Por que “adoramos” a educação militar?
Redação DM
Publicado em 17 de abril de 2015 às 01:17 | Atualizado há 10 anosNa maioria das vezes em que pensamos nas problemáticas que circundam as instituições educacionais e a função da educação para sociedade, logo nos deparamos com um turbilhão de pensamentos “conceituais” em nossas mentes, que vão desde um futuro melhor para a sociedade a uma educação emancipadora e preparatória para a vida prática. Tendo isto em vista, a nossa proposta de análise tenciona para o silenciamento do que real está acontecendo com as instituições educacionais e com o próprio sistema educacional e suas consequências nefastas para a sociedade. Algumas perguntas surgem quando direcionamos nos esforços para a compreensão desta problemática, no entanto as respostas para estas perguntas não parecem fáceis de serem respondidas, estamos avançando no sistema educacional ou estamos retrocedendo? Os nossos alunos necessitam ser disciplinados? Estamos preparando alunos para serem críticos, ou estamos preparando alunos para reproduzirem o que “apreendem”? A escola deve ter hierarquia e disciplina? Enfim, a partir destes questionamentos, direcionamos o nosso olhar para a o retorno do processo de militarização de algumas instituições educacionais. Tentando assim identificar se existem fronteiras entre as relações de poder empreendidos nas instituições educacionais e a sua reprodução no meio social por parte dos indivíduos.
A passagem da modernidade para a contemporaneidade ocasionou mudanças nos modelos de sociedade, de uma sociedade vista por Foucault como disciplinar, para um modelo de sociedade identificada por Deleuze como de controle. Hoje, podemos considerar que nos encontramos em um momento de transição entre um modelo e outro. Estamos a sair de uma forma de encarceramento completo para uma espécie de controle aberto e contínuo. A sociedade disciplinar organizou grandes meios de confinamentos, os quais tinham como objetivo concentrar os indivíduos no tempo e no espaço e a sociedade de controle reverbera essa postura com novos mecanismos. A sociedade brasileira a partir de meados do século XX é marcada pela intensificação do controle por parte do Estado, juntamente com a intensificação do processo de disciplinamento dos indivíduos empregados por algumas instituições, neste caso a escola. Tendo isto em vista, nos inquietamos com as reminiscências de um período histórico, que contribuiu para a construção no imaginário social de que: “a boa instituição educacional é nos moldes militares” onde ainda prezam pelos dois pilares de sustentação do militarismo a hierarquia e a disciplina.
A disciplina exige um espaço específico para seu exercício, um espaço no qual os indivíduos possam ser vigiados nos seus atos, que tenham seu lugar específico para visualizar seu comportamento para poder sancioná-lo ou medir suas qualidades. A estrutura física das instituições de ensino contemplam essas exigências configurando-se como ambiente de prisão, juntamente com seus mecanismos de disciplinarização, sua organização hierárquica e sua intensa vigilância, fazem com que o controle dos indivíduos seja facilitado, essa analogia refere-se ao sistema penitenciário no contexto apresentado por Foucault, em que as prisões disciplinares tinham por objetivo a readaptação e integração de “corpos dóceis” à sociedade. Tendo em vista os mecanismos disciplinadores que são empregados no cotidiano dos os indivíduos, poderemos considerar que o poder disciplinar se constrói articulado com o modo de produção capitalista, sendo assim, uma forma de poder ligado a instituições, onde a disciplina é imposta e introduzida para o crescimento e manutenção do sistema, como as instituições de ensino, militares e religiosas.
Durante todo o ano de 2014, impulsionados pelo “aniversario” dos 50 anos do golpe militar ocorrido em território nacional, ocorreu uma mobilização nacional para a reflexão sobre as mazelas que este período nos deixou de legado e para ações que contribuíssem para a punição de alguns algozes deste período. Estas mobilizações foram na sua maioria direcionadas por grupos específicos, estudantes/professores das ciências sociais, humanas e indivíduos que vivenciaram de forma direta o terror deste período. Entretanto, desde meados deste mesmo ano, uma onda de opiniões e ações politicas direcionadas por debates acerca da militarização de algumas instituições educacionais nos chamou atenção. Tais ações apresentaram um posicionamento discrepante em um ano que nos serviria de reflexão e ações que teoricamente evitariam que este período sombrio retomasse a nossa sociedade. No entanto, se iniciaram algumas ações militarizantes em algumas regiões do país, e por algumas instituições que compõe a sociedade civil, neste caso as instituições educacionais. A partir do inicio destes processos de militarização de algumas instituições educacionais principalmente no Estado de Goiás, que por sinal sempre exalta o titulo de ter a “melhor e a mais preparada força policial do Brasil” direcionei meu olhar para o perigo eminente que estava por vir para a região “interiorana” que resido, a cidade de Inhumas-GO.
Nesta realidade que vivencio uma instituição educacional que foi militarizada no ano de 2014 na cidade de Inhumas-GO, o antigo e tradicional Colégio Manoel Vila Verde, que da noite para o dia tinha se “transformado” em CPMGO unidade Inhumas. Mas o que não consigo compreender a “exaltação” por parte da população pela a militarização desta unidade educacional, enfim para essa compreensão se faz necessário um pesquisa empírica, no entanto podemos levantar uma questão: porque parte da sociedade exalta essa forma de educação? Sendo que, os princípios básicos desse modelo educacional são a disciplina e a hierarquia, elementos básicos para a domesticação intelectual do indivíduo.
(Flavio Silva, graduado em História pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, pós-graduando (Esp.) em Políticas e Gestão da Educação Profissional e Tecnológica, pelo IFG, mestrando em Sociologia pela UFG, membro do Núcleo de Estudos sobre Trabalho, Tecnologia e Formação Humana (NETEFH) – IFG Campus Goiânia)