Opinião

PT, larga o osso

Diário da Manhã

Publicado em 20 de abril de 2016 às 02:05 | Atualizado há 9 anos

Em 64, ainda rapazinho, eu estava no front à esquerda  e por isto puxei muitas cadeias na ditadura militar, a mais feroz e longeva de nossa história. Escapei com vida, e passei a ter militância dupla – no clandestino e glorioso Partido Comunista Brasileiro e no MDB de que sou um dos fundadores.

Em 80, cheguei a acompanhar o senador Henrique Santillo ao congresso que fundou o PT em São Bernardo.  Não assinei a ficha do partido porque senti nele cheiro de sacristia. E mais: depois de entrevistar o lendário Apolônio de Carvalho ali presente, em conversa informal, ele me avisou:

“Esse partido que está nascendo aqui hoje é profundamente anticomunista e é alternativa da classe dominante para obstruir o avanço socialista”.

Participei também no front da eleição direta para governadores em 82, e acabei fazendo parte do governo do PMDB.

Os perseguidos fomos anistiados, e o todo poderoso Golberi do Couto e Silva,  Chefe da Casa Civil da ditadura militar, antes de deixar o osso, jogou casca de banana para o  futuro escorregar. Explico: com a anistia, Leonel Brizolla, ex-governador do Rio Grande do Sul,  anunciara a sua volta do exílio para acerto de contas com a ditadura.

E aí o diabólico Golberi foi buscar em Lula a sua tábua de salvação. Golberi mandou colocar na capa da revista “Veja” a cara inteira de Lula, com a     indicação: “O novo líder dos trabalhadores do Brasil”.

O líder descoberto ou inventado por Golberi era um rapaz franzino, criolo e retirante nordestino, e que  acabara de ser eleito presidente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo, o Lula.

Pela primeira vez, o Brasil ouvira falar o seu nome e vira a sua cara ocupando toda a capa da revista “Veja”, a mais cara e importante publicação impressa do país.

Fui pras ruas nas “diretas já”, vi Tancredo Neves se eleger nas eleição indireta para destruí-la, e morrer na véspera de assumir o governo.

Na primeira eleição direta presidencial, pós ditadura, em l.989, eu era presidente estadual do PDT, cujo candidato nacional era Leonel Brizolla. E o Brasil está pagando até hoje o alto preço de não tê-lo feito presidente.

Naquela eleição, tivemos os melhores e piores candidatos: Brizolla, Ulisses Guimarães, Mário Covas, Luis Inácio Lula da Silva,  Fernando Collor de Melo  e  até Ronaldo Caiado(montado num cavalo branco).

Em eleições livres, o povo, em jejum por mais de 20 anos, escolheu dois nomes para disputar o segundo turno das eleições: Collor, um pleiboi de Alagoas, neto do ministro Lindolfo Collor e filho do senador Arnon de Melo que matara a tiros o senador Ayala em plena sessão do Senado, ao atirar no senador Silvestre Péricles.

E Lula, o homem da profecia de Golberi que começava a se cumprir muito antes da previsão do profeta. Na reta final da campanha, as pesquisas indicavam disputa em segundo turno entre Collor e Brizola. Pelas pesquisas, Brizola venceria Collor com facilidade. Mas Lula perdia para Collor. Naquela época foi denunciado o derrame de dinheiro em favor da candidatura de Lula, e a campanha pesada e suja da rede globo de televisão contra Brizola. Lula foi ao segundo turno com menos de meio por cento à frente de Brizolla.

Leonel Brizola ficou em terceiro lugar, e apoiou Lula em segundo turno, mas denuciou:

“As elites escolheram os dois candidatos para o segundo turno: Collor, o filhote legítimo da ditadura, e Lula, a cunha das elites para dividir as forças democráticas e nacionalistas. E nós temos que apoiar um deles. O povo diz que política é a arte de engolir sapo. E nós vamos ter que engolir esse sapo barbudo”, decidiu Brizolla, e é daí que vem o apelido a Lula de “sapo barbudo”.

Color entrou confiscando a poupança do povo e saíu de cata-cavacos por impeatchemt também.

Lula embirrou na candidatura até ganhar.

Como se vê, a controvérsia em torno de Lula não é de hoje. Vem de longe. E foi assim com esse gingado, essa língua destravada de um vocabulário pornográfico de fazer inveja a porteiro de baixo meretrício que ele  foi presidente do Brasil em dois mandatos, com os votos da classe média “ingrata” e sobreviveu ao “mensalão”.

No governo, deu pouco dinheiro para o povo pela “bolsa família” e encheu as burras dos banqueiros, como a botar mais toucinho na bunda de porco gordo. Lula ainda deu carro novo para a classe média, mandou os “negão de bermuda” viajar de avião.

Elegeu Dilma presidente com facilidade, ela que nunca concorrera sequer a eleição de síndica de prédio. Mas, depois, para reelegê-la teve que mentir muito e mandá-la mentir ainda mais.

Dilma ganhou raspando a trave, e mal assumiu, a classe média teve que devolver o carro novo e foi a pés para rua pedir a saída dela. Com muita propriedade, o PT apelidou essa classe de “os coxinhas”.  Os “negão de bermuda” voltaram para as rodoviárias e o povão, demoniacamente atrevido, trovejou nas praças “fora Dilma”.

