Qual o projeto político de Bolsonaro?
Redação DM
Publicado em 8 de agosto de 2018 às 23:10 | Atualizado há 7 anos
Introdução:
Sem Lula disputando a eleição presidencial, é Jair Bolsonaro do PSL que vem liderando as pesquisas de intenção de votos. Há uma parte desse eleitorado que está simpático a campanha de Bolsonaro porque estão indignados com a atual situação que está o país. Com boas intenções, mas com falta de perspectiva e descrença na política esse eleitorado começa a olhar para Bolsonaro porque quer ver diminuir o desemprego, estão preocupados com a violência das grandes cidades e querem um país com uma economia que dê oportunidades para a maioria do povo viver com dignidade. Mas será mesmo que todo mundo que está simpático a candidatura de Bolsonaro tem clareza do seu projeto político?
Erram aqueles que dizem que Bolsonaro é “burro e não sabe de nada”, “ele não tem projeto”, “vai cair nas pesquisas em breve”. Tratar Bolsonaro e seu simpatizantes somente com piadas, não vai elevar o debate ao nível que precisamos para entender suas ideias. Embora muitos eleitores de Bolsonaro estejam cegos pelo fanatismo político, há muita gente aberta ao debate, que ainda pode mudar de voto e que não tem certeza que vá mesmo votar em Bolsonaro.
É preciso evidenciar e provar que o projeto político de Bolsonaro não atende os interesses da maioria do povo trabalhador brasileiro. Pelo contrário, é um projeto que tem nome e endereço, que ganha conexão internacional e que está a serviço dos interesses do mercado de capitais e dos setores da ultra direta mundial. É a aliança do liberalismo econômico com o conservadorismo no comportamento social e costumes.
Esse artigo tem o objetivo de ajudar a acender uma luz para quem ainda está em dúvida em quem votar e para aqueles que estão indo apenas no “oba oba ” entenderem melhor o que significa o projeto político de Bolsonaro.
PILARES DO PROJETO BOLSONARO 2018
Não é possível entendermos o projeto político que está por trás da candidatura de Bolsonaro, se não estudarmos com quem o mesmo está associado, quem são os seus parceiros, e o que andam defendendo publicamente para o Brasil.
Há três nomes que estão associados a campanha de Bolsonaro com diferentes funções, mas que convergem num mesmo projeto. A indicação do General Mourão para vice presidente, de Paulo Guedes para ser o homem da economia e a assessoria de Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, são relevantes para entendermos o que seria efetivamente um possível governo comandado por Bolsonaro. Vale também observarmos qual o papel que o partido de Bolsonaro vem cumprindo no último período para saber qual a política o PSL vem aplicando no país ultimamente.
General Mourão – Candidato a vice-presidente na Chapa de Jair Bolsonaro.
“O país herdou a indolência do índio e a malandragem do negro”
(Frase do General Mourão na primeira declaração pública após ser indicado como candidato a vice presidente da República)
O General Antônio Hamilton Mourão, comandou o maior efetivo militar do país, o comando Militar do Sul, soma um quarto do efetivo brasileiro reunindo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Esse General golpista, vem defendendo no último período a necessidade de uma intervenção militar no país, foi eleito recentemente presidente do Clube Militar.
O clube militar é uma instituição histórica e é composta por militares do exército, aeronáutica e marinha, teve uma participação ativa no golpe de 64 e vem no último período tendo iniciativas ousadas com o objetivo de disputar pra valer política no país. Em outubro de 2017, a revista sociedade militar que é o principal órgão de imprensa do clube militar, publicou uma matéria que antecipava a vitória de Mourão a presidência do clube militar e o projeto político dos militares em participar ativamente da vida política do país:
“Apoiado pelo General Pimentel e com o prestígio que possui, acredita-se que dificilmente Mourão deixará de vencer as eleições para a presidência do Clube. É provável que sua candidatura até desestimule a formação de outras chapas… Diante do crescimento da crise política em nosso país, sob a batuta de MOURÃO o Clube Militar tende a ser mais ousado ainda do que tem sido e – como já propusera um dos candidatos em 2014 – é provável que chegue até a citar seus candidatos preferidos para ocupar cadeiras na Câmara Federal e Senado e, quem sabe, para a presidência da República.”
