“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21)
Diário da Manhã
Publicado em 11 de julho de 2017 às 01:03 | Atualizado há 8 anos
Ser mãe é uma escolha…
Consciente de que o desempenho do papel materno é permeado por dois planos: um divino e outro natural…
Assim, a fé e a razão gesta cada cena familiar…
Sorrisos… Choros…
Dor… Alegria…
O primeiro dentinho…
Os primeiros passos…
A primeira palavra…
Tudo registrado em dezenas de álbuns de fotos e vídeos…
Melhor ainda: tudo registrado na memória…
Ter mais um filho é uma escolha. Vamos dar um irmãozinho para o Pedro Henrique? Sim. Um irmão, um companheiro, um rival, um amigo… enriquecendo ainda mais as memórias das cenas familiares.
Ser psicoterapeuta é uma escolha…
Nunca duvidei do talento e da habilidade de ter compaixão com o sofrimento alheio. Sabe-se que há várias maneiras de ser honrado na vida profissional perante uma sociedade. É uma escolha poder caminhar na vida profissional nas buscas por um legado pautado no trabalho com amor. Talvez esta atitude contraria os holofotes de uma “sociedade do espetáculo”. Nesta perspectiva, quando o psicoterapeuta passa pelo pico da pior dor psíquica, parece que é o seu fim de carreira. No entanto, contrário do que se pensa: pode aumentar ainda mais a sua sensibilidade com os sentimentos alheios. Sofrer ou ver o sofrimento do outro é quase a mesma coisa. A dor do outro é a sua própria dor!
Podemos ter problemas na escola, no trabalho, nas amizades…
Mas, nada se compara quando temos problemas na família: é desesperador!
O luto de um ente querido abala a esperança. Ganha uma proporção tão grande…
A perda de um filho é inominável. Parece que é o fim…
Então, surge uma nova jornada: do luto à luta pela sobrevivência emocional.
É preciso prosseguir… A memória grita!!! Ainda somos o que fomos: uma família bendita! Agora, mais do que nunca, o amor tem ser maior que a dor. No manancial do amor está a fonte de restauração da alma. Traz o alívio e afasta toda desesperança…
A gente determina a vida pelo que damos atenção. Atenção! Somos uma família!
No plano natural, a morte do Pedro Henrique não é uma escolha. É uma violência social. Após esta agressão social, poderia ter escolhido o caminho do egoísmo. Só que, não consigo olhar para o meu próprio umbigo. Há dezenas de mães como eu, ou piores. Cada julgamento do serial killer é uma abertura das feridas provocadas nas famílias de Goiânia. É reviver o trauma. Todavia, conscientes de que faz parte do processo e, apegados na esperança: vai passar!
Agora, é pura violência simbólica, quando nos deparamos com esta possibilidade do serial killer lançar um livro. Pior ainda! Em tese, sabe-se que ele está em segurança máxima. Portanto, precisou que alguém, em nome da sociedade, fosse até lá para fomentar tal barbaridade.
Dizer não à essa atrocidade é uma escolha…
É mais do que escolher entre o bem e o mal: é uma escolha do que é justo.
Pode ser uma escolha da sociedade não aceitar mais essa violência.
Certa de que: a sua escolha tem um princípio pessoal, mas as consequências são sociais.
No plano divino, a esperança do reencontro, do abraço, do amor eterno…
Ter esperança é uma escolha de Vida!
(Claudia de Paula Juliano Souza, Mãe do Pedro Henrique, vítima do serial killer no dia 20/06/2014)