Quando conheci o Encantado
Diário da Manhã
Publicado em 22 de novembro de 2016 às 01:29 | Atualizado há 8 anosQuando ainda estava na atividade PM, comandei o policiamento ambiental do Estado por mais de um ano. Nesta época, aprendi coisas que mudaram minha vida de forma definitiva. Aprendi que o policiamento ambiental não é uma atividade de policia qualquer. Não se pode servir naquela Unidade como um policial comum. É preciso ter algo mais que te vincule à vida não como dom individual, mas como doação universal. Também aprendi que o conceito de conservar, que é muito diferente de preservar, não é um conceito impessoal. Não há que se pensar mais em salvar a natureza, mas salvar a própria espécie humana de sua autodestruição. Descobri que é possivel e necessário conviver com o ambiente, sabendo que somos todos, nós mesmos, parte ativa e integral deste mesmo ambiente. Descobri que viver não existe: o que existe é conviver, pois quem não convive não pode viver.
Foi no Comando ambiental que conheci o Encantado, Área de Preservação Ambiental de iniciativa do meu amigo Batista Custódio, em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente do Estado. Fiquei de tal forma maravilhado com o que vi, que na época escrevi a respeito:
“Ao aportar na APA do Encantado, descobri que encantado não é um lugar, mas um estado de espírito. Nele você se enleva e alcança um nível tal de espiritualidade onde o que era natural deixa de existir para se experimentar o sobrenatural. É a presença de Deus, único e verdadeiro, que nos proporciona uma realidade que, certamente não é a glória nem a perfeição que está reservada para nós, mas que, sem dúvida, nos deixa antever o que Ele tem preparado para aqueles que nEle creem. Eu pude ver Deus, pois certamente não há maravilha que possa nos encantar da forma a nos abstrair se não for talhado pelas mãos do Criador. A natureza em seu estado natural, onde o homem deixa de fora a ambição para cumprir seu primeiro desiderato: cuidar do jardim do Senhor. Não quero ser profano, mas quando deixa sua vida mundana para trás, vi que o Batista Custódio que conhecemos já não existe, para prevalecer nele o Adão que recebera tal incumbência. Paraíso intocável é o que vi. Eu, na minha pequenez, faria dinheiro daquilo tudo. Ele preferiu manter como foi criado, “dando uma banana” para o lucro desenfreado e, por vezes, destruidor. A isto, Deus recompensará, como compensou com a inocência.”
Iniciativas como esta, da criação de uma área de preservação onde outros veriam lucro certo, não pode ser ação egoista, ou vaidosa, ou arrogante, tão pouco prepotente. Ações assim não se materializam se não vislumbrar algo maior, e algo que esteja projetado para fora, para os outros, para o coletivo. O Encantado é uma reserva, onde a natureza se reserva para ser apenas apreciada.
O mundo vem mudando. Eleições nos EUA, Brexit na Inglaterra, manifestações no Brasil. Tudo isto não são acontecimentos fortuitos, aleatórios e despropositados. Refletem engajamento e mudanças de paradigmas coletivos. Já se apercebe a noção de que, o conviver é maior que o viver e que somente convivendo, isto é, participando, a individualidade adquire sentido impactando a vida verdadeira que é a vida em conjunto.
O Rei Davi, quando ganhou o terreno de Araúna para edificar um altar ao Senhor, retrucou que pagaria pelo terreno já que: “não daria a Deus o que não lhe custara nada” (este texto está em 1Crônicas 21). Batista Custódio é um homem que faz a diferença para Goiás, para o Brasil, e para o mundo. Não porque seja melhor ou maior que ninguém. Mas porque se fez pequeno e resolveu doar à posteridade um legado que lhe é caro e precioso. Doou um presente que Deus lhe colocou nas mãos. E estou certo que só pode fazer isto porque Deus já conhecia seu coração. A APA do Encantado é um legado para toda a Humanidade. Um pedacinho do Céu encastelado entre Goiás e o Mato Grosso. Um lugar onde a naureza vive a sua natureza. A este respeito, humildemente escrevi naquela época:
“A inocência
Do Sonho lhe veio João. Do Céu lhe veio Maria.
Tão próximo da perfeição, já vivia como queria.
Sem a tristeza, nem solidão, não tinha pressa, nem ambição.
Mas tinha sincera alegria.
A inocência vive naquele lugar.
Dela ns vem o encanto. Criança a passear, em medo,tão pouco espanto.
Nada há para comprar; tão pouco de se subtrair;
Levamos daquele lugar, somente o que se pode sentir.
Resumindo meu pequeno texto, na vida de dois meninos:
Um chamado João, a outra de nome Maria,
Que vivem todos os seus dias,
amando o que não tem preço.”
Para concluir, quero reproduzir aqui parte do que disse o meu amigo Coronel Edinilson Nicolau, sobre a Natureza:
A natureza da vida está na natureza da vida de cada um.
Natureza viva, natureza morta
Natureza certa, natureza torta
O vôo dos pássaros.
Eu, vou de passo a passo
na linha da vida buscando espaço.
Espaço? Na selva de aço, na linha do tempo, assim o faço.
Sem destreza, talvez. Mesmo assim o faço.
Quando quero, espero.
Pela paz, corro atrás.
A paz existe para quem acredita…
Os sonhos também.
E quanto a natureza? Bem, a natureza…
Fiquemos com a natureza de alguém…
Arremato eu dizendo: A natureza do encantado e o encantado da natureza. O Encantado agora sou eu. O Encantado é você também.
(Avelar Lopes de Viveiros, coronel RR da PMGO)