Poetisa goi-Ana
Redação DM
Publicado em 10 de abril de 2017 às 23:08 | Atualizado há 8 anosNão, não… não cuidarei de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, não. Falarei, sim, agora e aqui, de outra poetisa que também se chama Ana, como tantas goianas Anas versejantes, ou versejadoras como a velha escriba e doceira vila-boense (sim, é com hífen), famosa aqui e além-fronteiras, com um sonoro codinome que acho desnecessário repetir.
A nossa Ana de agora, ou a minha Ana (já quem escolheu este momento para ela fui eu) também tem nome grande, dodecassílabo: Ana Cárita Margarida Figueiredo, ou simplesmente Ana Cárita. Conheci-a há mais de vinte anos, quando o poeta Ubirajara Galli, presidente da União Brasileira de Escritores em Goiás, apresentou-me a ela, ao mesmo tempo em que eu conhecia, também por gentileza do Bira, duas outras poetisas com quem desfrutei companhias pelos dois anos seguintes, quando fui presidente da UBE – Placidina Siqueira e Avahy Augusta (falecida em dezembro de 16).
Ivahy tornou-se mais distante… Placidina e Ana Cárita, sempre ao alcance da vista e das falas, e gosto muito de tê-las amigas. Todas publicaram livros maravilhosos, Placidina e Ana com mais presenças. E tive a alegria de marcar palpites nos livros de Aninha, convidado por ela.
Gosto de lembrar, quanto a isso, o que escreveu meu saudoso padrinho literário Anatole Ramos, num livro de Cora. Ele esclareceu que os autores costumam convidar colegas para se manifestarem em suas obras, ora com um prefácio, ora com uma apresentação ou o texto de orelhas e contracapa, mas – enfatizou Anatole – se o autor imagina que o prefaciador vai enriquecer seu trabalho está muito enganado. O que acontece é que o autor oferece uma carona ao amigo e este, de beirada, viaja na obra que não é sua.
Assim aconteceu comigo nos livros de Ana Cárita – viajei de carona. E que viagens! O poeta é a pessoa, homem ou mulher (cabendo a esta a exclusividade do termo apropriado, poetisa), que pratica um acendrado amor à língua, em qualquer parte do mundo, e aprecia a vida, em todas as suas nuanças, com a sensibilidade elevada. Ana Cárita sabe bem colher a vida em cálices do mais fino cristal, condicioná-la em temperatura e carícias para, no tempo certo, traduzi-la em palavra, expressão, frase, período e texto. Em poesia, enfim!
E aí, subitâneo, chega-me um convite para a festa de aniversário de Ana Cárita. Ocorreu-me que era a primeira vez que eu era convidado, mas não demorou a vir à clara o motivo – era a primeira vez que se festejava seu aniversário, pois, tendo nascido em janeiro, poucas semanas após o Natal, que sempre ensejou grandes gastos (mormente em famílias de muitos filhos) e cair em período de férias escolares, ela nunca fora agraciada com festejos de seus anos, na infância. E assim habituou-se a ver passar a data, ano a ano, sem festas.
E de novo súbito, a família (filhos, noras, genros e netos) entendeu que a vovó merecia festas, uai! E foi assim meu sobrinho-neto, o pianista Augusto, abraçar Aninha. E não bastasse o carinho do convite, ela ainda nos presenteou com… Poesia!
Claro, claro: as pessoas costumam presentear com o que lhes sobra – e poeta sempre tem poesia de sobra. Mas não quero esticar ainda mais, copiando-lhe os versos do presente – uma caixinha com o nome “Minuto da Poesia”, com versos recortados como numa caixa dos antigos realejos. Pincei a esmo e transcrevo, sem escolha, estes:
Expressões goi-anas / Trem mais custoso: / pensar nos trens da gente / e resolver os trens dusoutros.
Da janela, as quaresmeiras / interrogam às moças prosas: / – Que seria do Lago das Rosas / se não fossem as roseiras?
Beijo, Aninha!