Opinião

Prostituta em entrevista

Diário da Manhã

Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 21:23 | Atualizado há 7 anos

En­tre­vis­ta­dor: Vo­cê é pros­ti­tu­ta há quan­to tem­po? Isa­be­la: Fi­nal do ano de 2016. En­tre­vis­ta­dor: Vo­cê gos­ta ou vo­cê faz só pe­lo di­nhei­ro? Isa­be­la: Gos­to, mas fa­ço mais pe­lo di­nhei­ro. En­tre­vis­ta­dor: Pos­so te per­gun­tar de­ta­lhes so­bre a sua pro­fis­são? Te­nho cu­ri­o­si­da­de. Isa­be­la: Po­de sim, não te­nho na­da a es­con­der.

Ent: Qual foi sua in­ten­ção quan­do vo­cê co­me­çou? Isa: Achar ho­mens mui­to sa­fa­dos que pa­ga­ri­am pa­ra fi­car co­mi­go. Ent: Vc con­tra­ta seus cli­en­tes pe­la in­ter­net? Isa: Não, é pe­la rua mes­mo. Ent: Vo­cê an­da pe­la ma­dru­ga­da qua­se nua com rou­pas exa­ge­ra­da­men­te cur­tas? Isa: Sim, an­do com rou­pa nor­mal, mas sen­su­al.

Ent: Por­que vo­cê es­co­lheu tra­ba­lhar tro­can­do seu cor­po por di­nhei­ro? Isa: O jei­to mais fa­cil de ga­nhar di­nhei­ro. Ent: Vo­cê acha que ser pros­ti­tu­ta é um dom? Vo­cê acha que vo­cê já nas­ceu as­sim? Ou ser pros­ti­tu­ta é uma de­ci­são? Isa: É uma de­ci­são. Ent: Qual foi a quan­ti­da­de má­xi­ma de cli­en­tes que vc já aten­deu em um úni­co dia de ser­vi­ço? Isa: Fi­co a ca­da 2 ou 3 di­as, não fa­ço to­dos os di­as. Ent: Se vo­cê re­ce­bes­se um bom di­nhei­ro vo­cê acei­ta­ria aten­der um gru­po de ho­mens ao mes­mo tem­po, (ob­sce­ni­da­des cen­su­ra­das) fa­zen­do tu­do ao mes­mo tem­po? Isa: Sim, já fi­quei com três de uma vez só.

Ent: Co­mo vo­cê se sen­te por den­tro, no seu co­ra­ção, quan­do vc es­tá sen­do usa­da? Isa: Nor­mal. Ent: Vo­cê não fi­ca tris­te, de­pri­mi­da, por ser hu­mi­lha­da? Isa: Não, ja me fi­ze­ram es­sa per­gun­ta. Ent: O sen­ti­do des­sa per­gun­ta é ten­tar en­ten­der on­de fi­ca o seu amor pró­prio. Isa: E o ca­ra que fez es­sa per­gun­ta me fa­lou que eu fa­ço por­que eu gos­to mes­mo! Ent: Vo­cê têm amor pró­prio? Is­so não se­ria uma con­tra­di­ção? Se amar a si mes­ma e dei­xar ho­mens te ba­ter, te hu­mi­lhar, te in­sul­tar. Isa: Amor pró­prio é eu me acei­tar e me amar? Ent: O meu amor pró­prio é eu não dei­xar nin­guém me hu­mi­lhar, mas o seu amor pró­prio eu não pos­so te res­pon­der, por is­so es­tou te per­gun­tan­do. Vo­cê se ama a si mes­ma, né? Isa: Me amo mui­to! Me amo por­que cu­i­do mui­to dos meus avós! E uso o di­nhei­ro pra is­so! Por is­so não fi­co tris­te! Fi­co fe­liz! Ent: Mas is­so não se­ria uma con­tra­di­ção: vc se amar e dei­xar ou­tros te hu­mi­lhar? Isa: Mas eu não me im­por­to com o que os ou­tros fa­zem e fa­lam pra mim, des­de que eu fi­que fe­liz!

