Parece que o gato da senadora já subiu no telhado
Redação DM
Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 23:55 | Atualizado há 8 anosUm sujeito precisou viajar e deixou um amigo tomando conta da mãe e do gato dele.
Um belo dia o amigo telegrafou “Seu gato morreu”!” O homem quase teve um infarto. E respondeu, recomendando que ele deveria dar a notícia aos poucos; num dia ele diria: “Seu gato subiu no telhado”; no outro, “Seu gato caiu do telhado”, no terceiro dia ele diria: “Seu gato está muito mal”, e, finalmente, daria a má notícia. Assim, estaria mais preparado.
Dois meses se passaram, e o amigo lhe telegrafa: “Sua mãe subiu no telhado…”.
Esta historieta é apenas para introduzir um assunto que merece um comentário.
Como tenho comentado neste espaço, a senadora Kátia Abreu, muito bem articulada nos meios políticos e no Judiciário, usou seus cargos (de senadora e de ministra da Agricultura do governo Dilma), para cometer, como regra, o crime de tráfico de influência, capitulado no art. 332 do Código Penal, sem se falar na violação de sigilo. A propósito, A revista “CartaCapital”, edição de 27/03/2011, sob o título “Kátia Abreu, a vidente”, desmascarou a trama, contando tudo, inclusive como a senadora obteve as informações, quebrando inescrupulosamente o sigilo da “Operação Maet”, da Polícia Federal.
Em 2010, em razão de este articulista, no exercício do cargo de Corregedor Regional Eleitoral, ter contrariado interesses da senadora e bloqueado valores de Caixa 2, quando ela coordenou as finanças da campanha do candidato José Serra, do PSDB, à Presidência, sofreu na pele as consequências do seu tráfico de influência da CNA, no CNJ, no STJ e na Polícia Federal. Ou seja, usou uma entidade de classe para fazer política partidária em proveito próprio.
Com isto, e como a arma maior que tem contra si é a sua própria língua, publicou na imprensa que iria acionar o STJ e o CNJ contra mim, e dois meses depois fui surpreendido com a Polícia Federal, às 6 da manhã, na minha porta, botando minha casa pelo avesso, pois ela, mancomunada com a então Corregedora Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, o ministro João Otávio de Noronha, a subprocuradora-geral Lindôra Maria Araújo e o então superintendente da PF no Tocantins, César Augusto Martinez, indicado pela senadora, articulou tudo.
Fui afastado, sem pedido do Ministério Público, e passei de 2010 para cá, sofrendo as consequências de seu tráfico de influência. Não fui aposentado como pena, porque tenho um excelente advogado, Dr. Nathanael Lacerda, que brecou todas as manobras ilegais destinadas a me “presentear” com uma aposentadoria compulsória. Isto tudo está descrito no artigo “Foi Kátia Abreu quem pariu a “Operação Maet”, da Polícia Federal em 2010”, da edição de 14/09/2016. Em 2013, ela pressionou uma juíza tocantinense na própria comarca para modificar uma decisão, sob pena de prejudicar nossa colega. E como: a juíza, mesmo diante da pressão explícita, não se submeteu à senadora, dali a dias, foi aposentada compulsoriamente pelo tribunal, registrando-se a visita de Kátia Abreu ao gabinete de vários desembargadores que iriam votar no processo. Uma tremenda “coincidência”.
Depois, abrindo o véu que cobria a súbita riqueza da senadora, publiquei, na edição de 12/10/2016, o artigo “Kátia Abreu – como ficar rica com a política”, em que lanço uma justificável desconfiança sobre seu milionário patrimônio sem causa, que deve ter ligações com as diárias internacionais relacionadas no artigo “As suspeitas viagens de Lula e de Kátia Abreu”, publicado na edição de 13/10/2015.
