Opinião

Proteção veicular: democratização ao invés de concorrência

Redação DM

Publicado em 24 de dezembro de 2017 às 00:26 | Atualizado há 8 anos

Atu­al­men­te, tra­va-se uma gran­de dis­cus­são na­ci­o­nal quan­to à re­gu­la­ção do mer­ca­do de pro­te­ção ve­i­cu­lar no Bra­sil. O pon­to cen­tral des­se de­ba­te diz res­pei­to à le­ga­li­da­de da atu­a­ção, nes­se se­tor, das ini­ci­a­ti­vas or­ga­ni­za­das sob a for­ma de co­o­pe­ra­ti­vas. Atu­al­men­te, no Bra­sil, so­men­te as So­ci­e­da­des Anô­ni­mas pos­su­em au­to­ri­za­ção le­gal pa­ra atu­ar na ven­da de se­gu­ros pa­ra ve­í­cu­los. O di­plo­ma le­gal que es­ta­be­le­ce as re­gras de fun­cio­na­men­to des­se se­tor é o De­cre­to-Lei 73, ela­bo­ra­do no lon­gín­quo ano de 1966.

Re­pre­sen­tan­tes das So­ci­e­da­des Anô­ni­mas con­se­gui­ram pos­si­bi­li­tar, via Câ­ma­ra dos De­pu­ta­dos, o Pro­je­to-Lei 3139, que tor­na ain­da mais ri­go­ro­sas as san­ções pre­vis­tas pa­ra os em­pre­en­di­men­tos que não se en­qua­dra­rem co­mo S.A. e que ofe­re­ce­rem ser­vi­ços de pro­te­ção ve­i­cu­lar. Na prá­ti­ca, o PL 3139 foi ela­bo­ra­do pa­ra aca­bar com as co­o­pe­ra­ti­vas que já exer­cem su­as ati­vi­da­des nes­se se­tor com su­ces­so.

Em nos­so en­ten­di­men­to, o PL 3139 é um re­tro­ces­so pa­ra a evo­lu­ção da eco­no­mia de li­vre mer­ca­do no Bra­sil. Além de o mer­ca­do de ca­pi­tais ter si­do trans­for­ma­do ao lon­go des­se mais de meio sé­cu­lo de vi­gên­cia do DL 73/66, uma lei ca­du­ca, o te­mor dos re­pre­sen­tan­tes das So­ci­e­da­des Anô­ni­mas é o da con­cor­rên­cia re­pre­sen­ta­da pe­las co­o­pe­ra­ti­vas.

Tal me­do é in­fun­da­do. Des­de seu sur­gi­men­to em Be­tim, cen­tro in­dus­tri­al au­to­mo­bi­lís­ti­co de Mi­nas Ge­ra­is, as co­o­pe­ra­ti­vas de pro­te­ção ve­i­cu­lar não se des­ti­nam a com­pe­tir com as So­ci­e­da­des Anô­ni­mas pe­los mes­mos ni­chos de mer­ca­do. Pe­lo con­trá­rio: as co­o­pe­ra­ti­vas vão so­cor­rer aque­les pro­pri­e­tá­rios de ve­í­cu­los cu­jas li­mi­ta­ções pe­cu­ni­á­rias não lhes per­mi­tem ar­car com as ta­xas de ade­são e as men­sa­li­da­des de uma se­gu­ra­do­ra tra­di­cio­nal. Em re­por­ta­gem de sua edi­ção de ju­nho des­te ano, a Re­vis­ta Qua­tro Ro­das traz in­for­ma­ção se­gun­do a qual a ade­são a uma co­o­pe­ra­ti­va de pro­te­ção ve­i­cu­lar é até 70% mais ba­ra­ta que a op­ção por uma se­gu­ra­do­ra tra­di­cio­nal.

Um ou­tro equí­vo­co em que in­cor­rem os de­fen­so­res do PL 3139 e, por ex­ten­são, do ana­crô­ni­co DL 73/66, é acu­sar as co­o­pe­ra­ti­vas de re­du­zir a qua­li­da­de dos ser­vi­ços pres­ta­dos, sob a for­ma de pro­ce­di­men­tos tais co­mo a uti­li­za­ção de pe­ças usa­das e gas­tas. Sua pró­pria cons­ti­tu­i­ção tor­na es­se ti­po de ação frau­du­len­ta pra­ti­ca­men­te im­pos­sí­vel. Em uma co­o­pe­ra­ti­va de pro­te­ção ve­i­cu­lar, os cus­tos ad­vin­dos da ocor­rên­cia dos si­nis­tros du­ran­te o exer­cí­cio men­sal são re­par­ti­dos en­tre os co­o­pe­ra­dos. Es­sa mai­or pro­xi­mi­da­de en­tre fon­te fi­nan­cia­do­ra do si­nis­tro e ser­vi­ço pres­ta­do faz com que o me­ca­nis­mo de fis­ca­li­za­ção ocor­ra de for­ma sim­pli­fi­ca­da.

Não há, por con­se­guin­te, qual­quer fun­da­men­to na ini­ci­a­ti­va cor­po­ri­fi­ca­da pe­lo PL 3139 a não ser ne­gar, àque­les que não po­dem pa­gar pe­lo se­gu­ro por uma So­ci­e­da­de Anô­ni­ma, a pos­si­bi­li­da­de de aque­le ca­mi­nho­nei­ro que não pos­sui ou­tra for­ma de ge­rar ren­da que não seu ve­í­cu­lo se­cu­ri­ti­zar seu pa­tri­mô­nio. Os gran­des, as com­pa­nhi­as de tran­spor­te, os de­ten­to­res de fro­tas de ca­mi­nhões, vão con­ti­nu­ar a op­tar pe­las so­ci­e­da­des anô­ni­mas. Não se tra­ta de con­cor­rên­cia, mas de um jus­to pro­ces­so de de­mo­cra­ti­za­ção.

 

(Au­ré­lio Bran­dão é fun­da­dor da Au­to Bem Bra­sil e co-fun­da­dor e vi­ce-pre­si­den­te da Agên­cia de Au­tor­re­gu­la­men­ta­ção das As­so­cia­ções de Pro­te­ção Ve­i­cu­lar e Pa­tri­mo­ni­al (AA­APV))

 

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias