Por que as nações cooperam entre si?
Redação DM
Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 01:05 | Atualizado há 7 anos
Tendo em vista as diversas guerras ocorridas ao longo da história e as em curso no mundo, é difícil pensar em um conceito que aborde a cooperação internacional para caracterizar a relação entre as nações no cenário atual. Mas o fato é que, com o fim da Guerra Fria, estruturou-se uma maior interdependência entre essas nações, causada pelas transformações que ela provocou no sistema internacional. Essa interdependência culminou em uma maior necessidade de cooperação, que se traduziu nos regimes internacionais, os quais vinham sendo estudados desde a década de 1970.
Paradoxalmente, a cooperação habitualmente surge a partir de conflitos ou potenciais conflitos, como afirma Robert Keohane em sua obra After Hegemony. A extensa agenda de cooperação entre Brasil e Argentina adveio de um estado de nervosismo constante, o qual abarcava desde problemas referentes ao uso das águas até rivalidades militares. Exemplo explícito pode ser tomado da relação França-Alemanha, países que se envolveram nas duas guerras mundiais, sempre um contra o outro, e que depois da Segunda Guerra lideraram o processo de construção do que hoje é a União Europeia, bloco em que a cooperação entre os estados é decisiva.
No âmbito conceitual, a cooperação entre as nações sucede mormente por via dos regimes internacionais que existem e propagam-se em diversas áreas, por meio de acordos feitos entre elas. O processo de cooperação acontece por intermédio de políticas seguidas por governos que possam ser consideradas pelos seus parceiros como facilitadoras da realização de seus próprios objetivos. Isso se dá como resultado da coordenação de políticas e ajustamento mútuo e, como foi afirmado acima, comumente surgem de conflitos ou potenciais conflitos.
A afirmação de que a cooperação advém de conflitos se dá porque a divergência estimula as nações a realizarem ajustes políticos que, não raro, podem influenciar o comportamento que leva à cooperação mútua, baseada nos interesses das nações e corporações implicadas nesse processo de ajuste.
Um exemplo de cooperação internacional, que facilita o entendimento das consequências da estruturação da interdependência, é a existência do regime internacional do clima. Tal regime é um dos mais significativos e multifacetados, pois abrange várias questões que acarretam a inter-relação entre a economia e o meio ambiente, como o aquecimento global e o uso da energia, assuntos que alcançam todas as nações do mundo.
A partir daí, destaca-se a importância dos regimes internacionais para a cooperação internacional, que se propaga também por meio dos acordos bilaterais e multilaterais, os quais são consequências da interdependência entre os Estados, citada anteriormente. Esse conceito advém da teoria da interdependência complexa, que tem como principais autores Joseph Nye e Robert Keohane, defensores da ideia de que, cada vez mais, os fatos ocorridos em determinado país tem efeitos concretos em outros países, que não têm controle sobre tais efeitos, sendo que a interdependência favorece a cooperação entre os Estados, sobretudo por via das organizações internacionais que buscam estabilizar o cenário mundial. Essa estabilização não significa perda de poder, uma vez que ele continua presente na forma de habilidade de atingirem-se objetivos e interesses.
Com o aumento da interdependência nas relações internacionais, as nações necessitam coordenar seus comportamentos a fim de alcançarem benefícios coletivos, sem que reduzam a utilidade de cada unidade, reconhecendo a possibilidade de cooperação, o que leva à resolução dos problemas globais, sem preterirem-se os interesses individuais de cada nação.
Para tanto, as nações cooperam entre si pelo fato de que seus governantes conscientizam-se de que fazem parte de um sistema interdependente e que, por via da colaboração, terão a capacidade de ajustarem-se a fim de reverterem os efeitos de uma ação tomada por outro ator. Enfim, cooperam entre si, já que reconhecem a necessidade de mútua dependência.
(Clarisse Maria de Carvalho Cipriano, estudante de Relações Internacionais na Universidade Católica de Brasília)