A direita canalha e sem honra pegou carona no povo, e os Caiado e Balsonaro chegam a babar de tanta raiva. E a direitona se arreganhou toda – os agrobois chegaram a insultar Chico Buarque, o maior compositor brasileiro deste e do outro século.

Lula foi tão poderoso, que chegou a eleger Fernando Adaad, o poste,  prefeito de São Paulo.E mais: o presidente Barack Obama, o homem mais poderoso do planeta chegou a apresentá-lo ao mundo: “Lula é o cara”.

Fez algumas incursões por Goiás, mas aqui ele deu com os burros nágua: na eleição de 2.010 fez barraca em Goiás para eleger Iris Rezende governador. Veio movido por vingança e ódio a Marconi Perillo que lealmente o avisara da existência do “mensalão”. E Marconi o derrotou no primeiro e segundo turno.

Antes do juiz Sérgio Moro, Lula era professor de Deus e mandava na Polícia Federal . Ele voltou a Goiás com mais ódio. Mandou prender o bicheiro Carlos Cachoeira. Cachoeira é um contraventor do jogo do bicho desde sempre, ofício que herdara do pai, o velho Cachoeirão, um homem culto e politizado.

Mandou prender Carlinho Cachoeira e logo o ligara a Marconi que havia vendido uma casa para ele a preço de mercado na chamada operação Monte Carlo. O Congresso Nacional instalou CPMI sobre o caso, e Marconi foi lá no corredor polonês, como boi que caminha para o matadouro. De lá saiu absolvido.

O escândalo foi tão rumoroso que o senador Demósthenes Torres teve o mandato cassado pelo Senado Federal porque era amigo de Cachoeira e dele recebera um aparelho telefônico e uma cozinha de presente.

Ao final, Cachoeira saiu da cadeia, Marconi foi absolvido na Justiça e pelo povo, pois se elegera pela quarta vez governador de Goiás e Demósthenes perdeu o mandato de senador.

Refugada  por mais de  70 por cento dos votos da Câmara Federal e da opinião pública, o governo Dilma é um cadáver insepulto a implorar  sepultura.

Por uma questão de rito,  nos próximos 20 dias a presidenta Dilma deixará a cadeira presidencial. Com chance zero de continuar no cargo, o PT ainda passa esperança ao povo de que ela pode continuar. Teimam em manter o cadáver insepulto e a feder cada vez mais. Uma judiação o que fazem com ela. Larga o osso, PT, e deixe Dilma ir embora.

Hoje, o ex-presidente Lula deve ser confirmado ministro chefe da Casa Civil. Pra quê? Ministro de quê? De um governo caído e decaído com menos de 30 dias de vida, quando Lula voltará as mãos do juiz Sergio Moro. Desce desse pau, Lula, que ele tem muito espinho.

Nunca um político da estatura de Lula se expõs tanto em tão poucos dias, procurando as portas do fundo da história. Ha menos de um mês, o ex-presidente Lula buscou ser nomeado ministro com medo de ser preso, acusado de gatunagem. A história fala até dos ladrões, mas não fala dos covardes.

O PT e seu bando falaram, e repetiram, e gritaram , e espraguejaram que o processo de impeatchment  contra a presidenta Dilma é golpe. Não há maior desfaçatez: um processo passado e repassado pelo Supremo Tribunal Federal e aprovado por mais de dois terços dos votos dos deputados não pode sequer ser contestado.

Alegaram também que Eduardo Cunha é réu no STF, e por isto, não podia presidir a sessão do impeathcment. Deveriam arguir isto também no STF.

Eduardo Cunha é uma tranqueira moral, é curva de rio, mas só se rompe as barreiras com o entulho e o lixo das enxurradas. E foi o ex-deputado Roberto Jeferson, o detonador do mensalão quem melhor definiu as contradições do atual momento político nacional. Ao rádio ele falou:

“Eu conheço esses bandalhos do PT, pois deles fui parceiro e não dei conta de conviver com eles durante muito tempo. Eles levam a luta para os terremos mais baixos. A briga com eles tem que ser no vale tudo: é dedada nos olhos, cusparada na cara, pesada na bunda e nas partes íntimas.  Só mesmo um bandido com a frieza de Eduardo Cunha pode enfrentá-los e derrotá-los” – disse o professor Roberto Jeferson.

O deputado Eduardo Cunha está nas mãos do STF e da Câmara dos deputados. Cá nas ruas, o povo está mostrando as algemas para  ele.

Eu acompanhei a votação de domingo na Câmara Federal, voto a voto. Parecia um terreiro de macumba ou um muro de lamentações protestantes. Se Deus existisse, ele nao conviveria com tanta hipocrisia. E mais:  uma procissão de maridos contritos e submissos jurando e babando fidelidade às esposas ausentes.

Nunca as raparigas foram tão humilhadas.

Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista.

Tags

Leia também

Siga o Diário da Manhã no Google Notícias e fique sempre por dentro

edição
do dia

Impresso do dia

últimas
notícias