Quem não tem pecado atire a primeira pedra!
Redação DM
Publicado em 14 de março de 2016 às 23:54 | Atualizado há 9 anosUm símbolo muito forte no cristianismo é a cruz, utilizada em um ritual de espetáculo macabro para crucificação de bandidos que colocava em risco a integridade do império romano. Mas, foi nesse mesmo cenário que ocorreu a morte de um homem que é conhecido pela teologia cristã como Deus encarnado na figura de filho, portanto inocente de suas acusações. Sua morte, não somente cumpriu um propósito de redenção da humanidade em pecado, como também demonstrou o falível sistema jurídico humano, especialmente do império romano, estruturador do sistema jurídico atual. Esse mesmo Cristo, ainda como pregador, encontrou uma mulher flagrada em adultério e em quase fase de apedrejamento por uma população que se escondia por trás das pedras, para se justificar diante da opinião pública e da lei mosaica que legitimava o apedrejamento.
Essa população que mudou de tempo e espaço, mas continua com hábito semelhante, que só Freud seria capaz de explicar, como a projeção que é um mecanismo de defesa psicológico em que determinada pessoa “projeta” seus próprios pensamentos, motivações, desejos e sentimentos indesejáveis executados ou não executados, numa ou mais pessoas. Ainda a título de esclarecimento Peter Gay define projeção como “a operação de expulsar os sentimentos ou desejos individuais considerados totalmente inaceitáveis, ou muito vergonhosos, obscenos e perigosos, atribuindo-lhes a outra pessoa”. Sendo assim, alguém acusa para não ser acusado do que sua consciência lhe acusa. Em contra partida a esse processo de projeção, onde todos humanos utilizam em certa medida, estava Cristo naquele contexto cultural e político da adúltera, olhou para os eufóricos, enfurecidos apedrejadores e projetadores e com uma autoridade Divina Ele diz a celebre frase “Quem não tem pecado atire a primeira pedra.” Cada qual com seu pecado oculto, se fazendo justo diante da sociedade por ainda não ter sido pego em seu delito particular, saiu deixando sua pedra para traz. Jesus com sua atitude ensinou e também não julgou aquela mulher, disse vai e não peques mais. Demonstrando que os Justos não participam dos apedrejamentos, pois, esses momentos somente projetam no outro os pecados ocultos.
Diante desses ensinamentos do evangelho é que estou deveras triste com o cenário político no Brasil, compadeço com todos os brasileiros das dificuldades que estão passando, o Brasil sofre nas mãos de oportunistas desde a colonização, por isso não há nada de novo e ninguém mais culpado. Mas, não posso reivindicar um país mais belo se não sou digno de merecê-lo, pois isso já seria oportunismo e a história provou que oportunismo não edifica um país continental e diverso como o nosso. Nessas ocasiões de perseguição, união, é o tom do discurso, mas eu vou de prudência, prefiro não precipitar me unindo a movimentos de apedrejamento e condenar alguém ou um grupo para satisfazer o interesse de outra facção que esconde suas reais intenções na projeção, lutando por interesses particulares, em detrimento da nação.
Por isso, são nesses momentos que recordo do conselho “quando a esmola é de mais o santo desconfia” foi com esse adágio popular que aprendi a ser cauteloso. Como não é nova essa historia de líderes movimentando o povo para crucificar outro líder, usando de acusações que não passam de projeções. E ainda, porque no sistema político e jurídico que a humanidade constituiu só existe tentativa de condenação, quando o crucificado estiver sendo uma ameaça aos interesses do outro grupo. Por essa realidade, não me envolvo com nenhum apedrejamento.
Enfim, não acredito que o país será passado a limpo, tendo os brasileiros as mãos cheias de pedras, acredito sim que se for para fazer justiça vamos todos jogar as pedras fora, não somente os militantes e os que ocupam funções políticas, mas a população que não é inocente nesse processo. Cada um assume a sua culpa, vai e não peque mais.
(Pr. Sérgio Batista de Oliveira dos Santos, teólogo, mestre em ciências das religiões, pastor dirigente na Igreja Assembleia de Deus Ministério Fama Parque das Flores II e palestrante)