Opinião

Quando a ignorância gera colapso

Redação DM

Publicado em 11 de outubro de 2015 às 22:57 | Atualizado há 10 anos

Não tem importância valeu, mesmo assim. Tive um colega de trabalho a quem solicitei me ajudasse a realizar um objetivo que visava manter nossa instituição na estrutura da autossuficiência. Entramos no Jeep e fomos à busca dos materiais e apetrechos com que realizaríamos o ideal.

Enquanto eu cuidava da parte burocrática, da parte legal da coisa, o funcionário, jovem astucioso, amigável e trabalhador, utilizou minhas ideias e meus planos e com os mesmos meios concretizou, silenciosamente, o grande objetivo, logrando ficar com o plano, embora materializando-o com os seus recursos. Justificou que apareceu a chance e ele a custeou para seu proveito, uma vez que não tinha inspiração do que faria para si mesmo no futuro.

Entendi e o ajudei a terminar sua tarefa, visando que me ajudasse na minha, que seria a mesma, só que, então, em tempo ainda por vir.

Senti-me de início que fui logrado. Contudo, pensei e entendi que se foi bom para ele, seu futuro e de sua família, deveria sentir-me feliz por ter sido o criador da ideia e consolidado o futuro de uma família.

Não nos sintamos desiludidos quando algum projeto fugir de nós e cair noutras mãos. Não era a sua vez. Ou tal empreendimento não devia ser para você. Outras obras o aguardam noutras ocasiões. Foi assim comigo.

Chegara o tempo em que tarefa bem mais difícil surgisse à minha frente pedindo minha experiência e meu concurso. Com paciência e ânimo fortalecido, consegui erguer a tarefa que me chegara e que ora está dando frutos de alegria e bênçãos com fartura.

É possível que a gente sinta desiludido na hora da grande luta e da mais cruciante provação. Basta que não descreia do ideal em momento algum, que forças e recursos chegarão a seu favor, facilitando seu objetivo e refazendo suas esperanças.

Na verdade, você está exatamente onde deve estar na companhia que lhe serve e você a ela.

Não cruzamos o destino com o de outrem casualmente. O trâmite da natureza ou a força da vida nos coloca no ambiente propício à nossa evolução e necessidade. Assim como não cai um fio de seus cabelos a não ser pela vontade de Deus (ou natureza).

Quem lamenta muito não sabe o que faz. O motivo de suas queixas pode ser o remédio que sua pessoa necessita. Pensa nisso e siga em frente.

Certa vez, alertado por uma criança, vi um punhado incalculável de larvas que tinham invadido um pé de manacá, e a criança pegava naquelas “coisinhas” e eu sem saber o que eram. “Será que esses bichinhos vão matar essa planta?” Indagou o garoto. Fui ao quarto de despejo e peguei o Baygon, com o qual eliminei a praga de larvas. No entanto, enquanto eu fazia tal limpeza, verifiquei no tronco do manacá um pequeno casulo de onde saia uma daquelas larvas. Chamei o menino — “Biriba, venha ver!”

Vimos quando o coró saiu do casulo envolto num liquido que lhe dava uma coloração bonita — assim, alaranjada e preto — mas notei que ele secava à luz do sol e aquela membrana que o cobria abriu-se formando duas asas de bela borboleta!

— Que lástima, Biricobico! — disse eu ao garoto — não percebeu?

— O que, tio?

— A ignorância quando predomina gera o colapso. Observa Clebinho: essas larvas sobre as quais borrifei veneno são essas belas borboletas de que tanto gostamos.

Nunca mais voltamos a borrifar veneno no que desconhecemos. Porque é horrível depredar o nojento, pois todo ser, quando nasce não aparenta a beleza ou importância que, ora, não tem. Mas que terá. O caso da borboleta, que tantas vezes fotografamos e até colecionamos devido ao seu encanto.

A vida ensina desde que você se dispõe a aprender. Você não está na vida por mera condição anacrônica, por mera casualidade. Você é válido para o próximo ou para a fauna ou flora que o cercam.

Não lamente se alguém o malogrou. Se alguém quis prejudicá-lo. Às vezes a intenção dele era ajudá-lo como ocorreu comigo com respeito à defesa do pé de manacá. Querendo protegê-lo, privei a primavera das flores aladas que são as borboletas no meu quintal.

Depois do erro, não se inquiete. Guarde o aprendizado e o execute na próxima ocasião.

Colhendo uma folha seca caída ao chão, o passarinho levava a cobertura que dava sombra à formiguinha que ali descansava e que se foi, depois de lhe tirada a sombra.

A sabedoria está em tudo, a toda hora e com todos nós. Porque a solução está nos olhos do saber.

 

(Iron Junqueira é escritor)

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