Parábola dos talentos
Redação DM
Publicado em 18 de março de 2018 às 00:01 | Atualizado há 7 anos“Será também como um homem que, tendo de viajar para fora do país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens. A um deu cinco talentos, a outro dois e a outro um, segundo a capacidade de cada um deles. Depois partiu.
Imediatamente, o que recebera cinco talentos saiu e negociou com eles, ganhando outros cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou outros dois. Mas o que só tinha recebido um, saiu, fez uma cova na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Depois de muito tempo, veio o senhor daqueles servos e ajustou contas com eles. Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou-lhe outros cinco, dizendo: ‘Senhor, confiaste-me cinco talentos. Aqui estão outros cinco que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Entra na alegria do teu senhor!’
Aproximando-se também o que recebera dois talentos, disse: ‘Senhor, dois talentos me confiaste. Aqui estão outros dois que ganhei’. Disse-lhe o senhor: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Entra na alegria do teu senhor!’
Aproximando-se, finalmente, o que recebera um talento, disse: ‘Senhor, eu sei que és um homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas onde não espalhaste. Assim, pois, atemorizado, fui ocultar debaixo da terra o teu talento. Aqui tens o que é teu’.
Respondeu-lhe o senhor: ‘Servo mau e preguiçoso, sabias que eu ceifo onde não semeei e que ajunto onde não espalhei? Devias, portanto, ter depositado o meu dinheiro com os banqueiros, e, quando eu viesse, receberia com juros o que é meu. Tirai-lhe o talento e dai ao que tem dez. Porque a todo aquele que tem será dado e terá em abundância. Mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Lançai o servo inútil nas trevas exteriores. Ali haverá choro e ranger de dentes!’ ”
(Evangelho de Mateus, cap. 25, vv. 14 a 30).
A Parábola dos Talentos narrada unicamente pelo Evangelho de Mateus é semelhante a Parábola das Minas narrada por Lucas (19:12-27). É o prosseguimento do Sermão Profético de Jesus, complementando a Parábola das dez virgens. Mais uma vez, o Mestre ressalta a necessidade do cumprimento do dever diante da confiança da Misericórdia Divina. Nesta parábola observa-se que a Lei Moral do Trabalho e a Lei de Justiça, Amor e Caridade estabelecem diretrizes seguras para o progresso intelecto-moral do Espírito.
Os talentos são habilidades naturais concedidas por Deus ao Espírito, por exemplos: a vida, a inteligência e a liberdade. Na parábola, Jesus considerou o talento como unidade monetária que valia 60 minas. Mina era uma moeda grega que valia cem dracmas. Um boi naquela época custava cinco dracmas. Portanto, o talento, era uma unidade monetária de muito valor.
O Mestre estava às vésperas de ser preso e martirizado, fatos que considerou o prenúncio de sua viagem para fora do país segundo analogia com a parábola. Os servos são os seus discípulos, que receberam de suas mãos os bens mais preciosos da verdade, do amor e da justiça. De acordo com a capacidade de cada um, Jesus outorgou-lhes a missão de multiplicar os seus ensinos.
Os discípulos do Cristo são aqueles que se comprometem a cumprir a missão de praticar e divulgar a sua mensagem. Nesta narrativa, esses discípulos são representados por três servos. Mais uma vez, o número três que simboliza a comunicação para o perfeito entendimento da mensagem.
Ao primeiro servo ou discípulo, aquele que o senhor confiou maior bem para ser administrado, foi confiado cinco talentos. O número cinco simboliza a expansividade. Ao segundo, o senhor deu dois talentos. O numero dois representa o companheirismo. Ao terceiro deu apenas um talento. O número um simboliza a individualidade. A soma dos talentos oferecidos aos servos é oito, número que representa o poder, a riqueza.
Depois de confiar os seus bens para aos seus funcionários, o homem partiu, simbolizando o que aconteceu ao Mestre depois de fechar o seu ciclo de vida terrena.
Os dois primeiros servos dobraram os talentos enquanto o que recebera um talento enterrou o dinheiro com medo de receber reprimenda de seu patrão por realizar negócio mal sucedido.
Diante das posturas dos bons servos, o homem lhes disse: “Muito bem, servo bom e fiel! Sobre o pouco foste fiel, sobre o muito te colocarei. Entra na alegria do teu senhor!” Quem cumpre seus deveres, ainda que mínimos, ganhará a alegria de assumir maiores responsabilidades diante da confiança do Pai Celestial.
Ao que nada fez para multiplicar o talento, o homem o chamou de “Servo mau e preguiçoso” e ordenou que o único talento confiado fosse transferido ao que tinha dez talentos e que esse servo fosse lançado nas trevas exteriores, ou seja, nas dificuldades tortuosas que encontraria fora da obediência diante das Leis de Deus.
Outras reflexões devem ser destacadas a partir desta parábola:
- a) os talentos foram distribuídos na proporção da capacidade administrativa de cada um, ou seja, de seus níveis evolutivos;
- b) os talentos também representam as oportunidades evolutivas oferecidas pela misericórdia divina a cada Espírito encarnado ou desencarnado;
- c) a gratidão é a virtude que inicia o progresso em todos os sentidos. Quem não sabe agradecer o que tem, perderá até o que pensa ter.
- d) na seara da responsabilidade, é melhor fazer o mínimo possível do que nada fazer ou atrapalhar os que fazem. No caso da parábola, depositar o talento num banco para haurir rendimentos seria a última opção porquanto não há trabalho com essa prática. Mas nem isso foi feito pelo terceiro servo.
- e) as bênçãos são multiplicadas quando se é responsável, produzindo por intermédio do trabalho mais singelo em prol da vida, do aproveitamento do tempo, da liberdade, do respeito, da família, da saúde, da inteligência e de todas as oportunidades oferecidas pela bondade divina.
- f) a recompensa dos que cumprem seus deveres morais, sempre será a alegria que uma consciência reta pode proporcionar.
O dia ou o momento da prestação de contas ante as bênçãos recebidas sempre chegará, embora não seja possível saber quando e como ocorrerá essa cobrança. No entanto, diante do tribunal da consciência, todos os dias e horas são momentos para se corrigir o passado delituoso por meio do arrependimento, da humildade, do perdão, do amor ou da mudança de conduta para o Bem. Desse modo, estaremos em sintonia com as Leis de Deus e desfrutaremos das Bem-aventuranças conforme os ensinos de Jesus. Vigiemos e oremos para que esse momento de glória não mais seja adiado.
(Emídio Silva Falcão Brasileiro é um educador, escritor e jurista brasileiro. Autor do livro Um dia em Jerusalém, da AB Editora. Membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia Goianiense de Letras e da Academia Aparecidense de Letras)