Questão de Justiça
Diário da Manhã
Publicado em 23 de janeiro de 2018 às 22:06 | Atualizado há 7 anos
Tipo a oportunidade de pertencer ao Conselho Estadual de Cultura por 21 anos – sempre que vencia meu mandato, era reconduzida. Como disse uma vez, fui colega de pessoas notáveis, como D’ Belkiss Spenciere, Lígia Rassi, Carlos Fernando Magalhães, Mara Augusta Callado, Wolney Arruda Unes Nely Alves de Almeida, Barioni Ortencio, Amália Hermano, Tânia Cruz, Pertenci à Câmara de Patrimônio Histórico e de Literatura. Muitos bons livros foram analisados e com alegria assisti vários autores iniciantes conseguirem a satisfação de terem sus livros editados.
Pena, que nosso estado, aliás o Brasil está de costas para o Brasil, como bem disse o articulista da Revista Veja: Roberto Pompeu de Toledo, quando comentou sobre meu 1º livro de Contos “A Friagem”. Então muitos escritores de valor são pouco reconhecidos, porque a maioria dos leitores brasileiros gosta do que vem de fora, nomes estrangeiros que nem sempre escrevem coisa que valha a pena.
Na Câmara de Patrimônio Histórico, consegui com apoio de meus pares, que a Capelinha da Santa Casa não fosse demolida. Quando a antiga Santa casa, cedeu lugar ao Centro de Convenções, a capelinha ficou firme, foi devolvida ao culto religioso e hoje acontecem casamentos, bodas, missas e é tão bem cuidada! Aliás, é uma linda Capela de Nossa Senhora das Graças!
O Parque Ecológico e o Jardim Botânico levaram respectivamente os nomes de Ulisses Guimarães e Chico Mendes. Um grande movimento foi feito por iniciativa minha no Conselho de Cultura. Tivemos o apoio Assembleia e da Câmera Municipal, época em que o vereador Hélio de Brito muito cooperou com essa luta. Na minha posse na Academia Goiana de Letras, meu discurso, em fins da década de 90, insisti exatamente sobre o Parque Ecológico que deveria levar o nome de Dr. Altamiro Moura Pacheco porque as áreas daquele local foram praticamente doadas por ele (faziam parte da fazenda DOIS IRMÃOS) pois o preço cobrado por Dr. Altamiro foi simbólico, com o pedido dele para que se conservassem as matas abundantes da região no Jornal Diário da Manhã no caderno de opinião, o batalhador pelas coisas na goianas, Walter Menezes, conselheiro permanente da Associação Goiana de Imprensa (AGI) escreve um minucioso artigo “Parque Ecológico Altamiro de Moura Pacheco” –um pulmão verde nas cercanias de Goiânia.
Walter Menezes, reproduz uma carta de minha autoria para O Popular de 1º de Junho de 1.997. Diz o seguinte: “Os grandes benfeitores da humanidade não possuem latitude nem língua ou nação – transcendem pertencem ao mundo, por isso não vejo motivos para se preocupar com o nome de Ulisses Guimarães, trancando-o pelo Dr. Altamiro de M. Pacheco. Por que? Ulisses é do País e existem inúmeras homenagens à sua memória. É patrimônio brasileiro. Altamiro é nosso, doou grandes áreas de terra para o Estado e para Goiânia (o Aeroporto Santa Genoveva, leia o nome de sua mãe Dª Genoveva). O Parque Ecológico ele doou praticamente (preço mínimo com disse simbólico, com a condição de preservar as matas nativas, as aguas, os animais – nada é mais justo que ele receba uma homenagem de sua terra de berço.
Onde Dr. Altamiro será homenageado, se não o fizermos? Fora daqui, há algo com seu nome? Por isso, é questão de justiça, defender o nome de Altamiro para o Parque Ecológico – é uma forma de mostrarmos gratidão e sobretudo, defendermos nossa identidade e goianeidade, ambas profanadas toda hora, todo dia. Assinado: Augusta Faro Fleury de Melo
Não somente batalhei como tive muitas pessoas escrevendo aos jornais defendendo a ideia como caso de justiça colocar o nome de Dr. Altamiro. Há alguns intelectuais da terra que se dizem “autor isolado” dessa luta em prol da mudança do nome de Ulisses Guimarães por Dr. Altamiro. Isso não existe! Pretensão desses intelectuais de ser “autor isolado” !!!
