vatinho idem…
E esse que vos escreve também…
Não interessa a ninguém nossa dor e tristeza.
Muito menos nossas alegrias e sucessos. A não ser a nós mesmos…
A casa/loja do Largo do Mercado – a próposito meu avô que iria ficar com ela. Antes a loja dos irmãos Pelles – quando solteiros – era na Rua 15 esquina com a Rua do Larguinho.
As casas aliás eram todas alugadas.
Quando meu avô voltou em 1904 pela segunda vez casado com minha avô Barrhia sua prima – trouxe a cunhada Nazle Gorra – mulher de tio Chico – e a filha Sureia.
Como Chico ficou tomando conta dos negócios e do irmão caçula – João.
Vovô Felipe Pelles cedeu a casa gentilmente para Tio Chico como retribuição.
Era um local muito estratégico essa praça onde chegava os fazendeiros com suas mercadorias – uma espécie de feira.
Para em seguida comprarem dos comerciantes. .
Mas o mais importante daquele local para o muito piedoso Felipe Pelles – ele queria que a bela e mistica imagem do Senhor dos Passos passasse sempre à porta do seu muito querido irmão Francisco como graça e lembrança dos calvários que ele e seus irmãos haviam percorrido do Líbano hostilizado à tranquila e hospitaleira Cidade de Goiás – a sua sempre amada terra adotiva…
Voltando a meu pai e irmãos – Jorge(Dojão) e tio Michel – o caçula e único sobrevivente da segunda geração dos Pelles – ainda super lúcido aos 94 anos – tinham alucinação por Valtinho.
Todo tipo de negócio que Valtinho iria trabalhar ele consultava primeiro papai – velho e sempre solitário comerciante de guerra.
Com aquiescência de sua mãe Rosa – uma águia de inteligência ao lado de Nagib e de sua dileta prima em segundo grau mais velha – Linda Pelles – nossa impagável maezinha….
Tia Fina – a grandiosa Josephina Pelles – tia única e segunda mãe de Valtinho – a grande sensatez apaziguadora.
Entra com seu natural extintor quando o circo pegava fogo.
Mylzinha idem – na falta de tia Fina…
Mylzinha se preocupava com todos da família e ainda com os amigos próximos.
Era de uma atenção única.
Éramos por demais amigos. Eu adorava ouvir Mylziinha – sair com Mylzinha e comer em casa de Mylzinha – que tinha uma mesa deliciosa comandada por Luzia – sua fiel escudeira de séculos – que faceleu de câncer para a grande tristeza de Mylzinha…
Quando Luizia partiu – Mylzinha começou a morrer…
Valtinho adorava MPB toda vez que ele comprava um novo disco chamava papai para ouvir em sua grande varanda da velha casa do largo do Mercado.
Eu grudado em papai como filho varão e zelador das tradições da família ficava estático no mais total silêncio – os dois ouvindo e discutido.
Foi em casa de Valtinho que vi pela primeira a transmissão do “Jornal Nacional” em via Embratel pela Rede Globo – com Cid Moreira – Hilton Gomes – João Saldanha – eu grudado na TV preto e branco da Philco – que Valtinho vendia com grande desenvoltura…
Alô tia Vivi Nabuco estou super emocionado escrevendo isso…
Foi em casa de Valtinho que assistimos também – papai – Tia Linda e eu a primeira Copa do Mundo – transmitida ao vivo e a cores em 1970 pela pioneiríssima Rede Globo – do inigualável Doutor Roberto Marinho – quando fomos uma vez mais campeões do mundo.
Eu cursava o primeiro ano ginasial tinha medo de tudo e de todos – pois estava trocando de penas a primeira vez.
Tio Michel(Nadio) Pelles era o melhor e mais próximo amigo do sempre gentil e alegre Valtinho.
Tinha autonomia sobre ele.
Tanto é que o filho varão de Valter Geraldo Samahá – Jorge, médico – funcionário graduado da Anvisa – brlhante – sempre primeiro lugar em tudo como pai – super discreto e sistemático – só se abre para Michel Pelles.
Só nós nos entendemos…
Brigamos – mas fazemos as pazes em seguida.
Nada de guardar mágoas, ódios e ressentimentos…
Mamãe – muito bem resolvida e feliz, descendente direta de todos os que ajudaram os Pelles – quando aqui chegaram – nunca entrou na briga deles…
Uma vez houve uma contenda feia na rua do Valtinho entre tio Dojão – sangue quentérrimo – mas as de uma bondade e ternura de um gato…
Tia Rosita – Rosa Pelles, mãe do Valter – saiu-se com essa à queima roupa:quando mamãe foi visitá-la logo após o entrevero.
– Por causa de você Dojão quase mata meu filho…
– De mim não Rosita. Que culpa tenho eu se eles são geniosos e mal educados???
E saiu dali injuriada e foi desabafar em casa da prima e muito amiga Consuelo Caiado..
Que a confortou na maior candura:
– Quando for assim Nice venha para cá que sou sua prima Caiado – e nós nos entendemos muito bem..
– Deixa eles para lá… “Cada macaco no seu galho”… Eles são turcos que se entendem…
Quando dei um grito – de tanto rir…
Sempre foi sábia a adorável e muito inesquecível Tia Consuelo.
Guardiã da família e secretária do seu ilustre pai Totó Caiado..
Assim como foi a grande matriarca carioca Maria do Carmo de Mello Franco Nabuco – primeira filha e guardiã do poderoso e emblemático político do Triângulo – Afrânio de Mello Franco – amigo tipo unha e cutícula do velho e também emblemático Totó Caiado…
(Jota Mape, jornalista)