Qual é a dor que dói mais?
Diário da Manhã
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 23:28 | Atualizado há 9 anosDe repente, em meio às visitas desta quarta-feira, uma pergunta surge no meu coração: qual é a dor que dói mais? Porque, como diz a canção, “há dores demais espalhadas por este país”.
Em cada visita encontro uma dor mais intensa e mais aguda, que faz as lágrimas brotarem com facilidade. Mesmo buscando e acreditando na vida, a morte nos ronda o tempo todo. A fragilidade e a impotência nos envolvem, mas, no coração a certeza de que nada pode nos apartar do amor de Deus.
Mas, quanto à pergunta proposta, penso que a dor que dói mais é aquela que sinto e vejo como minha. Quem sabe a dor que dói mais é a do Célio, que foi atropelado, ficou dois meses em coma e quase três anos sem andar. E agora está sozinho porque a esposa foi embora com outro, levando também o filho. Ao entrar nas UTIs vejo pessoas de todas as idades, muitas delas precisando de um milagre. Nas enfermarias, não é muito diferente, vejo o sofrimento dos pacientes e dos acompanhantes, e nas chácaras de recuperação a dor e a humilhação de quem é arrancado do convívio social por causa do vício. Em um terreno baldio, num Setor nobre e próximo a uma Igreja, um casal vivendo pior que bicho, e a mulher está imobilizada porque foi atropelada. Chego em um velório e sou envolvido pela dor de pais que perderam o único filho. Vou tentando esconder as lágrimas para continuar a Missão.
Vem à minha mente que a dor mais doída é também a da mãe que, desesperada, precisa recorrer à justiça para receber ajuda dos filhos ou é a dor da esposa que viu o marido ir embora com outra, deixando-a sozinha com os filhos tão pequeninos. É dor de todos os lados, de todos os jeitos e de todas as cores e que poucos percebem e oferecem solidariedade. Estamos ocupados demais com as nossas próprias “dores” para nos envolvermos com a dor dos outros. Vejo, ainda, a dor de quem abandona ou é abandonado, a dor de quem fere ou é ferido, a dor da indiferença… a dor do desamor. Vejo a dor de quem engana ou é enganado, a dor de um mundo sem fé.
Há ainda outras coisas que todos consideramos dolorosas, como a solidão. Não nos importamos com ninguém e ninguém se importa conosco. Estamos sozinhos. Como disse o Papa Francisco: “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros, faz-nos viver como se fôssemos bolhas de sabão, que são bonitas mas não são nada, são pura ilusão fútil. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença. Habituamo-nos ao sofrimento do outro, não nos diz respeito, não nos interessa, não é responsabilidade nossa.”
Diz-nos Jesus: “Onde está o teu irmão, eu estou presente nele.” Somos uma sociedade que esqueceu a capacidade de chorar. Quem chora hoje no mundo? Pensemos nas pessoas que estão sofrendo, escutemos seus gritos de dor e pedido de ajuda.
“Há muita dor por onde piso.”
(Pe. Luiz Augusto, padre)