Ent: En­ten­di. Em ge­ral, na mai­o­ria dos ca­sos, os ho­mens são ca­ri­nho­sos ou agres­si­vos com vo­cê? Isa: Mais agres­si­vos. Ent: Por­que vo­cê acha que a mai­o­ria dos ho­mens são agres­si­vos com as pros­ti­tu­tas? Isa: Ai, não sei. Ent: Vo­cê acha que es­ses ho­mens des­car­re­gam nas pros­ti­tu­tas a rai­va que eles tem de su­as es­po­sas? Isa: Sim e pa­re­ce tam­bém que eles que­rem mos­trar que são o ma­cho su­pe­ri­or, e tam­bém por­que eles po­dem fa­zer coi­sas que as es­po­sas não que­rem fa­zer. Ent: Por is­so exis­tem mui­tas trai­ções? Por­que o ma­ri­do não é aten­di­do em ca­sa e vai pro­cu­rar na rua? Isa: Com cer­te­za! Ent: Mas fi­ca com­pli­ca­do ver des­sa for­ma por­que um “ma­cho su­pe­ri­or” não pre­ci­sa ba­ter nu­ma mu­lher in­de­fe­sa que não tem o mí­ni­mo de for­ça pa­ra se de­fen­der, não acha? Tal­vez o no­me dis­so se­ja “co­var­dia”, con­cor­da? Isa: Na ho­ra do se­xo tem ho­mem que gos­ta de pe­ne­trar com mais for­ça, se­gu­rar mais for­te, dar mais ta­pas, es­sas coi­sas nor­mais do se­xo que to­da mu­lher acei­ta. Ent: Mas vo­cê já te­ve al­gu­ma ex­pe­ri­ên­cia as­sim, cheia de vi­o­lên­cia fí­si­ca e na­da de se­xo, só pan­ca­das? Isa: Já fi­quei com um ca­ra as­sim, mas an­tes ele me ex­pli­cou que se­ria as­sim. Tem uns que gos­tam de ba­ter mais do que tran­sar.

Ent: Ago­ra cha­ga­mos on­de eu que­ria che­gar. Por­que vo­cê acha que tem uns co­var­des que ba­tem em mu­lher, que é na­tu­ral­men­te in­de­fe­sa? Isa: Não sei, mas o que eu con­cor­dei fa­zer eu te­nho que fa­zer. Ent: Vo­cê gos­ta de apa­nhar? O que vo­cê sen­te por den­tro quan­do vo­cê le­va um ta­pa na ca­ra? Isa: Ele fa­lou que gos­ta­va de ver mu­lher apa­nhan­do sen­do su­pe­ri­or a elas e sen­do sin­ce­ra, me dá mais pra­zer apa­nhar na ca­ra. Ent: En­ten­do… De cer­ta for­ma mu­lher sen­te pra­zer na dor, né? Quan­to mais dor mais pra­zer, cer­to? Isa: Na ho­ra do se­xo sim! De­pois não! Pu­xar ca­be­lo, dar ta­pas, no se­xo anal é mui­to gos­to­so a dor, mas de­pois…

Ent: Vo­cê se lem­bra quan­do vo­cê per­deu a vir­gin­da­de? Co­mo foi? Isa: Foi com 13 anos, com meu ami­go. Ent: Vc gos­tou? Isa: Do­eu pou­co por­que ele era no­vo e era pe­que­no. Ent: Vo­cê gos­ta­ria que ti­ves­se doí­do mui­to na sua pri­mei­ra vez? Isa: De co­ra­ção? Me ar­re­pen­do de ter fei­to com ele. Nem ele e nem eu não sa­bí­a­mos co­mo fa­zer. Ent: En­ten­di… Mas na épo­ca vo­cê achou bom? Isa: Só um pou­co de dor, mas não pra­zer. Ent: En­tão, vo­cê acha que sua pri­mei­ra vez foi um es­tí­mu­lo pa­ra vo­cê bus­car mais? Vo­cê acha que de cer­ta for­ma sua pro­fis­são é um jei­to de vo­cê en­con­trar o ho­mem que vai che­gar no pon­to que vo­cê de­se­ja? Isa: Não por­que gos­to de di­fe­ren­tes ho­mens!

