Por que o Brasil é um país mediano?
Redação DM
Publicado em 6 de abril de 2017 às 02:18 | Atualizado há 8 anos
Porque o Brasil é muito mais que um país corrupto. Aqui o poder é exercido por ladrões e parasitas do dinheiro público, que fazem parte das elites dominantes.
Enquanto eles não forem retirados do poder (pela Justiça assim como pelo voto popular), o Brasil continuará em crise permanente. As crises constantes revelam o retrato de um país mediano.
Desde 2011 vários países estão sendo sacudidos pelas manifestações populares. No nosso caso (junho/13), protestava-se contra a corrupção e sua impunidade assim como contra a má qualidade dos serviços públicos. Essa tarefa não pode parar (ao contrário, dentro da lei, tem que ser intensificada).
Ao mesmo tempo, aquela “má qualidade” dos serviços públicos vem piorando e está alcançando o colapso em muitos lugares (e setores). Falência absoluta (como é o caso da perda do controle dos presídios, por exemplo).
Considerando que o espírito das manifestações iniciadas em 2011 (no mundo todo, praticamente) não desapareceu, é previsível que continuem os protestos contra a miséria, o desemprego, a queda nas condições de vida, a impunidade da corrupção, a concentração absurda da riqueza das nações nas mãos das elites corruptas ou privilegiadas etc.
Por que o Brasil continua sendo um país mediano?
Porque somos roubados diariamente pelos corruptos e surrupiados pelos parasitas (que canalizam para eles a quase totalidade dos recursos públicos de todos).
Porque, apesar das fraudes, insistimos em perpetuar determinados criminosos no poder, e a tudo assistimos passivamente.
Porque a corrupção política traduz a nossa própria hipocrisia, a nossa indiferença, a nossa tendência ao jeitinho.
Porque punir criminosos, embora necessário, não é o mais importante; o mais importante consiste em identificar as estruturas de poder que possibilitam o crime e mudá-las radicalmente, pois problemas estruturais demandam intervenções também estruturais e não apenas intervenções sobre indivíduos.
Os “donos do poder” não estão nem um pouco preocupados, por exemplo, com a educação de péssima qualidade oferecida para os excluídos das benesses materiais.
A quem compete mudar tudo isso? À Política, com “P” maiúsculo. Ocorre que essa Política está “comprada” pelos agentes do mercado cleptocrata.
Enquanto o poder político for manipulado pelas pequenas elites que dominam os monopólios e oligopólios o Brasil não subirá de patamar.
Nosso problema, portanto, não é geográfico, não é uma cultura incompatível com o progresso, climático, não é do solo etc. Nosso problema reside na existência de uma pequena elite que tem muitos privilégios e que se enriquecem corruptamente ou politicamente às custas do restante da nação.
Não basta trocar o partido “X” pelo “Y” (se eles continuarem com a mesma governabilidade corrupta): precisamos mudar a mentalidade das lideranças que nos governam. A política tem que ser feita com “P” maiúsculo. A economia tem que ser competitiva. A educação precisa ser de qualidade para todos. Sem isso o Brasil será um país fracassado.
O Brasil é e continuará sendo um país corrupto simplesmente porque está estruturado para sê-lo!
(Joneval Chaveiro é professor e advogado, especialista em Direito Público, membro da Comissão de Prerrogativas da OAB/GO subseção Trindade)