Povo acomodado
Redação DM
Publicado em 27 de março de 2015 às 02:08 | Atualizado há 10 anosLuiz Augusto ,Especial para Opinião Pública
As propagandas e os discursos garantem que o atendimento, nos Cais e Hospitais públicos, melhorou. Para convencer a população, os governantes fazem reforma na estrutura física; nada mais do que isso.
Como alguém que, diariamente, acompanha pacientes nos hospitais, chego à conclusão de que toda essa mentira que é a rede pública de saúde, em todas as esferas, é por falta de responsabilidade, de atitude eficaz de quem precisa desse atendimento; é devido à nossa falta de compromisso e omissão. É preciso algo mais consistente que reclamações, desabafos. É preciso que a população se manifeste, exigindo que a vida seja levada a sério.
Sofremos muito por falta de atendimento ou pela demora dele, mas voltamos para casa resignados, tendo a certeza de que não adianta lutar. Dia a dia essa história se repete: hoje, sou eu; amanhã, é você.
O que os governantes sabem de atendimento médico-hospital pelo SUS, se eles e seus familiares não recorrem ao mesmo? Sabem tanto quanto sabem sobre o ensino público.
Vem-me à memória o relato bíblico sobre o homem que fora roubado e maltratado pelos ladrões. A pessoa que teoricamente mais tinha conhecimento e obrigação de ajudar, o sacerdote, passou adiante. Mas, um estrangeiro, um samaritano, moveu-se de compaixão e chamou para si a responsabilidade de cuidar daquele homem.
Quando os governantes brasileiros assumem a responsabilidade de cuidar do povo que lhes foi confiado? O pior é que conseguiram enfraquecer a esperança e a consciência crítica das pessoas, porque quem não conhece a realidade, quem não precisa passar dias na fila à espera de uma consulta médica, quem não conhece a dor e o desconforto de alguém que está acompanhando um paciente internado numa enfermaria, nunca vai administrar a favor do povo.
Todos os dias, na Paróquia, dezenas de pessoas vêm pedir ajuda para conseguir uma consulta médica, para realizar um exame, para comprar os remédios ou para conseguir o mais difícil e, muitas vezes, impossível, uma cirurgia. Na tentativa de ajudar, recorremos aos amigos, apelamos para a solidariedade da comunidade.
A canção diz que “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Quem precisa é que deve ir à luta, exigir aquilo que lhe é de direito: proteção à saúde com qualidade.
A vida não precisa de favores, uma vez que ela é dom de Deus. Precisa, sim, ser protegida e cuidada com amor, porque é o bem maior. Então, vamos combinar uma coisa: não aceitar que os nossos direitos sejam como favores concedidos, com muito esforço, pelos governantes deste País, chamado Brasil. Para isso algo precisa ficar bem claro: “Comprar e vender voto é crime.”
Onde está aquela certeza de que povo unido jamais será vencido?
“Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus; não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Evangelho de São Mateus).
Então, façamos valer a nossa fé, pois, a nossa fé é a nossa vitória.
(Padre Luiz Augusto, pároco)