Prólogo de Atos dos Apóstolos

Emídio Brasileiro

1.1¹Fiz meu primeiro relato, ó Teófilo, a respeito de todas as coisas que Jesus fez e ensinou desde o começo, ²até o dia em que foi arrebatado ao céu, depois de ter dado instruções aos apóstolos que escolhera sob a ação do Espírito Santo. ³Ainda a eles, apresentou-se vivo depois de sua paixão, com muitas provas incontestáveis: durante quarenta dias apareceu-lhes e lhes falou do que concerne ao Reino de Deus. ⁴Então, no decurso de uma refeição com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que aguardassem a promessa do Pai, “a qual, disse ele, ouvistes de minha boca: ⁵pois João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo dentro de poucos dias”. (Atos dos Apóstolos, cap.1, vv. 1 a 5 – Bíblia de Jerusalém – Editora Paulus).

O primeiro relato de Lucas é o seu Evangelho e o segundo, Atos dos Apóstolos. Ambos os livros são escritos em tempos próximos e encaminhados a Teófilo, que teria a missão de reproduzi-los e divulgá-los.

Teófilo, nome de origem grega que significa ‘amigo de Deus’, era de Antioquia, gentio de alta classe social, convertido ao Cristianismo. Lucas o denomina de excelentíssimo, título que também foi usado nos primeiros séculos da era cristã aos cavaleiros romanos.

Depois de narrar o seu Evangelho, sob as orientações de Maria de Nazaré e dos apóstolos, o médico Lucas escreveu Atos dos Apóstolos com a intenção de revelar fatos que consolidaram o pensamento vivo do Cristo em diversas regiões. Amigo de Paulo e seu companheiro de algumas viagens, Lucas dá testemunho de fatos que marcariam para sempre a trajetória da divulgação, da expansão e da consolidação da Boa Nova.

Não sendo um livro de história, mas histórico, Atos dos Apóstolos não revela o que acontecera com os doze apóstolos de Jesus depois “que foi arrebatado” porque o seu objetivo principal é o de revelar os principais acontecimentos que consolidaram a edificação da Boa Nova, com base nas orientações do Espírito Santo, ou seja, dos Espíritos Superiores, mensageiros de Jesus. Tais orientações se revelaram nas atitudes de Simão Pedro, que liderou o movimento apostolar, nas viagens de Paulo de Tarso que expandiu a Boa Nova além das fronteiras da Judeia e nos testemunhos de devotados apóstolos e seguidores do Cristo.

Nesta obra, o Dr. Lucas revela ainda que os apóstolos de Jesus cumpriram fielmente as suas recomendações ministradas, “depois de sua paixão”, durante os quarenta dias em que esteve com ele. O colégio apostolar atendeu às orientações do Mestre para não se afastarem de Jerusalém, onde seria instalada a sede de sua Igreja e de onde se irradiaria as orientações para as futuras comunidades cristãs. 

Neste prólogo, Lucas lembra a profecia de Jesus que seria realizada no dia de Pentecostes quando os seus discípulos foram “batizados com o Espírito Santo”, ou seja, por intermédio de inúmeras comunicações psicofônicas e ações espirituais advindas de sua vontade. 

Nesse contexto, a mediunidade foi a pia batismal dos discípulos de Jesus, a qual os acompanharia a partir daquele momento em todos os períodos da vida. Graças à mediunidade, os apóstolos encontraram a segurança espiritual necessária para alcançar o equilíbrio e a maturidade que demonstraram em Atos dos Apóstolos. A mediunidade foi um dos escudos morais dos discípulos de Jesus, mesmo naqueles que não o conheceram. 

O apóstolo Pedro mencionado do Evangelho apresenta as suas inseguranças, em Atos dos Apóstolos demonstra maturidade e confiança. Antes o “Grande pescador” duvidava, depois, confiou plenamente ao ponto de curar inúmeros enfermos por onde passara. 

O batismo de João representou a renovação comportamental proveniente do arrependimento ante os descaminhos trilhados. O batismo com o Espírito Santo, por sua vez, representa a renovação espiritual pelo amor, pelo trabalho e alegria em servir. É o batismo proveniente da evolução intelectomoral de quem não mais repete erros, não olha para trás pelo arrependimento e sim para frente rumo à redenção do amor e da piedade.

Os testemunhos descritos pelo apóstolo Lucas em Atos dos Apóstolos é a colheita do divino Rabi, a qual se estende por toda parte e em todos os tempos nos corações e mentes do Espírito imortal, ávido por felicidade e harmonia interior. Os apóstolos deram suas vidas e sofreram martírios físicos e morais indescritíveis para elevar o padrão vibratório de um planeta de provas e de expiações, onde predominantemente ainda habitam espíritos impuros e recalcitrantes no erro, mas, um dia, todos alcançarão a superioridade espiritual.

Emídio Brasileiro é  membro da Academia Espírita de Letras do Estado de Goiás, da Academia de Letras de Goiânia e da Academia Aparecidense de Letras