O mesmo aconteceu com o Jardim Botânico que se chamava Chico Mendes. Amiga do coração, Drª Amália, moradora da rua 24 centro, conservava em seu jardim, coleção imensa de orquídeas. Há uma orquídea que leva o nome “Amália”. Por que? por que Drª Amália, estudou, descobriu essa nova orquídea, até então desconhecida, uma raridade!
Amiga pessoal de Burle Max, Jorge Amado e Zélia Gatai, que hospedaram na casa de Drª Amália quando a visitaram e ao seu marido Dr. Maximiano Mata Teixeira. A casa de Drª Amália era um museu de porcelanas, pratarias, antiguidades – além disso, seu quintal foi um jardim com temperatura menor que o restante da cidade. Tantas árvores, caramanchões, estufas de mil plantas, imensidão de orquídeas deveria ter sido como batalhamos “Museu Amália Hermano”. Por incrível que pareça, pessoas da família de Drª Amália, demoliram a casa, o jardim enorme e construíram um pequeno prédio de apartamentos. Por isso, é mais que justo que hoje o Jardim Botânico seja chamado Amália Hermano. É pena que quando se referem ao Jardim Botânico Amália Hermano, usam apenas o nome dessa orquidófila de valor que foi Drª Amália Hermano Teixeira.
Na câmara de Patrimônio Histórico idealizei na Cidade de Goiás com apoio de meus pares, a retirada do desenfreado garimpo, que envenenava o Rio Vermelho, matando a vida das águas. Onde é o Banco do Brasil era um prédio modernoso, muito destoante do casario colonial do centro Histórico (antes era linda casa colonial, posteriormente comprada pelo Banco do Brasil e lógico, destruída). Fizemos proposituras, pedindo que a direção do referido Banco, reformasse o citado edifício, dando contornos contornos coloniais do mesmo. O Banco do Brasil conseguiu reformar a fachada da construção, mas longe do ideal.
Também fiz proposituras no sentido de que as casas onde nasceram ou viveram vultos de destaque na história de Goiás, fossem colocadas placas nomeando as mesmas. Assim por exemplo, onde viveu o ilustre Professor Francisco Ferreira que elaborou o “Dicionário Analógico da Língua Portuguesa” – considerado ÚNICO nessa modalidade no Brasil, recebesse a placa indicativa. Na citada residência do Professor Francisco Ferreira. Assim aconteceu na casa de Rosarita Fleury, autora do famoso romance “ELOS DA MESMA CORRENTE” que recebeu da Academia Brasileira de Letras, o prêmio Júlia Lopes de Almeida, fato único ainda hoje.
A casa onde nasceu Dr. Pedro Ludovico Teixeira recebeu sua placa. Assim aconteceu com a casa onde nasceu o compositor e musico Professor Joaquim Edson Camargo, pai da saudosa Ely Camargo reconhecida e aplaudida em todo o Brasil. Assim aconteceu com Professor Alcide Jubé de inesquecível memória. Assim acontecer também na casa de Regina Lacerda mãe do folclore goiano.
O magnífico escultor Veiga Vale com suas imagens de leitura delicada traços formosos, um dos maiores do Brasil, recebeu a placa indicativa na casa onde residiu. Porque Veiga Valle é pouco reconhecido? Porque veio de Goiás e nosso estado é visto no Sul principalmente como um estado sertanejo, rural. Sabe-se que Veiga Valle em harmonia, delicadeza é muito superior ao Aleijadinho. O escultor mineiro teve a seu favor por ser um doente de suas mãos, e esculpindo com dificuldades suas enormes estátuas. É reconhecido no mundo porque é divulgado no miolo Minas Gerais sabe mostrar seus ilustres para o Brasil e o mundo. Também com problemas de saúde e imensidão de suas obras Aleijadinho ganhou o PÓDIO.
O local da 1ª Farmácia de Goiás nos moldes atuais, foi do Professor farmacêutico e um dos fundadores da Escola de Farmácia da nascente goiana, Professor Agnelo Arlington Fleury Curado, recebeu na fachada da casa sua placa. A enorme casa do comendador Antônio de Pádua Fleury que foi presidente da Província de Goiás e fez inumeráveis benefícios, tais como iluminação a gás, construção de pontes e inúmeros feitos que marcaram seu governo recebeu sua placa. A casa ainda está conservada e se localiza na Praça do Largo do Chafariz.
