Queremos paz
Redação DM
Publicado em 11 de dezembro de 2015 às 20:56 | Atualizado há 9 anosNós, servidores da Segurança Pública do Estado de Goiás, queremos paz.
Nós, que lidamos todos os dias com a violência crua, nós, que enfrentamos e investigamos criminosos e seus crimes terríveis, queremos paz.
A sociedade brada por paz.
Nós, homens e mulheres servidores da Segurança Pública do Estado de Goiás, somos parte da sociedade. E queremos paz.
É claro que sempre haverá violência e crimes, situações que existem desde o início dos tempos e que se agravam em uma sociedade injusta e profundamente desigual, que deposita a população de baixa renda em bairros da perifeira, criando bolsões de pobreza e violência, uma sociedade que não optou pela educação de qualidade e por oferecer oportunidades aos jovens.
Queremos tranquilidade para atuar na profissão que abraçamos e para a qual nos preparamos, para servir à sociedade que nos paga. E para termos isso, precisamos, como qualquer outro profissional, de um mínimo de condições de garantir o sustento de nossas famílias. É por isso estamos lutando.
Já abrimos mão de muita coisa em uma negociação que durou meses com o governo do Estado para chegarmos a um acordo, em 2013, para reposição salarial, parcelada em quatro anos. Concordamos com algumas perdas para viabilizar a negociação, concretizada por meio de leis aprovadas pela Assembleia Legislativa e sancionadas pelo governador do Estado, o mesmo que agora enviou projeto ao Legislativo, que foi convertido em lei, adiando uma parcela de 12,33% para daqui a três anos. Três anos!
É muito tempo para homens e mulheres que arriscam a vida para executar sua missão. Especificamente em relação aos policiais civis, temos o 18º salário do País, estamos entre os mais mal pagos do Brasil. Nossa carreira há muito deixou de ser atrativa. Tanto é verdade que dos colegas que entraram na Polícia Civil nos dois últimos concursos, mais de 40% já saíram. Foram para outros Estados, que pagam melhor, ou migraram para outras carreiras.
Somos hoje uma Polícia Civil doente. Devido ao gravíssimo déficit de servidores – hoje somos 3.527, contando delegados de polícia –, com mais de 2,5 mil cargos vagos (quando o ideal seria um contingente de 10 mil servidores, só na Polícia Civil), os policiais estão trabalhando por dois, três. Essa situação é mais evidente nas Centrais de Flagrante, principalmente com os escrivães de polícia. Multiplicam-se, em proporção geométrica, os casos de doenças como LER, DORT, Síndrome de Burnout (esgotamento total), além de problemas psicológicos e psiquiátricos. É por causa de tudo isso que estamos lutando.
Goiânia é a 23ª cidade mais violenta do mundo, segundo a ONU. O Brasil é apontado como o 11º país mais violento do mundo pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A taxa de homicídios brasileira é de 32,4 por 100 mil habitantes, cinco vezes maior do que a média mundial, de 6,7, e nove vezes mais alto do que a países ricos, de 3,8. O que dizer, então, da situação de Goiânia, com seus mais de 45 homicídios por 100 mil habitantes?
Como conseguiremos baixar esses índices? Certamente, não existe um passe de mágica. Mas investir em segurança pública – passando pela remuneração e por melhores condições de trabalho para seus servidores – é inevitável.
Mais uma vez: é por isso que lutamos, é por isso que queremos paz.
Paulo Sérgio Alves Araújo é presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Goiás (Sinpol-GO))