Hamilton Mourão vem ativamente organizando e reunindo com militares em todo país para disputar eleitoralmente as casas legislativas, querem formar grandes bancadas militares tanto nas assembleias estaduais como no congresso nacional.
O General Mourão em almoço na Câmara de Indústria e Comercio de Caxias do Sul, nesse dia 06 de agosto, após já estar oficialmente candidato a vice presidente da república, disparou as seguintes declarações:
Sobre a dificuldade do Brasil se desenvolver, Mourão atribuiu isso a herança cultural do Brasil que estaria prejudicada porque “herdamos a indolência (preguiça, desleixo) do Índio e a malandragem (possível falta de caráter) do Negro”. Nessa mesma reunião defendeu a privatização da Petrobrás… São declarações categóricas, que expressam uma política de preconceito aos povos originários e de entrega do patrimônio público. Como representante das forças armadas de um país, nota-se o contraditório desprezo pelo fortalecimento da soberania nacional e desinteresse para defender a indústria nacional frente as grandes potências mundiais.
Um governo que se apoia nessas ideias não atenderia os interesses da maioria da população brasileira, pois a maioria da população tem na sua conformação a mistura cultural de negros e índios. Essas duas etnias tiveram comunidades, tribos, famílias e vidas inteiras destruídas para construir o país que temos hoje. E são insultados, humilhados pelas palavras do candidato a vice presidente da república de uma chapa que lidera as pesquisas. As pobres famílias beneficiárias da política de cotas, podem esperar o que de um governo Bolsonaro/Mourão?
Em relação a venda da Petrobrás, jamais foi o desejo da maioria do povo brasileiro. Se há um desejo nacional para que o nosso país não seja uma mera colônia das grandes potencias, se queremos ter orgulho de nossa soberania e se queremos um futuro independente economicamente, vender o patrimônio público nunca foi a saída. Toda produção de petróleo brasileiro sob o comando de multinacionais, é colocar o país de joelhos na disputa mundial por recursos energéticos, que são estratégicos para a economia de qualquer país. Ver um militar de alta patente defender a venda do patrimônio de uma nação é ver um covarde de farda. Essa não pode ser a nossa história e não pode ser o nosso futuro!
O povo brasileiro não pode ver com bons olhos um governo e o congresso nacional com tanta influência dos militares, essa página traumática já foi virada em nossa história. Não queremos a volta da censura, da violência contra as manifestações, do sufocamento das liberdades democráticas e da política sendo influenciada pelos canhões das forças armadas. Se você dá importância real a palavra liberdade, é melhor começar a trabalhar para não eleger a chapa Bolsonaro/Mourão. Já são milhões de assassinatos e mortes por conflitos violentos entre forças armadas e a população no país. Essa política autoritária vai gerar mais conflitos sociais, não gera confiança econômica no país, não vai contribuir para gerar empregos e desenvolvimento, e vai aprofundar a tensão social. Queremos pão e paz, e não fome e guerra!
Economista Paulo Guedes como homem de Bolsonaro responsável pela economia.
“Se eu tivesse que fazer uma única mudança seria a reforma da Previdência, porque o déficit sobe de R$ 50 bilhões para R$ 80 bilhões num ano, para R$ 130 bilhões no outro, é uma bola de neve que vai explodir o Brasil inteiro.” (Paulo Guedes, Folha de São Paulo, 2017)
Paulo Guedes não é só um simples economista, é um banqueiro que atua no mercado de capitais, colunista da revista Época e do jornal O Globo. Fundador do Banco Pactual, sócio do grupo Bozano, ambos investigados pela Justiça federal por corrupção e pela própria operação Lava Jato. É um defensor empolgado da reforma da previdência, da retirada de direitos do trabalhador através da reforma trabalhista e da privatização geral de todas as empresas estatais que existem no país. Não há nenhum exagero nessas informações, uma simples visita no google para pesquisar quem é Paulo Guedes facilmente constata-se o conteúdo de suas ideias. Ou seja, nada diferente do que já existe no Brasil.