Quando a Polícia Federal detonou a “Operação Ápia” no Tocantins, dois meses atrás, Kátia Abreu cometeu um erro primário: atacou a imprensa, e cobrou da Justiça, pelo “Twitter’, punição para políticos e magistrados tidos por ela como corruptos, e tentou justificar sua quase derrota em 2014, ganhando por menos de um ponto (dos mais de vinte que propalava) de Eduardo Gomes, alegando que ele ganhara com dinheiro “sujo” (esquecendo-se dos milhares de boletos enviados a produtores rurais, com que ela arrecadara recursos para sua própria campanha e a do filho) e enalteceu publicamente a ação da Polícia Federal, que, na hora do “vamos ver”, quem cai na rede é peixe, e a influência política nestas horas de “pente fino” pouca valia tem, como chamei a atenção no artigo. “A metamorfose delirante de Kátia Abreu” (DM de 24/11/2016). Depois, está tentando fuzilar o Judiciário com aquela história dos supersalários, que rebati no artigo “Juiz que recebe supersalário é corrupto”, diz a senadora Kátia Abreu. Mas esquece-se do seu Legislativo. Vamos ver quem é corrupto?” (edição de 27/11/2016).
Agora, a partir do dia 9/12/2016, os telejornais deram ampla divulgação à delação premiada do lobista da Odebrecht Claudio Melo Filho, um dos muitos da empreiteira que se prontificaram a entregar “de bandeja” centenas de políticos às teias da Lava Jato. para livrarem a própria pele, dentre os vinte primeiros delatados foi citada nominalmente “a senadora Kátia Abreu”.
Ligando as pontas da meada, lembrem-se de que em 2010 ela coordenou as finanças da campanha do candidato José Serra, do PSDB, à Presidência, usando a CNA, que presidia, para fazer política partidária, com aquela história dos volumosos recursos arrecadados – e não contabilizados – nos boletos enviados aos produtores rurais. Em 03/05/2011 a revista CartaCapital noticiou o fato na edição de 3 de maio de 2011, com a esclarecedora matéria “Só choveu na horta da Kátia”, do jornalista Leandro Fortes.
.E nesta primeira delação, chamada “a delação do fim do mundo”, cerca de setenta executivos da empreiteira prometem implodir o mundo político com revelações que – se houvesse Justiça no Brasil, ou se não houvesse o foro privilegiado – poderiam gerar um considerável esvaziamento do Congresso, e o primeiro delator, das dezenas que vêm aí, citou nominalmente José Serra e a senadora.
E o recente Inquérito 4.144-DF, que corre no STF, para investigar o recebimento de meio milhão de reais doados ilegalmente pela Odebrecht, através de seu marido, Moisés Pinto Gomes, é a primeira prova de que as coisas para a senadora começaram a pretejar, pois o relator, seu controvertido amigo Gilmar Mendes, nada aliviou para ela até agora, até prorrogando o prazo para a Polícia Federal apurar as suspeitas doações da Odebrecht.
Muita água passou por baixo da ponte: ela entrou numa curva descendente que poucos políticos experimentaram, chegando literalmente ao fundo do poço, quando, indesejada por todas as siglas, aninhou-se no PMDB (hoje, MDB), onde se sentia uma estranha no ninho, acabando por ser expulsa do partido, uma vergonha para quem propagandeia virtudes e apresenta propostas chamadas de “zero à esquerda”, posto que todo mundo sabe que ela foi para o Tocantins apenas para “fazer a mala”, implantar uma nova oligarquia e agora virar governadora, o que Deus não haverá de permitir, para o bem do nosso estado.
É de se convir que, diante da situação e lembrando a historieta que introduz este artigo, parece que o gato da senadora já subiu no telhado.
(Liberato Póvoa, desembargador aposentado do TJ-TO, membro-fundador da Academia Tocantinense de Letras e da Academia Dianopolina de Letras, membro da Associação Goiana de Imprensa – AGI e da Associação Brasileira de Advogados Criminalistas – Abracrim, escritor, jurista, historiador e advogado, liberatopo[email protected])