Parece piada
Diário da Manhã
Publicado em 23 de novembro de 2015 às 22:40 | Atualizado há 9 anos“Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.” Essa frase, dita por Jesus Cristo no livro de Mateus 24:28, calha bem ao PT e ao PMDB.
Embora tenha sido dita há quase 2.000 anos e fora do presente contexto, ela serve como exemplo pelo poder e fascínio que exerce sobre quem gosta de ler a Bíblia e vê que chegamos ao fim dos tempos, pelo menos no Brasil político.
Assim como o cadáver exala o mau cheiro, e com isso atrai os que gostam de carniça – animais do tipo hiena, abutre, corvo e demais vermes da terra –, o poder atrai sobre si os homens. O poder aqui assume o caráter metafórico de um cadáver porque alimenta as feras da terra que são os políticos e, logicamente, o PT e o PMDB. Mas poderia ser qualquer outro partido, são todos iguais. A diferença entre hienas e abutres está apenas nas aparências; ambos se nutrem de carniça, assim como o político se nutre do poder, e do poder absoluto.
Eduardo Cunha e Renan Calheiros, força máxima do PMDB; Lula e Dilma, força máxima do PT. Esse é o desenho das feras que representam esses partidos, e, como tais, devoram o País. O País é esse cadáver gigantesco deitado, não mais em berço, mas em cova esplêndida. Cova aberta pelos coveiros do Ministério Público (MP), pela Polícia Federal (PF) e o juiz Sergio Moro para uma autopsia moral de nossas idiossincrasias políticas. Esses bastiões lutam contra os que assassinaram este jovem chamado Brasil e que agora tentam devorar suas carnes. O filé mignon dessa carcaça, desse defunto, era a suculenta Petrobras.
Não se sabe se o País está morto ou ainda vivo, ou quase vivo, meio morto, não se sabe; o óbito só será dado após a autopsia. Porém, lá, no IML do Supremo, alguns legistas nomeados pelo governo estão de saia justa. De tão justa e curta, a saia já mostra a calcinha de nossa justiça – assim é o pensamento brasileiro sobre esse velório que já vai passado da hora.
A política brasileira, se não a pior, é uma das mais desavergonhadas do mundo. Aquele que deveria fiscalizar foi fiscalizado e pego com fortunas em contas na Suíça. Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, é o exemplo terminal do que nossa política é capaz de produzir. Somente num país como o Brasil uma pessoa acusa a outra sendo ela mesma corrupta, porque tem a certeza da impunidade. Cunha, na ânsia de derrubar Dilma, mostrou exatamente como somos em termos políticos – a síntese da desonra –, ou o Congresso não representa a sociedade brasileira?
Nossa política é tão podre que a própria sociedade se comporta como um verme a roer as vísceras de um corpo imerso no caos. A corrupção parece ser um gene que trazemos em nosso espírito, o qual nos compele a fazer o que não presta em termos políticos.
Quando da eleição da presidente Dilma, o País rachou e a grande emissora de TV, a Rede Globo, com ares de legitimidade, cuidou em desfazer a verdade, afirmando que o País não estaria dividido entre pobres petistas e ricos peessedebistas. Esse discurso sumiu da TV, dos meios de comunicação, ninguém quer uma casa dividida – na Bíblia está também escrito, em Mateus 12:25: “Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: ‘Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma não subsistirá.’” Então, mais que depressa o mass media dominante cuidou em desfazer a verdade e o funcionalismo midiático da Globo abafou com panos quentes o estopim de uma possível guerra civil entre pobres petistas e ricos peessedebistas. É muito pessimismo e catastrofismo de uma vez só, mas o Brasil é isso, não há como ter miopia otimista sobre esse País.
Sobre carniça, morto e enterro, quem não viu aquele filme Um morto muito louco?
(Waldemar Rêgo, jornalista, escritor e artista plástico – [email protected])