Ent: Di­ga­mos que seus avós es­ti­ves­sem su­per bem e não pre­ci­sas­sem de vo­cê pa­ra na­da: Vo­cê de­ci­di­ria tra­ba­lhar nes­sa pro­fis­são mes­mo as­sim? Isa: Tal­vez sim pe­la in­de­pen­dê­cia, por­que dá di­nhei­ro. Ent: Vo­cê ga­nha em mé­dia quan­to por mês? Isa: Uns dez mil re­ais. Ent: Vo­cê faz mais pe­lo pra­zer ou pe­lo di­nhei­ro? Um dos dois é mais im­por­tan­te pra vo­cê, né? Isa: Pe­lo pra­zer, mas co­mo pre­ci­so de di­nhei­ro eu co­bro.

Ent: Vo­cê quer se ca­sar e ter uma fa­mí­lia um dia? Fi­lhos? Isa: Não. Ent: Vo­cê pre­ten­de ser uma pros­ti­tu­ta pa­ra sem­pre? Isa: Te­nho me­do de fa­zer igual meus pa­is fi­ze­ram. Ent: O que eles fi­ze­ram? Isa: Me aban­do­na­ram com meus avós, o res­to dos meus tios e ti­as nem se im­por­tam com meus avós. Ent: Nos­sa, mas que coi­sa! Vo­cê pre­fe­re não ter fa­mí­lia pa­ra não ter es­se ti­po de de­cep­ção? Isa: Sim, mas quan­do eu for mais ve­lha pos­so mu­dar de ideia.

Ent: En­ten­do… Em re­la­ção à pro­te­ção: qua­is ti­pos de cui­da­dos vo­cê to­ma pra não pe­gar do­en­ças? Isa: Ca­mi­si­nha.

Ent: En­ten­di. Seus cli­en­tes vo­cê en­con­tra co­mo? Isa: De­pen­de da pres­sa que pre­ci­so do di­nhei­ro, mas um vai fa­lan­do pa­ra o ou­tro.

Ent: Vo­cê se sen­te fe­mi­ni­na quan­do es­tá sen­do abu­sa­da? Isa: Sim, dá mais pra­zer ser abu­sa­da. Ent: Na sua opi­ni­ão, o que se­ria ser abu­sa­da? Gos­ta­ria de de­ta­lhes, por fa­vor. Vou dei­xar sua en­tre­vis­ta sem no­me, sem iden­ti­fi­ca­ção. Nin­guém vai sa­ber quem vo­cê é. Isa: Fi­quei, fiz tu­do com o ho­mem e ele saiu, me dei­xou lá, nem me pa­gou. Es­se ti­po de coi­sa é mui­to di­fi­cil de con­tar pa­ra al­guém. Ent: Es­se que abu­sou tan­to de vo­cê e de­pois saiu e nem pa­gou, es­se se­ria al­guém que vo­cê se apai­xo­na­ria? Isa: (ri­sos) sim (mais ri­sos). Ent: De cer­ta for­ma a mu­lher gos­ta quan­do o ho­mem men­te pra ela, né? Isa: Sim, do ho­mem que não es­tá nem aí pra na­da.

Ent: So­mos ani­mais, vc con­cor­da com is­so? Isa: Não! Por­que os ani­mas cu­i­dam dos mes­mos da mes­ma es­pé­cie e nós nos odi­a­mos. Ti­po, fa­lo a mai­o­ria das pes­so­as, não se im­por­tam com a ou­tra. Ti­po eu, meus pa­is me dei­xa­ram e tem uma ca­chor­ri­nha em ca­sa que tem fi­lho­te e cu­i­da mui­to de­les.

