Pobre Bosque dos Buritis
Diário da Manhã
Publicado em 23 de novembro de 2017 às 00:22 | Atualizado há 7 anos
Como pode o Bosque dos Buritis, “Cartão de Visitas da Cidade”, estar em estado lamentável como se encontra? As grandes árvores tombadas, cujas raízes, talvez comidas por cupins e formigueiros, não resistem à menor ventania. São arrancadas pelos ventos, abrindo clareiras e estão deitadas há meses, algumas com os troncos serrados, mas não retirados.
O bambual, sempre majestoso à entrada do Bosque, está também quase todo tombado e seco, uma grande parte queimada, não se sabe por quem. Os meios-fios das trilhas com as pedras arrancadas e espalhadas aos lados, dificultando o trânsito das pessoas. São trilhas, esburacadas e barrentas. Até o letreiro da entrada do Bosque está sem algumas letras.
No Bosque também está havendo restrição das pistas internas pelos caminhantes, devido a assaltos e pontos de encontros de vândalos e de pessoas que “estão na deles, do jeito que são”, segundo nova designação. Preservativos usados, aqui e ali. O berçário dos patinhos recém-nascidos, no lago de cima, não existe mais e eles descem para o grande lago de baixo, ao lado da Assembleia, e são comidos pelas tartarugas. De 10 ou 12 de cada ninhada só vingam um ou dois.
Pretendíamos criar o Parque Recreativo Bosque dos Buritis, programado para dar oportunidades aos idosos, mormente dos asilos, e às crianças carentes dos orfanatos, que não frequentam os clubes da Sociedade, assim como as centenas de estudantes do Ensino Fundamental que visitam o Bosque. Também para os menores que estão presos aos aparelhinhos eletrônicos e não sabem o que é brincar, necessidade primordial de toda criança.
Estiveram no Bosque, pessoalmente, o senhor ex-prefeito dr. Paulo Garcia, o diretório da Amma, dr. Pedro Wilson e o seu secretário, fazendo várias e valiosas observações; aprovaram, mas não mexeram um dedo, sequer. A vereadora Célia Valadão participou desde o início do projeto; depois veio um vereador da área do Meio Ambiente e, infelizmente o Parque deu em nada, reflexo de que é a administração pública.
O Parque Recreativo Bosque dos Buritis somente iria utilizar a sombra das árvores, que o principal das árvores, mormente na cidade, é a sombra que proporcionam. Nem um galhinho seria cortado. Os espaços ocupados para os jogos e brinquedos seriam diminutos e quase sem custos. Vejamos: cela para pião: apenas um aro metálico pouco maior do que de bicicleta; maré (amarelinha): somente uns metros cimentados. Para os demais, chão batido: finca; bilóca (bolinha de vidro, gude); pique, barraból, queimada, bete, baliza, chicotinho-queimado ou corre-coxia.
Cantigas-de-roda, peteca, pula-corda, pula-sela ou pula-carniça; bilboquê, diabolô, berraboi, bambolê, yo-yô; cadeirinha, boca-de-forno. Uma coluna-parede para “ordem… seu lugar… ”, dentre outros. Para os idosos, mesinhas de alvenaria com bancos para entretenimento de dados, torrinha, dominó, dama, xadrez, cartas… Para soltar papagaios ou pipas, já temos as calçadas dos lagos. Para completar, uma aparelhagem para ginástica, cuja área já existe que é a pracinha onde as pessoas a utilizam. Também, transferir os aparelhos rústicos existentes de fora para dentro do Bosque, para evitar a poluição das movimentadas vias, Rua 1 e Avenida Assis Chateaubriand. Finalmente, um quiosque para vendas e empréstimos dos brinquedos, quando as pessoas não os trouxerem de casa.
Quanto a Lei de Preservação Ambiental, a instalação do Parque não afetará o ambiente do Bosque, pois serão ocupados os canteiros vazios, aproveitando o sombreamento das árvores. Existem dentro da área do Bosque – a Assembleia Legislativa, o Centro Livre de Artes, um orquidário, uma lanchonete, sanitários, área asfaltada para festas ao ar livre com estacionamento, quiosque para venda de coco, teatrinho de arena, praça de ginástica, campo de malha criado por vários goianienses, ilustres, tradicionais, como sr. Odilon Pacheco, sr. Augustinho Fogliatto e esposa e outros.
O Parque seria propício às escolas que sempre trazem os seus alunos ao Bosque para conhecer os brinquedos artesanais e brincadeiras saudáveis de seus pais e avós, eles que só conhecem os brinquedos manufaturados. Sempre aos domingos e principais feriados, se acostam no Bosque dos Buritis vários ônibus com turistas. Adentram o Bosque acionando celulares e máquinas fotográficas, interessando por tudo, as árvores, as copas douradas dos ipês e das sibipirunas, ainda, do jacarandá mimoso (caaroba), as aves e animais, clicando o casal de pirarucus “quentando” sol na rasoura do lago.
Alguns idosos participando do jogo de malha, precursor do Parque Recreativo, constando do projeto, celas para rodar pião, chão macio para espetar as varetas das fincas, locais para jogar bilboquês, baliza, biloca… brinquedos esses do tempo dos artesanais, que a gente mesmo fabricava. Quantos idosos que dirão: “Já fui bom nisso!”
A época propícia para se soltar papagaio (pipa), é nos fins de julho para agosto, por ser época dos ventos. E para jogar finca? Pelas chuvas, porque o chão fica macio. O agrônomo nissei Thomaz Tohor Nassu, frequentador do Bosque, disse que no Paraná a finca deles não era de metal, mas de bambu, com um prego na ponta.
Há, ainda hoje as brincadeiras maldosas: passar cocô na ponta de uma varinha, simular uma briga, dar a varinha para um menino segurar e puxá-la, deixando a mão do garoto melecada. E colocar na calçada um tijolo numa caixa de sapato, que há os que chutam tudo o que vêem. Também esquentar uma moeda e deixar na calçada pra queimar a mão do curioso. Fazer “gata-pariu”, pra espirrar pra fora do banco, quando tem mais de dois sentados.
Das árvores não são somente as flores, os frutos e a madeira para o “berço e o caixão”, e as construções. O principal das árvores, mormente na cidade, é a sombra. E seria somente a sombra das árvores do Bosque que os frequentadores do Parque iriam desfrutar.
A criação do Parque Recreativo foi por iniciativas do Instituto Cultural e Educacional Bariani Ortencio, Comissão Goiana de Folclore e Programa Frutos da Terra, único programa divulgador na televisão dos jogos lúdicos “infanto-idosos”. Tenho um apego amoroso com o Bosque dos Buritis por ser a extensão do meu quintal. Frequento o Bosque com caminhadas diárias há mais de 40 anos. Fui presidente da Associação de Proteção ao Bosque dos Buritis por seis anos, sendo vice, o empresário Leonardo Rizzo. Depois, por mais quatro anos, Leonardo presidente e eu o seu vice. Agora não sou mais nada, não mando, só peço!
Macktub!
(Bariani Ortencio – barianiorten[email protected])