Parábola das dez virgens
Redação DM
Publicado em 4 de agosto de 2018 às 22:29 | Atualizado há 7 anos
“Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo e da noiva. Cinco dentre elas eram insensatas e cinco prudentes.
As insensatas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo. As prudentes, porém, levaram azeite em seus vasos e também as lâmpadas.
Demorando o noivo, todas elas sentiram sono e adormeceram. Mas à meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Aí vem o noivo! Saí ao seu encontro!’
Logo se levantaram todas aquelas virgens e prepararam as suas lâmpadas. E as insensatas disseram às prudentes: ‘Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas estão se apagando. As prudentes responderam: ‘Não seria o bastante para nós e para vós. Ide antes aos que o vendem e comprai-o para vós’.
Enquanto foram elas comprar o azeite, chegou o noivo e as que estavam preparadas entraram com ele para o banquete de núpcias, e fechou-se a porta.
Finalmente, chegaram também as outras virgens e disseram: ‘Senhor, senhor, abre-nos!’ Mas ele respondeu: ‘Em verdade vos digo: não vos conheço!’
Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora”.
(Evangelho de Mateus, cap. 25, vv. 1 a 13).
A Parábola das dez virgens representa o processo evolutivo do espírito rumo a sua perfeição intelecto-moral. Jesus compara o Reino dos Céus, ou seja, o Reino dos bem aventurados com dez virgens a espera do noivo. O sentido de virgindade está na ignorância e na simplicidade com que Deus cria os espíritos para marcha do progresso. O noivo é o prêmio da perfeição alcançado depois de inúmeras jornadas evolutivas. Diante desse processo, Jesus enfatiza que a metade desses espíritos segue o caminho reto e a outra metade escolhe o caminho mais demorado da evolução espiritual. Esse contexto também pode ser comparado aos alunos durante a educação escolar: alguns galgam posições mais avançadas de escolaridade ao seguir os critérios da escola, são as virgens prudentes; outros estudantes caem na repetência e demoram a concluir as séries e os ciclos previstos, são as virgens insensatas.
Todos os espíritos recebem as lâmpadas das consciências para orientá-los para o caminho reto. Em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec pergunta aos espíritos superiores: Onde Deus escreve suas leis? Eles respondem: Na consciência. Porque é a consciência o roteiro seguro para praticar o bem e desprezar o mal. O bem é toda atitude de respeito aos direitos naturais e o mal é qualquer prática contrária a esses direitos.
O azeite para as lâmpadas é o cumprimento dos deveres. No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec esclarece que “o homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais do que as criaturas e ama as criaturas mais do que a si mesmo”. Somente por meio do cumprimento dos deveres morais e materiais será possível obter uma consciência iluminada capaz de elevar o Espírito à condição de Espírito Puro, à semelhança de Jesus. Os vasos que carregam o azeite é o trabalho no bem. Somente por meio do trabalho objetivo, disciplinado, vigilante é possível dá cumprimento fiel do dever nosso de cada dia. Porque o dever é o verdadeiro “pão nosso de cada dia”, conforme solicita Jesus em sua prece perfeita direcionada a Deus. Os espíritos insensatos não cumprem os seus deveres porque são preguiçosos e imprevidentes. Os espíritos prudentes sabem de suas responsabilidades, escolhem o trabalho redentor e não perdem tempo com algo que não lhes compete.
Enquanto o prêmio (o noivo) não aparecia, todas dormiram. É natural que se durma quando o sono aparece, mas alguém que não dormia e, à meia noite, gritou: “Aí vem o noivo! Saí ao seu encontro!” São as vozes dos bons espíritos que nos orientam para o caminho do bem. Eles estão vigilantes para nos conduzir ao caminho da felicidade merecida. Não há vitória sem méritos e todo mérito deve ser reconhecido.
Depois do anúncio, houve um alvoroço. Todas as virgens se levantaram ao encontro do prêmio do Reino dos Céus. No entanto, as virgens insensatas não tinham azeite suficiente para as suas lâmpadas e por isso não puderam sair noite adentro ao encontro do noivo. Desesperadas, solicitaram às virgens prudentes que lhes dividissem o azeite, mas a resposta foi: “Não há o bastante para nós e para vós”. Isto porque não se recebe o prêmio da felicidade eterna sem o trabalho proveniente da disciplina do cumprimento dos deveres do dia a dia. Cada um colhe o que semeia. Na senda da evolução, é possível ajudar, socorrer, mas não evoluir no lugar de outrem. Os pais orientam seus filhos, ajudando-lhes no caminho do aperfeiçoamento, mas não podem evoluir por eles.
Segundo a narrativa de Jesus, as virgens insensatas foram comprar o azeite, mas o Reino dos Céus não pode ser comprado senão pela moeda do cumprimento dos deveres e isto depende de tempo. Não se evolui de um momento para o outro. É verdade que a decisão em mudar pode ser imediata, mas a metanoia, ou seja, a mudança profunda dos hábitos e da estrutura da personalidade não ocorre instantaneamente, depende de trabalho, de renúncias e de sacrifícios durante o tempo devido. Por isso, ao retornarem da compra do azeite, as virgens imprudentes não puderam participar das alegrias que somente uma boa consciência pode proporcionar. A porta dos Reinos dos Céus estava fechada porque não há ventura sem mérito.
Jesus finaliza a parábola das dez virgens, dizendo: “Vigiai, portanto, porque não sabeis nem o dia nem a hora”. A vigilância moral é fundamento do processo evolutivo. Não adianta construir de um lado e destruir de outro. Trabalho sem vigilância é tempo e esforço corroídos. Uma fragilidade moral poderá prejudicar ou destruir anos de trabalho ou toda uma vida de dedicação. Conhecer e desenvolver os talentos sem protegê-los das ameaças ou armadilhas da fragilidade moral é sucumbir na reta final. As virgens insensatas e prudentes estiveram no mesmo ambiente a espera do noivo. Aparentemente, estavam no mesmo patamar evolutivo porque participaram juntas da mesma expectativa, mas as virgens insensatas não estavam aptas. Toda fragilidade moral tem como raiz mais profunda a insensatez, ou seja, a injustiça nos pensamento e nos atos. Aristóteles defendeu a justiça como a mais bela das virtudes porque as sementes da fé, da esperança e da caridade somente florescem no solo fértil justiça. O amor somente brotará por onde o arado da justiça passar. Cuidemos, portanto, das nossas lâmpadas, não esqueçamos o azeite.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é escritor, pesquisador, membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, www.cultura.trd.br)