Não podemos esquecer que o idealista, batalhador, escritor Elder Camargo de Passos escreveu maravilhoso compêndio estudioso de Veiga Valle e seus trabalhos rico em detalhes e perfeito em suas leituras. A inesquecível e ativa Antolinda Baia Borges, a guardiã do Museu de Arte Sacra, cuidadora dos bens históricos de Vila Boa, é uma dinâmica mulher que ama o museu que é depositário de maravilhosos trabalhos do inesquecível Joaquim Jose da Veiga Valle.
Profª Marlene Velasco merece nosso aplauso por zelar com dedicação a preço do museu Casa de Cora. É questão de justiça que essas pessoas sejam reconhecidas, reverenciadas pelo prestimoso e incansável trabalho que prestam à Velha Capital. Sem elas, nossa cidade Goiás perderia muitíssimo, pois são perenes zeladoras dessas riquezas imorredouras da Cidade eterna.
O Corpo de Bombeiros da cidade de Goiás, foi criado por propositura minha no conselho de cultura. Como uma cidade histórica com belos sítios e museus, especialmente o museu de Arte Sacra – se acontecer um incêndio, as casas coladas umas nas outras como todos sabem, haveria tempo de chegar socorro de Goiânia? O Corpo de Bombeiros socorre não apenas incêndios como sabemos é múltipla a ação dos bravos componentes.
Tem mais: o Corpo de Bombeiros com sede na Velha Goiás socorre cidades vizinhas, fazendas chácaras, povoados – em mil e uma necessidades. A chácara Baumann onde viveram os escritores Sebastião Fleury Curado e Augusta de Faro Fleury Curado (meus avós paternos). Sebastião foi constituinte de 1891, deputado federal, membro da AGL, formado como seu pai, sogro e avô na Faculdade São Francisco (Ancadas) em São Paulo, era atuante e combativo lutando sempre em defesa dos humildes e necessitados, lutou muito em favor da abolição da escritura. Escreveu os livros “3 Memórias Históricas e Memórias Histórias” – Dª Augusta sua prima escreveu “Devaneios” crônicas e contos “Ramalhete de Saudades” poemas e crônicas ainda residente em São Paulo. Da viagem do Rio a Goiás escreveu um diário “Do Rio de Janeiro a Goiás 1896 – A viagem era assim” – nessa vivenda (a 1º casa de tijolos da cidade, onde Sebastião mandou construir uma olaria para fabricar os tijolos) tema placa colocada ainda no governo de Henrique Santilho, outra placa colocada “in memoriam” do filho caçula do casal, e onde nasceu o Professor Augusto de Paixão Fleury Curado (meu pai) um dos fundadores em 1932 do Instituto Histórico de Goiás essa placa foi mandada colocar pelo então presidente do Instituto Histórico e da Academia Goiana de Letras, o inesquecível Jose Mendonça Telles.
A chácara Baumann foi inaugurada em Junho de 1903. Lá está ainda hoje a ampla casa sobre um outeiro, linda e bem cuidada onde os netos, bisnetos e tetranetos passam temporadas, hospedando frequentemente para curtir a vista maravilhosa que descortina da Serra Dourada e da monaria silenciosa onde a lua cheia brota enorme e prateada cobrindo as casas e o rio como um manto de gase nas madrugadas silentes. No arquivo do Conselho Estadual de Cultura, cuja presidente atual é Prof. Nancy Ribeiro estão guardadas as proposituras de nosso trabalho por 21 anos de amor a nossa terra, seres ilustres personagens, seus feitos e lutas.
A homenagem à histórias e aos vultos da cidade, que marcaram a arte, a história, a cultura de nossa gente, nobre e humilde devem ser divulgados com apoio da verdade, reconhecidos, celebrados. É questão de Justiça!
Obs.: E que “conselheiro isolado” não se diga autor sozinho de trabalhos que foram realizados em equipe.
(Augusta Faro Fleury de Melo, Poeta, escritora, membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Academia Goiana de Letras e pioneira da poesia infantil em Goiás. Tem os livros “A Friagem” e “Boca Benta de Paixão” ( contos e adultos) traduzidos em inglês, espanhol e alemão)