A defesa dessas ideias é coerente com o seu pensamento ultra liberal, formado na Universidade de Chicago( centro mundial de elaborações das ideias liberais). As ideias liberais levadas até as ultimas consequências como quer Paulo Guedes vai destruir direitos sociais, vai restringir o acesso ao ensino públicos e gratuito, vai acabar com as cotas nas universidades, vai fazer desaparecer todo o programa que ainda resta de proteção social dos mais pobres, vai privatizar o SUS e entregar a saúde pública nas mãos do mercado e vai dar continuidade ao congelamento dos investimentos sociais feito por Temer. Afinal, é um entusiasta da aprovação da EC 95 que proíbe investimentos na saúde e educação por vinte anos.
Assim, é possível que os especuladores, banqueiros e agentes do sistema financeiro terão como ganhar ainda mais dinheiro, não há nenhuma preocupação com o ser humano no programa econômico defendido por Paulo Guedes, a única preocupação são os lucros e dividendos que pode se extrair da economia brasileira, até porque ele é um banqueiro, esse é o seu curriculum, essa é a sua história de vida, ficar rico com especulação no mercado de capitais.
O Brasil viveu a era das privatizações com FHC, o país quebrou, gerou milhões de desempregados e a dívida pública não diminuiu, só aumentou. A receita de Paulo Guedes não passou na prova da história nem aqui e nenhum lugar do mundo, pois até os EUA, que é um exemplo de país com ideias liberais, em todas as suas crises, o estado teve que intervir e Trump agora está adotando políticas protecionistas. Se você quer dar um voto que tire o país da crise econômica, não será votando em Bolsonaro e suas bravatas que iremos sair dessa, pense no futuro de sua família e de seus filhos.
O governo de FHC fez uma reforma da previdência nos anos 90, assim como Lula também fez em 2003, ambas as reformas tiraram direitos dos trabalhadores, fortaleceu o mercado da previdência privada e não diminuiu a dívida pública, que hoje passa dos R$ 3 trilhões. Temer tentou de todas as formas aprovar uma nova reforma da previdência e não conseguiu, os trabalhadores foram a luta porque sabem que a reforma da previdência só vai fazer o povo brasileiro trabalhar até morrer. Porque essa mesma formula funcionaria num eventual governo Bolsonaro? É evidente que a previdência social não é a vilã das contas públicas, é um direito social que não deve ser revogado. Paulo Guedes só está tentando enganar o eleitor, a verdade é que ele está defendendo sua classe e os interesses do sistema financeiro. Afinal, ele é um banqueiro, só é rico porque vive do mercado de capitais, especulando na bolsa de valores. Porque ele não propõe taxar as grandes fortunas, os lucros e dividendos do sistema financeiro?
Steven Bannon ex-estrategista de Trump, é apoiador de Bolsonaro.
O filho de Bolsonaro, esteve com Bannon essa semana na cidade Nova York, postou nas redes sociais a seguinte declaração:
“Conheci hj Steve Banoon, estrategista da campanha d Trump @realDonaldTrump .Conversamos e concluímos ter a mesma visão de mundo. Ele afirmou ser entusiasta da campanha d Bolsonaro e certamente estamos em contato p somar forças, principalmente contra marxismo cultural.”
Bannon, foi uma dos quadros políticos que dirigiu a campanha de Trump, sob elogios de ex- lideres da Ku Klux Klan e críticas de setores da própria direita republicana por ser radical demais, depois foi convocado para trabalhar na Casa Branca. Antes de se envolver na campanha de Trump, era responsável por um site de notícias chamado Breitbart News. Segundo a ONG Southern Poverty Law Center, que monitora crimes de ódio dos EUA, Bannon é principal responsável pela transformação do Breitbart News numa “máquina de propaganda racista e nacionalista branca”.
Essa conexão com aliados do presidente dos EUA, Donald Trump, não é uma coincidência qualquer. Há um projeto internacional coerente com as ideias que estamos criticando nesse texto. Como Bolsonaro tem um projeto entreguista, autoritário e que quer levar o país na marra para o caminho da recolonização. Nada mais justo que se aliar com estrategista de Donald Trump, pois enquanto o governo americano protege os interesses de seu próprio país, Bolsonaro faz o movimento contrário, entrega toda a nossa riqueza para o império, com a ajuda de seus próprios assessores.