Ent: Se­xo tem li­mi­tes? Isa: Humm… Sim! Ent: Qua­is se­ri­am es­ses “li­mi­tes”? Isa: Aí ca­da um tem o seu. Ent: En­ten­do… Mas cla­ro que cri­an­ças, de­fi­cien­tes men­tais, de­fun­tos, ani­mais, en­fim, os des­pro­te­gi­dos que não tem ca­pa­ci­da­de de de­ci­dir não po­dem fa­zer se­xo nem se­rem usa­dos pa­ra se­xo, con­cor­da? Isa: Con­cor­do, tem que ter ca­pa­ci­da­de se­xu­al e só po­de fa­zer se os dois qui­se­rem. Se um não to­par não po­de.

Ent: E em re­la­ção ao es­tu­pro? Vc já foi es­tu­pra­da al­gu­ma vez? O que é es­tu­pro pa­ra vo­cê? Isa: Sim, já fui es­tu­pra­da. Ent: O que sig­ni­fi­ca es­tu­pro na sua opi­ni­ão? Isa: (in­ter­rup­ção nas res­pos­tas) Me des­cul­pa… Ent: Fi­que à von­ta­de. Isa: Nos­sa… Que tris­te! Ent: Já que vo­cê já foi es­tu­pra­da o que vo­cê me diz so­bre o es­tu­pro? Isa: Eu odeio! Ent: Co­mo vo­cê des­cre­ve a sen­sa­ção de ser es­tu­pra­da? Isa: Eu não fui es­tu­pra­da. Na ver­da­de fui, foi quan­do eu fa­lei que fiz e não re­ce­bi. Ent: Ah… En­tão foi al­go pa­re­ci­do com es­tu­pro? Não en­ten­di bem. Isa: To­da vez que fiz se­xo foi por­que eu to­pei, mas é com­pli­ca­do fa­lar so­bre is­so.

Ent: Vo­cê es­tá gos­tan­do da en­tre­vis­ta? Quer con­ti­nu­ar? Isa: Sim, mas po­de se sol­tar mais (ri­sos) vo­cê es­tá mui­to sé­rio. Ent: (ri­sos) sou ex­tre­ma­men­te téc­ni­co né? En­tão… O q vo­cê acha de re­li­gi­ão? Se­res es­pi­ri­tua­is. Bí­blia, Deus, en­fim. Isa: Es­ta­mos fa­lan­do até de re­li­gi­ão? Ent: Sim, é uma en­tre­vis­ta! Isa: Sou ateia e vo­cê? Ent: En­ten­di, vo­cê quer con­ver­sar, vo­cê quer en­cer­rar a en­tre­vis­ta e con­ver­sar nor­mal, né?

 

(An­dré Lu­ís, pseu­dô­ni­mo: Ti­ra­nos­sau­rus Rex – Em­bai­xa­dor Mun­di­al da Paz, mem­bro da or­ga­ni­za­ção im­pe­ri­al mun­di­al: Royal So­ci­ety Group / pu­bli­ci­tá­rio / in­ven­tor / fi­ló­so­fo / mú­si­co / in­te­gran­te da Royal Aca­demy In­ter­na­ti­o­nal / re­gis­tra­do na su­cur­sal da Or­ga­ni­za­ção das Na­ções Uni­das (ONU) em Bonn, na Ale­ma­nha, sob o nú­me­ro de re­gis­tro 849.381 / mem­bro da Royal So­ci­ety of Sci­en­ce, Art and De­sign / mem­bro ho­no­rá­rio das se­guin­tes or­dens ca­va­lei­res­cas mun­di­ais: Or­dem dos Ca­va­lei­ros Tem­plá­rios; Ca­va­lei­ros Sar­ma­thi­a­nos da Ásia Cen­tral; Ca­va­lei­ros de Mal­ta; Ca­va­lei­ros Teu­tô­ni­cos da Ale­ma­nha; Ca­va­lei­ros Hos­pi­ta­lá­ri­os de Je­ru­sa­lém / tam­bém mem­bro e in­te­gran­te  de di­ver­sas ou­tras or­dens im­pe­ri­ais, ca­va­lei­res­cas e di­plo­má­ti­cas mun­di­ais / mem­bro da Fe­de­ra­ção Bra­si­lei­ra dos Aca­dê­mi­cos das Ci­ên­cias, Le­tras e Ar­tes: ad­ver­ti­sing­pro­pa­gan­[email protected])

 


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