Que país é este?
Diário da Manhã
Publicado em 26 de março de 2018 às 22:41 | Atualizado há 7 anos
Sou de um tempo em que um magistrado, de qualquer instância do Judiciário, era uma figura respeitável e inatacável como por exemplo o saudoso ministro do Supremo Tribunal Federal, Oscar Dias Correa. Tive o privilégio de ter uma convivência mais próxima com ele em virtude de laços familiares. Era conhecido do meu pai, advogado como ele, e sua filha Ângela é casada há mais de 40 anos, com meu primo-irmão Ricardo Fernandez Silva, Oscar Correa sempre foi uma figura admirável e respeitadíssima, nos meios jurídicos e políticos, pois militou por muitos anos na UDN. Não me furto em dizer que o ministro Carlos Veloso também é desta estirpe de respeitabilidade. Infelizmente hoje o que se vê é o fim da seriedade, da austeridade e, pior, da qualidade intelectual, com pitadas de estrelismo, aflorado principalmente depois que as sessões passaram a ser televisionadas, com todos querendo jogar e aparecer em defesa de seus interesses. O espetáculo de circo mambembe que viu no bate-boca de “suas excelências” Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso fez acabar com o respeito que ainda se tinha aos ministros do Judiciário. Para aumentar a revolta e o desprezo da população com o Judiciário, em especial o STF, o país vê estarrecido a sessão em que os ministros adiaram o julgamento do habeas corpus pedido pela defesa de Lula, claramente com o intuito de favorecê-lo, deixando evidente que o ex-presidente não será preso. Não se trata de querer a prisão de Lula a qualquer custo. O que se pede é simplesmente o tratamento isonômico entre os cidadãos. Ver ministros pressionando para apressar decisões sobre Lula, desconhecendo a situação de outros presos, entre eles Antônio Pallocci passa a todos nós a incômoda sensação de quitação de fatura. É de se registrar ainda que os Poderes Legislativo e Executivo em nada diferem do Judiciário e, com tantos escândalos, também já perderam o respeito popular. No caso dests dois, temos este ano a oportunidade de fazer a profilaxia. O outro, nem isto. E aí se vê como permanece atual a pergunta do saudoso governador Francelino Pereira, quando presidente da Arena: “que país é este?”.
(Paulo Cesar de Oliveira, jornalista e diretor-geral da revista Viver Brasil e jornal Tudo BH)