O ex-estrategista de Trump, que criou a expressão: “ América em primeiro lugar”, só poderia ajudar a eleger um presidente no Brasil que estivesse a serviço dos interesses dos poderosos dos EUA e não dos interesses do povo brasileiro. Nesse marco, não é possível acreditar que Bolsonaro é uma alternativa para o Brasil ser um dia uma grande potência capaz de competir no mercado mundial com soberania. Bolsonaro é um atalho para transformar o Brasil numa colônia dos EUA, no qual sejamos humilhados todos os dias para atender os interesses da economia norte americana que está preocupada com as disputas que precisa fazer com Rússia e China no mercado mundial.
Partido Social Liberal é o mais fiel a Temer.
O partido de Bolsonaro, é o mais fiel aos projetos do governo Temer. Votou mais vezes com Temer que o próprio PMDB e PSDB. Segundo levantamento da consultoria Arko Advice mostra que os parlamentares da sigla – atualmente oito, incluindo Bolsonaro – acompanharam o governo em 67,73% das votações. Em seguida aparece o MDB (64,34%) e depois aparece os tucanos do PSDB com 63%.
Isso significa que na pratica, o partido de Bolsonaro é um dos sustentáculos do governo corrupto de Michel Temer. O PSL votou juntinho com o governo na venda da Petrobras, na PEC que congela gastos com saúde e educação, a favor da reforma trabalhista, a favor das terceirizações… Ou seja, o PSL de Bolsonaro votou em projetos que atacam direitos dos trabalhadores, não é possível acreditar que com essa pratica de hoje, será diferente amanhã. Se você defende que os trabalhadores não podem ser prejudicados pagando o custo da crise, e que os ricos e poderosos que paguem pela situação que está hoje o país, não será votando em Bolsonaro que isso vai acontecer. A própria atuação de seu partido mostra que temos razão no que estamos falando.
Ou seja, se a maioria da população brasileira desaprova Temer porque não simpatizam com os projetos de seu governo, o PSL, é um dos partidos que ajudou a aprovar todos os projetos de Temer. Como acreditar que o partido de Bolsonaro é uma alternativa real a tudo de ruim que acontece hoje no país?
Além disso, todos os partidos que Bolsonaro teve passagem estiveram envolvidos em escândalos de corrupção. Na eleição de 2014, o PSL ( atual partido de Bolsonaro) recebeu financiamento das empresas investigadas e condenadas na Lava Jato, operando assim, as mesmas práticas de todos os partidos. Foram mais de 300 mil reais em doações vindos de construtoras como Queiroz Galvão e Odebrecht. Esses dados são públicos, ver em:
http://meucongressonacional.com/lavajato/partidos/PSL
Conclusão:
Antes que você diga que esse texto é de um petista incorrigível. Quero contrariar o padrão, nunca fui petista, ajudei a dirigir greves contra governos do PT, embora defenda que Lula tem o direito de disputar a presidência da república, não votarei em nenhum candidato do PT nessa eleição. Mas acho que todo mundo que está preocupado com a situação que está o país precisa abrir o dialogando com tod@s, inclusive com quem está pensando em votar na ultra direita. E uma boa iniciativa é começando em demonstrar que Bolsonaro é uma farsa midiática.
Seja esperto, não deixe se seduzir por um discurso que não aguenta um simples estudo e uma breve analise dos fatos. Está mais do que provado que Bolsonaro não é diferente de tudo que está aí, que os seus parceiros carregam ideias que não são novas, que já foram testadas e não passaram na prova da história.
O Brasil não vai mudar pra melhor com um governo que quer privatizar o patrimônio público, destruir direitos sociais, que quer você trabalhando até morrer com a reforma da previdência, que quer resolver o problema da violência com mais violência e que vai fortalecer a campanha contra as mulheres, negras/negros e a comunidade LGBT.
Pense nos seus amig@s, nos seus filh@s e na sua família, veja a história do nosso país, abrace a ideia de um país com diversidade e sem preconceito, reflita sobre a importância de termos um país com menos guerra social e mais empregos, com menos murro na mesa e mais ideias, com mais oportunidades para os mais pobres e mais obrigações para quem é rico. Se você é trabalhador ou pequeno empreendedor e sabe que até hoje os governos estão a serviço dos ricos e poderosos, por tudo que explicamos ao longo desse texto, é possível perceber que Bolsonaro não será diferente.
(Gibran Jordão, membro da Fasubra, integrante da Resistência, adepto das ideias de Liev Davidovich Bronstein, “nom de guerre” Leon Trotsky. É de Goiás e radicado no Rio de Janeiro)