Qual será minha postura nas próximas eleições
Diário da Manhã
Publicado em 20 de março de 2018 às 01:06 | Atualizado há 7 anosNeste ano eleitoral, venho relendo os escritos daquele que é considerado, por muitos, como um dos maiores pensadores políticos do século vinte: o italiano (de saudosa memória) Norberto Bobbio.
Do seu clássico “Os Intelectuais e o Poder” extraio algumas reflexões que serão úteis para o que tenho a dizer nestas linhas.
Primeira: “O intelectual tem o dever de iluminar a opinião pública a respeito dos perigos que ameaçam a conservação de alguns bens supremos, aos quais a sociedade civil não pode renunciar.”.
Segunda: “A tarefa do intelectual é a de agitar ideias, levantar problemas, elaborar programas ou apenas teorias gerais; a tarefa da política é a de tomar decisões.”.
Terceira: “Os intelectuais exercem sua influência sobre o poder estando fora dele, elaborando propostas que poderão ou não ser acolhidas, mas que eles próprios consideram úteis para melhorar as relações de convivência presididas pela atividade política.”.
Bobbio nos ensina como devem se portar os intelectuais frente ao poder que, frequentemente, tenta cooptá-los como instrumento de uso de seus próprios fins: o político.
A meu juízo, o intelectual que age dessa maneira perde a capacidade de ver o todo, vez que se encontra amarrado à parte que o cooptou. Nesse caso, ele se torna um instrumento propagador das ideias de um partido político. Ideias que nem sempre expressam a realidade dos fatos.
Além disso, na condição de prisioneiro de uma situação, o intelectual perde as duas únicas armas que, enquanto intelectual, ajudam a opinião pública a decidir sobre o rumo a seguir. Falo da crítica e do elogio.
A realidade nos mostra qual é o destino dos intelectuais engajados nas ideias que são obrigados, pela emoção e não pela razão, a defenderem: o ostracismo e o descrédito. Que o diga a professora da Universidade de São Paulo (USP) Marilena Chauí e o intelectual que migrou do PT para o PSDB, Francisco Weffort.
Aqui em Goiás, terra da pseudointelectualidade, o que mais observo é o culto à esperteza de certos “intelectuais” que mudam suas próprias ideias, dependendo do inquilino que esteja a habitar a Casa Verde. Pura falta de fé, que leva à falta de caráter.
Posto isso, evidencio qual será minha postura nestas eleições que se aproximam. Não esperem de mim adulação aos poderosos. Quem age assim nada constrói. Não ilumina a opinião pública em torno das decisões que ela deve tomar em relação ao futuro do Estado.
Procurarei observar o processo político fora dele, desse modo, usando as duas armas que disponho como articulista formador de opinião pública: a crítica e o elogio.
Defender o MDB sem evidenciar os erros do PSDB ou vice-versa é mascarar a realidade. De Ari Valadão a Marconi Perillo, houve muito mais erros que acertos. Não abrirei mão da crítica para denunciar falsos profetas e seus enganadores discursos políticos.
Encaro a política como Bobbio define os intelectuais do dissenso. Ou seja: aqueles tipos de intelectuais que consideram que “o seu reino não é deste mundo e creem que, uma vez deram a César o que é de César como cidadãos da cidade terrena, sua tarefa passa a ser, como intelectuais, a de dar a Deus o que é de Deus.”.
(Salatiel Soares Correia, engenheiro, bacharel em Administração de Empresas, mestre em Planejamento Energético. É autor, entre outras obras, de A Construção de Goiás)